Foto: Paulo Cunha/LUSA
Foto: Paulo Cunha/LUSA

A Festa dos Tabuleiros está de regresso às ruas de Tomar, de 1 a 10 de Julho, na sequência da decisão tomada pelo povo no ano passado. A última festa realizou-se em 2019.

O anúncio da festa foi feito no domingo de Páscoa, a 09 de abril, com a primeira procissão das Coroas e Pendões do Espírito Santo, seguindo-se mais seis “saídas de Coroas” com percursos diferentes, a percorrer todas as ruas da cidade.

Nas Festas deste ano, que, mais uma vez, prometem levar largos milhares de pessoas à cidade do Nabão, a 2 de Julho realizar-se-á o Cortejo dos Rapazes, no dia 5 serão abertas as ruas ornamentadas, a 7 acontecerá o Cortejo do Mordomo, a 8 os cortejos parciais dos tabuleiros, a exposição de tabuleiros na Mata dos Sete Montes e a final dos jogos populares, decorrendo dia 9 de Julho a Procissão das Coroas e Pendões do Espírito Santo e o Grande Cortejo dos Tabuleiros, com a festa a culminar no dia 10 com a distribuição da Pêza ou Bodo.

Dada a sua complexidade, a festa realiza- se de quatro em quatro anos, tendo havido apenas uma edição em que o povo decidiu adiar a sua realização por um ano, por coincidir com a Expo 98, evento no qual participou com um cortejo a convite do então Presidente da

República, Jorge Sampaio. Segundo André Camponês, do Instituto de História Contemporânea (IHC), que coordena cientificamente o projecto de candidatura da Festa dos Tabuleiros ao Inventário de Património Cultural Imaterial, a data mais antiga que documenta a existência da Festa dos Tabuleiros (então designada Festa em Honra do Divino Espírito Santo) é de 1844, informação obtida no livro de Actas e Contabilidade da Academia Philarmónica Tomarense (já desaparecida), e o testemunho mais antigo da Festa do Espírito Santo em Tomar é a Coroa da Asseiceira de 1544.

Tabuleiros no Inventário de Património Cultural Imaterial

A Festa dos Tabuleiros, em Tomar, foi inscrita no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, segundo um anúncio publicado a 8 de Maio deste ano em Diário da República, após o período de consulta pública.

O anúncio está datado de 19 de Abril e é assinado pela subdiretora-geral do Património Cultural Rita Jerónimo.

“A inscrição da ‘Festa dos Tabuleiros’ no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial […] [destaca] a importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e os processos sociais e culturais nos quais teve origem e se desenvolveu a manifestação do património cultural imaterial na contemporaneidade”, pode ler-se no anúncio.

A fundamentação científica para integrar a Festa dos Tabuleiros no Património Cultural Imaterial nacional foi entregue em 31 de Julho de 2019, invocando a antiguidade e o facto de esta ser “uma festa única no país e no mundo”, ser “do povo, feita pelo povo e para o povo”, como realçou, na altura, a presidente da Câmara de Tomar, Anabela Freitas.

Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu carácter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel, sendo os tabuleiros da festa de Tomar únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país.

Anabela Freitas declarou, então, que a entrada no inventário nacional do Património Cultural Imaterial daria início a uma nova fase, a da preparação de uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, na sigla em inglês).

A candidatura continha informação de carácter histórico e etnográfico, atestando a dinâmica actual da prática social, e “as dinâmicas que a tradição conheceu no âmbito da sua génese e transmissão ao longo das gerações”, disse, na altura, à Lusa, André Camponês.

No trabalho de preparação foram recolhidas informações, depoimentos e documentos sobre a Festa dos Tabuleiros, preparadas propostas de salvaguarda, como “os registos vídeo e fotográficos de profissões em vias de extinção, como o latoeiro ou o cesteiro, para que possam ser replicados no futuro, ou a criação de um Centro Interpretativo da Festa”.

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