O fotógrafo Fernando Diniz Ferreira faleceu hoje, aos 100 anos de idade.

Amanhã, pelo meio dia, o corpo vai estar em câmara ardente na igreja de Jesus Cristo, em Santarém, onde será rezada missa às 18h45.

As exéquias fúnebres prosseguirão no sábado, no crematório de Santarém, pelas 10h00.

Em Abril Diniz Ferreira foi homenageado em vida pelo Correio do Ribatejo na sua Gala anual.

Diniz Ferreira tirou a primeira fotografia aos 16 anos, em ‘fotocolor’. Desde então, e ao longo de mais de meio século, nunca mais deixou de retratar o quotidiano.

Fernando Diniz Ferreira nasceu em 1923, na cidade do Porto, e iniciou a aprendizagem de fotografia em meados de 1940. Por volta desta altura, colabora em vários projectos de desenho e pintura de cenários.

Em 1945 torna-se amador de cinema: filma, revela e faz montagens, desenha legendas e motivos decorativos. Dois anos mais tarde, em 1947, faz uma incursão como criativo de publicidade, formando, em conjunto com mais três técnicos, a empresa EPAS.

Mas foi o talento para o desenho que lhe abriu as portas para a fotografia: “quando era miúdo desenhava bem e até fazia caricatura”, afirmou ao Correio do Ribatejo numa entrevista, em 2008, a propósito do lançamento do livro “A Feira a preto e branco”.

“Nessa altura, conheci o pai de um senhor que tinha aberto um estúdio e propôs-me que fosse lá falar com o filho, para ver se me arranjava emprego. Fui, conversei com ele, e acabei por ficar”, contou.

Depois, o fotógrafo acabou por trabalhar no laboratório, a revelar os negativos, mas o apelo pela arte começava a ser forte: “de vez em quando espreitava para o estúdio para ver como é que se fotografava”, rememorou.

Posteriormente, Diniz Ferreira mudou-se para o Barreiro, onde esteve quatro anos, para um outro estúdio, e desenvolveu os seus conhecimentos da profissão.

“Foi uma verdadeira escola para mim: não só uma escola de fotografia, porque naquela altura o meu patrão era também um bom retocador, mas também uma escola para a vida”, disse.

Em 1950, o fotógrafo estabelece-se em Santarém, com a Novarte, estúdio e laboratório de fotografia para amadores e profissionais, situado em frente ao Teatro Sá da Bandeira, onde trabalhou até 1998, e funda o grupo de amadores de fotografia, GAF, que participa em concursos nacionais e estrangeiros.

E numa época em que não existiam programas informáticos de edição de imagem, o retoque nas fotografias era feito a carvão pela mão de Diniz Ferreira, uma novidade que fazia com que muitos procurassem os seus serviços.

“Comecei a esbater as rugas dos rostos, a retocar narizes e a corrigir olhares”, conta, para além de ter introduzido em Santarém uma nova forma de iluminação para os retratos em estúdio:” arranjei um projector de cinema, que simulava o sol, e então, a luz ambiente acabava por iluminar as sombras que ficavam mais ou menos suavizadas”, explicou, na altura, ao nosso jornal.

Este espírito criativo invulgar foi-se revelando em vários outros aspectos. Foi o primeiro a fazer fotografia com 35 mm, introduzindo também movimento, dramatismo cinematográfico e planos invulgares nas imagens que capturava.

Foi pioneiro no uso de 6×6 mm e mais tarde de 24×36 mm em reportagem e estúdio. Foi ainda autor de vários logotipos, entre os quais, do Cineclub e Festival de Cinema Agrícola, de capas de programas e desdobráveis turísticos em Santarém.

Projecta e dirige a montagem do Pavilhão de Turismo de Santarém na FIL e colabora nas representações da Câmara Municipal de Santarém, no Estoril e Braga.

Realiza um painel fotográfico (7×2 m) para fundo de palco num Festival de Gastronomia. Em 1954 é convidado para a cobertura fotográfica da primeira Feira do Ribatejo, sendo, desde então, e até à data de 1972, autor da maioria dos cartazes da Feira do Ribatejo e Feira Nacional de Agricultura.

Com o cartaz da sua autoria “O Cavalo em Pé”, o SNI concorre a um Concurso Internacional de Cartazes Publicitários, merecendo o 3° lugar. Em 1977 volta a ser convidado para a cobertura fotográfica da Feira do Ribatejo/Feira Nacional de Agricultura, tendo colaborado até 1984.

É autor dos cartazes do Festival da Flor, do Primeiro Festival de Cinema Agrícola, de várias capas de discos, fotos originais e temáticas para pavilhões e stands vários destes certames, colaborando na sua montagem e decoração e, ainda, autor individual de diversas exposições em Santarém, e outros locais, ao longo do seu vastíssimo percurso profissional, onde se incluem retratos ao fadista Carlos do Carmo, Maria da Fé, Laura Alves ou ao toureiro António dos Santos.

Em 2008, lançou o livro “A Feira a preto e branco”, uma selecção de 200 imagens que testemunham a Feira do Ribatejo na época em que esta se realizava no Campo Emílio Infante da Câmara, antes de se ter mudado para o Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA).

Os usos recorrentes da câmara ao nível do solo proporcionam enquadramentos únicos. O predomínio da dinâmica, a captação da velocidade das corridas, o movimento de cavalos e de campinos são notáveis. Fixou campinos garbosos, de postura altiva e épica como cavaleiros de outras eras, o afeto do tratador que beija a sua égua, goleganenses ilustres do mudo dos toiros e dos cavalos (Manuel dos Santos, Diamantino Viseu, António e José Agostinho dos Santos, Carlos Sousa Cachado e outros).

A ideia de publicar o livro “A Feira a Preto e Branco”, editado sob a chancela da Editora Primebooks, partiu da filha, Isabel, e o objectivo foi conseguido: fazer justiça ao trabalho e dedicação à fotografia ao longo de mais de meio século de intensa actividade.

José Niza afirmou, na cerimónia de apresentação do livro: “o Diniz [Ferreira] só não foi maior que o Eduardo Gajeiro porque toda a vida trabalhou em Santarém, pois, se tivesse ficado por Lisboa, era certamente reconhecido como um dos maiores fotógrafos que o nosso país já conheceu”.

Fernando Diniz Ferreira é, indubitavelmente, um artista multifacetado, sensível e de bom gosto, Homem das Artes Visuais, do desenho cenográfico ao cinema e à fotografia, a sua arte maior.

“Eu fazia também cinema amador e admirava os filmes de Fritz Lang, precisamente pelos ângulos que ele utilizava nos filmes. E tentei transportar isso para o meu trabalho”, revelou.

“Cada vez que tirava uma fotografia, o coração batia mais forte. Nessa altura, a fotografia que fizesse tinha de ficar boa. Era um imperativo. Havia a necessidade de disparar no tempo certo”, explicou.

“A fotografia digital precisa do Photoshop. Com negativo, fotografamos o instante que nos vai na alma. Não há segundas hipóteses”, concluiu.

Hoje, com a provecta idade de 100 anos, a fotografia continua a ser indissociável da sua vida: “a minha obra é um pedaço da minha vida e a minha vida é um pedaço da minha obra”, declarou.

“Para mim, era fácil. Olhava para uma pessoa e sabia logo como é que ela ficava melhor”, afirmou.

Em estúdio, como em reportagens, o seu olhar, atento e sensível, perscruta a alma dos retratados com virtude inata, delineia a cada instante as posturas, enquadramentos, escolha de ângulos, luz e contrastes de escolha criteriosa.

Muito para além de um profissional de rotinas foi sempre um irrequieto inovador e criativo, exigente com a sua arte. Tornou-se, naturalmente, filho adoptivo de Santarém, espalhou afectos pela sua simpatia e arte, retratou gerações que, ao longo da vida, viram nele uma referência e um amigo que fixava, de forma inigualável, imagens memoráveis que perduram.

A toda a família enlutada o Correio do Ribatejo endereça as mais sentidas condolências.

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