Foto de Arquivo
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Uma equipa de investigadores vai permanecer três dias a cem metros de profundidade numa gruta do concelho de Ourém, para estudar vestígios humanos e animais com vários milhares de anos encontrados no local.

“É uma intervenção arqueológica (…) totalmente inédita em território português, porque vamos pernoitar e ficar durante três dias”, explicou à agência Lusa Alexandra Figueiredo, professora do Instituto Politécnico de Tomar e uma das coordenadoras da iniciativa.

A missão, que decorre nos dias 12, 13 e 14, no Algar da Malhada de Dentro, no subsolo da freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias, no Bairro, em Ourém, envolve uma equipa de 15 pessoas, entre arqueólogo, conservatório, antropólogo, espeleólogos e elementos que garantem a segurança.

Segundo Alexandra Figueiredo, a expedição é sequência da descoberta feita por espeleólogos há cerca de um ano.

“Abriram uma nova galeria e descobriram novos corredores que foram dar a uma sala a 80 metros de profundidade”, parte de “um conjunto de galerias com quase cem metros, numa cavidade que tem quase dois quilómetros de extensão”.

Nessa sala, os espeleólogos “viram logo uma parte de uma face de um crânio”.

“E entraram em contacto connosco”.

Os arqueólogos foram ao sítio e encontraram “um amontoado de ossos humanos e outros associados a animais”. 

Uma primeira análise, carente de confirmação científica, aponta para vestígios do período Holoceno, entre os oito mil e os mil anos antes de Cristo. Os ossos humanos até agora encontrados são de ‘Homo sapiens sapiens’”, “adultos e não adultos”, mas há ainda muitas dúvidas.

“Como é que foi a formação do sítio? Porquê aquele sítio? De onde é que vêm [os ossos]? Ainda há muitos mistérios para o entendimento do que é que se encontra lá. Não conseguimos ainda ter nenhuma noção. Os ossos, quando forem extraídos, e a escavação do local vão permitir ter uma datação relativa mais aproximada”, admitiu a investigadora.

Em preparação há três meses, a expedição tem vários objetivos: retirar para a superfície os ossos humanos para estudo; realizar prospeções para identificar onde foram depositados os ossos originalmente; e procurar a entrada original da gruta, que é desconhecida.

A missão integra-se num projeto mais vasto, o MEDICI II – Memórias, Dinâmicas e Cenários da Pré-História à Época Clássica, que procura estudar cultos e rituais realizados em grutas e monumentos megalíticos.

Por isso, a equipa vai trabalhar também num monumento megalítico muito próximo do Algar da Malhada de Dentro, a Anta da Azurraga, o único do género conhecido em Ourém.

O plano tem um calendário para quatro anos que agora se inicia e que prevê a investigação da Lapa da Furada, na freguesia de Alburitel, outro monumento funerário encontrado em Ourém, com até 3.500 anos antes de Cristo, bem como a deteção de novos monumentos megalíticos.

A dias do início da expedição, Alexandra Figueiredo garante que no grupo, de que fazem parte pessoas dos 30 aos 50 anos, todos estão tranquilos e entusiasmados.

“É naturalmente uma aventura para nós contarmos aos nossos netos” porque, além da permanência durante três dias debaixo de terra, implica logo à entrada “descer um poço de 54 metros”, mas também fazer escalada, saltar entre paredes ou passar por aberturas apertadas onde só cabe um corpo – houve elementos na equipa que tiveram de fazer dieta para participar.

“Quando visitámos o sítio pela primeira vez, demorámos 12 horas só para ir e regressar”, descreveu a coordenadora, sobre a dificuldade do percurso até ao sítio.

Além do Instituto Politécnico de Tomar, coordenam o projeto a Universidade Autónoma de Lisboa e a associação CAA Portugal, entre outras entidades e especialistas nacionais e estrangeiros.

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