Aos oitenta e dois anos de idade faleceu na passada sexta-feira, dia 28 de Agosto, o exímio músico Carlos Velez, que se notabilizou como instrumentista de viola de fado, mas que, porém, integrou durante alguns anos a Orquestra Típica Scalabitana e também fez parte do Conjunto Musical “Xaranga Big”.
Carlos Velez – o “Mano Velho” como era carinhosamente tratado no meio fadista – nasceu em Lisboa a 18 de Dezembro de 1937, passando vindo a residir em Santarém muito cedo, aqui fazendo todo o seu percurso familiar. Era casado com D. Helena Lanceiro Velez, de cuja relação nasceram os três filhos do casal, que lhe haveriam de proporcionar a felicidade de três netos. Profissionalmente fez carreira na Força Aérea Portuguesa como controlador aéreo, de onde se reformou no limite de idade. Apesar de ser reconhecido como um dos melhores acompanhadores de fado, tocando para as principais figuras do meio, Carlos Velez nunca abdicou da sua profissão, posto que esta lhe proporcionava a estabilidade familiar, pelo que até à sua passagem à reforma tocou sempre como amador, roubando ao descanso e ao convívio familiar milhares de noitadas que ocupava a tocar acompanhando grande parte dos melhores fadistas de sempre.
Começou a tocar como autodidacta dedicando-se, preferencialmente, à música rock, sendo um grande apreciador do jazz e do flamenco, expressões musicais cuja interpretação tanto lhe agradavam. Até que descobriu o fado… Os seus atributos de instrumentista, exímio e versátil, singular no respeito pela cadência rítmica e na batida, ou balanço, verdadeiramente de eleição, Carlos Velez era o músico que qualquer fadista desejava ter como acompanhador.
A vivência na Caseta dos Marialvas, durante muitas edições da Feira do Ribatejo, de tão grata memória, e a sua ligação ao Restaurante “O Castiço”, e mais tarde ao “Mal Cozinhado”, proporcionaram-lhe uma experiência notável, o que lhe deu ainda maior visibilidade, mas Carlos Velez era avesso a abraçar o profissionalismo musical.
Aluno e Mestre, porque o verdadeiro mestre nunca deixa de ser aluno, Carlos Velez acompanhou guitarristas como José Inês, Raimundo Seixas, Luís Petisca, José Bacalhau, José Carlos Marona, Bruno Mira, Fernando Silva e Custódio Castelo, para além dos grandes guitarristas lisboetas, e com os “violas” João Mário Veiga, Rui Girão, Gilberto Silva, Carlos José Garcia, Fernando Calado e Fernando Maia, entre tantos outros. Em Lisboa ou em digressões pelo estrangeiro acompanhava quem calhava, pois, o importante era a “batida” do “Mano Velho”, o que transmitia uma profunda segurança a quem cantava.
Carlos Lisboa, António Figueiredo, Alfredo Loureiro, Maria Fernanda Rodrigues, Eulália Duarte, Dilma Melo, Manuel Carriço, João Carriço, Carlos Mendes Pereira, Edmundo Filipe, Emílio Serra, Eduardo Almeida, Alcides Cepas, António Moreira da Silva, Matilde Pereira e Manuel José Duarte foram alguns dos fadistas que Carlos Velez acompanhou ainda com o estatuto de músico amador. Mais tarde, Carlos Velez passou a integrar com mais assiduidade os conjuntos de guitarras que acompanhavam os principais fadistas de então, nomeadamente Nuno da Câmara Pereira, Maria da Fé, Cidália Moreira, António Pinto Basto, Ana Moura, António Pelarigo, Joana Amendoeira, João Chora, Teresa Tapadas e Camané. Entre tantos outros cuja evocação seria fastidiosa e, em bom rigor, quase impossível de referenciar…
Para além do músico de excepcional craveira que foi Carlos Velez, o mais importante era o Homem extraordinário que foi. Sempre bem-disposto, mesmo quando as coisas não corriam bem, sempre com uma peripécia para contar, a que sabia emprestar uma ponta de humor e de sarcasmo, e com uma generosidade infinita, de que alguns, menos escrupulosos, não se inibiram de abusar, Carlos Velez era um Amigo a toda a prova.
Às vezes, com noites mal dormidas e com alguns whiskies, “com duas pedras”, bem arrumadinhos, o “Mano Velho” ligava o piloto automático e, debruçado sobre a viola, tocava, tocava… parecendo, até que passava pelas brasas, no entanto, não falhava um tempo, era de um rigor matemático.
Os últimos anos da sua vida foram já perturbados pela doença, mas até disso sabia tirar partido com uma graça oportuna e bem-humorada, pois, gostava de levar a vida a sorrir. Sendo dos melhores na sua área, Carlos Velez nunca se deixou deslumbrar e nunca menosprezou nenhum dos seus companheiros de jornada. Antes pelo contrário sempre estava disponível para ajudar quem quisesse aprender e o abordasse.
Lembramos para todo o sempre o Músico e o Homem de eleição que foi Carlos Velez. À Família enlutada, especialmente a sua Esposa, a seus Filhos e Netos, apresentamos a expressão amiga das nossas sentidas condolências. Que descanse em Paz!
Ludgero Mendes