Martinho Cruz, mentor do “Silentium Project”.

Martinho Cruz, jovem estudante do 11º ano do curso de Línguas e Humanidades, criou o “Silentium Project” que consiste no trazer aquilo que as pessoas sentem no mundo do silêncio para o mundo exterior, através da arte. O projecto já tem relevo internacional e o seu criador quer que esta seja uma plataforma de referência para a partilha de criação artística a nível global.

Primeiro de tudo, quem é o Martinho Cruz? Eu, Martinho Cruz, sou acima de tudo um ser humano apaixonado pelo que existe de mais infinito na vida: as experiências, as relações e os sentimentos de que destas suscitam; são o meu alimento e a minha única razão de viver. Fascinado com o mundo oculto dos sentimentos, trabalho para concretizar a visão que tenho de uma sociedade mais consciente de si mesma e do seu próprio sentido de existência. Dizem que o que define uma pessoa é se age de acordo com o seu coração ou pensamento racional: no meu caso, não ponho de parte o poder da mente, mas o primeiro passo é sempre intuitivo. Não obstante a minha visão um pouco alternativa (da qual me orgulho bastante, confesso) daquilo que me rodeia, sou ainda um estudante do Ensino Secundário, mais concretamente, estou a terminar o 11º ano do Curso de Línguas e Humanidades. Mas não acredito que seja o meu ano de escolaridade ou o curso (ou a inexistência dele) que definem aquilo que sinto e sei. Aliás, apesar de perceber que as intenções do sistema de ensino vigente na maior parte do mundo ocidental são as melhores, sinto que a forma como é efectuada a educação segue sobretudo uma tradição e não o ensino propriamente dito. A Escola é um estabelecimento com tanto potencial, que penso que está a ser mal aproveitado, e também gostava de poder fazer algo quanto a isso.

Em que consiste o Silentium Project? O “Silentium Project” nasceu de uma necessidade. A certo ponto da minha vida, vivia emoções com tanto poder que eu tive que encontrar uma maneira de as poder transformar em algo real, algo visível. Recorri instintivamente à escrita e logo reconheci que através dela era capaz de expressar sentimentos e pensamentos que por vezes nem eu próprio reconhecia que sentia e pensava. Achei que o que eu conseguia fazer através da escrita era tão especial que queria que mais pessoas o pudessem fazer também. Criei então o “Silentium Project”, que tem como objectivo principal fazer com que as pessoas tragam aquilo que sentem do mundo do silêncio para o mundo físico e deste modo entenderem-se melhor a elas próprias. O que fazemos actualmente é, por um lado, motivar as pessoas a recorrerem à criação artística de qualquer modo – cinematografia, escrita, música, fotografia, dança, outros – para “explicarem” aquilo que se passa no seu interior, e, por outro, partilhar as melhores criações artísticas que recebemos com a nossa comunidade global. Porém, com o crescimento que temos verificado num espaço tão curto de tempo, não tardará que façamos uma expansão para muitos outros campos de intervenção, sempre com o mesmo objectivo em mente.

O silêncio é a base. Como podem as pessoas utilizar esta ferramenta?Vemos o silêncio não como a ausência completa de som, mas como um mundo que cada um de nós possui, onde se escondem os sentimentos e os pensamentos que nunca são transmitidos para o exterior. Trata-se, pois, da base da espécie humana, já que é o que se encontra neste mundo pessoal que guia inconscientemente todas as acções e crenças de todas as pessoas. A arte, contudo, tem o poder de ser o modo de transição destes elementos pessoais e tão secretos para a vida. Será que um escritor diria as palavras que escreve para si numa conversa com um amigo? Será que um músico comunicaria com a sua família a dor que transmite na sua voz? Será que um cineasta teria a coragem de fazer uma crítica à sociedade sem ser através de um filme seu? Tenho a certeza que não.

Tem um website onde os internautas podem partilhar os seus sentimentos em forma de arte. Esta é uma ideia um pouco revolucionária, qual tem sido a reacção? Assim que esta ideia é comunicada a alguém, essa pessoa consegue ver a importância de trazer o seu próprio silêncio para a vida. Temos tido o apoio de centenas de pessoas provenientes de todos os continentes. Temos inclusivamente o apoio de muitos artistas, como músicos que já actuam nos maiores festivais de música norte-americanos, por exemplo. Um dos nossos maiores casos de sucesso é termos tido um papel muito importante na obtenção de um contrato com uma editora para um escritor da Nigéria que publicamos semanalmente na nossa plataforma.

As pessoas são actualmente capazes de se desinibirem e mostrarem um pouco mais de si? Acredito que, com o novo mundo digital em que vivemos, as pessoas têm mais coragem de se desinibirem e mostrarem mais daquilo que realmente sentem – e essa é uma mais valia das redes sociais e da Internet em geral: talvez pelo facto de algumas relações que noutros tempos não tinham a oportunidade de existir se tornam agora em relações superficiais, as pessoas sentem-se mais confortáveis a expor o seu lado sentimental ao mundo. Contudo, todo este processo está dependente do papel da arte, já que é esta que se assume como porta-voz do nosso lado íntimo, daí lhe atribuirmos tanta importância.

O que espera que este projecto se torne? Tenho uma visão ambiciosa para o “Silentium Project” e estou disposto a fazer o trabalho que a concretize. Vejo o “Silentium Project” como a plataforma de referência para a partilha de criação artística a nível global, não só para principiantes tentarem a sua sorte e terem a sua chance no mundo artístico, mas também para os músicos, escritores, cineastas, fotógrafos mais conceituados recorrerem aquando do lançamento das suas novas obras-primas. Para além disso, vejo o “Silentium Project” igualmente como fundador de uma mentalidade e pensamentos específicos que inspirem as populações a serem mais transparentes para com quem os rodeia na sua vida diária.

Como se pode participar no “Silentium Project”? Para quem quer participar no “Silentium Project”, basta entender o seu mundo do silêncio e descobrir, por erro e tentativa, aquele que é o melhor modo de o transmitir para os outros. O maior erro que as pessoas vulgarmente fazem quando tentam criar algo é procurar a perfeição – não se deve ter medo de errar, pode-se sempre começar de novo; o que é necessário é sermos nós próprios com a nossa arte e deixarmo-nos ir. Se “der asneira”, tentamos novamente!

Onde é que as pessoas podem encontrar o seu trabalho? Actualmente, pode-se encontrar o “Silentium Project” no website www.silentiumproject.com, onde publicamos as melhores criações artísticas que nos são enviadas assim como todas as actualizações deste movimento. Podem também encontrar-nos, de uma forma mais próxima e pessoal, nas redes sociais Instagram, YouTube e Facebook: basta pesquisar por “Silentium Project” e podemos conectar-nos! É uma experiência que vale a pena… E o que somos nós senão o conjunto das experiências que vivenciamos?

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