Uma festa de encontros e afectos, das colectividades, da família e dos nossos vizinhos, com muito convívio, fraternidade, abertura de espírito, alegria e partilha de experiências. É assim que Pedro Ribeiro, presidente da Câmara de Almeirim, preconiza as Festas do Concelho – pretexto para uma entrevista de fundo sobre o evento, mas também sobre o município e o seu futuro.

As Festas de Almeirim realizam-se de 18 a 26 Junho, na zona envolvente à Biblioteca e têm como principal objectivo dar a conhecer a gastronomia e o artesanato da região.

O cartaz conta com uma série de artistas nacionais, como David Antunes e The Midnight band, Saúl ou Iran Costa e são palco de um conjunto de actividades, desde dança criativa, passando pelas picarias, até às sessões nocturnas na arena de Almeirim.

Em que moldes vão decorrer este ano as Festas da Cidade de Almeirim e que momentos destaca?

As Festas de Almeirim vão seguir, em termos de formato, mais ou menos os mesmos moldes que as edições anteriores: estamos a regressar àquilo que eram as ‘festas pré-covid. Temos uma festa na freguesia da Raposa, depois as Festas da Cidade, depois, Fazendas, Paços Negros, Tapada, Benfica, Fazendas de Almeirim, e, posteriormente, em Setembro em Marianos.

Todas estas festas se inserem numa lógica de festas mais para consumo interno, diria eu. São festas para as colectividades, para as pessoas saírem com os amigos: são, essencialmente, festas para as pessoas da terra. Temos também vindo a promover, com a Confraria, numa lógica de maior promoção externa, o Festival da Sopa da Pedra, que acontece em finais de Agosto, início de Setembro, aí já com uma dimensão diferente.

Estas são umas festas que nós começámos a fazer quando Almeirim foi elevada a cidade, daí o nome de ‘Festas da Cidade’. Trata-se de um momento que é sobretudo voltado para as gentes do concelho e dos concelhos vizinhos. Obviamente que queremos que venha muita gente, como é natural, mas não temos a veleidade de fazer deste certame um evento que traga milhares de pessoas de fora.

Portanto, estas festas da cidade são muito voltadas para a comunidade: prova disso é o facto de também terem sido criadas como forma de apoiar as associações do concelho.

As tasquinhas estão pensadas para essas mesmas associações como uma forma de obtenção de receita e de promoção do convívio. É assim que pretendemos que continuem a ser, até porque outro tipo de iniciativas têm custos que consideramos serem demasiado avultados para o retorno que depois acabam por trazer. Claramente que estas festas e estes nove dias acabam por ser um local de encontro, de confraternização, de amizade e é isso que queremos que elas sejam.

É esse o espírito que, durante dois anos, não pudemos ter e queremos voltar. E voltamos com as picarias, com a animação e o covívio.

Qual é o seu sentimento pessoal por voltar a ter estas festas no concelho já sem restrições?

Nos dois últimos anos, suspendemos as festividades e a vida, na prática.

É um sentimento bom. Naturalmente, de alegria: temos consciência que as questões da pandemia ainda não passaram, e os números dizem isso mesmo. Mas também estamos, de certa forma, a aprender a viver com a pandemia, e precisamos de voltar a poder estar com os amigos, com a família, nestes ambientes descontraídos. E isto faz-nos muito bem e é, também, o

motivo pelo qual voltámos.

Entre aquilo que são questões relacionadas com a pandemia, e as relacionadas com a necessidade que as pessoas têm de poder voltar a sair, acho que fazia todo o sentido regressarmos.

Mas há um necessário equilíbrio que se impõe…

Obviamente. Nós continuamos a recomendar um conjunto de questões, nomeadamente o uso de máscara em espaços fechados.

Eu acho que em espaços onde acabamos por estar um bom bocado a ver um espectáculo, em contexto de sala interior, não custa nada usar, e está provado que as máscaras são, efectivamente, o factor que mais pode impedir as transmissões. Se conseguirmos minimizar o risco eu acho que faz sentido termos essa precaução. Agora, Estas Festas da Cidade, desenrolam-se, na sua grande maioria, em espaço aberto.

O impacto económico da pandemia foi certamente notado nas empresas e nas famílias. Temos agora uma outra crise provocada pela Guerra na Ucrânia. Que medidas está a autarquia a pensar para mitigar estes impactos?

Ninguém estava à espera, nem da pandemia nem da guerra. Do ponto de vista da pandemia, a resposta dada pelo Estado Português, e pela Europa, no geral, foi uma resposta ao contrário da última crise, das dívidas soberanas. Para uma boa parte da população, e das empresas, houve um conjunto de ajudas de Estado que, não resolvendo tudo, pelo menos minimizou o impacto. A prova disso é que a economia começou a recuperar, [a economia em termos gerais recuperou], e os números estão à vista. Isso só foi possível porque as empresas se aguentaram, porque houve essa ajuda.

Tivemos todos este problema, dar resposta a uma coisa que não estávamos minimamente habituados. A saúde não sabia o que era uma pandemia a sério há 100 anos. Agora, imaginem autarcas… haverá poucos autarcas no país com conhecimentos na área da saúde.

A incerteza vivida na pandemia é a nossa preocupação, a incerteza do que acontece. Agora estamos confrontados com uma nova crise, motivada pela guerra na Europa e não sabemos o que vão ser os custos dos materiais, nem da energia… e tudo isto tem um impacto enorme naquilo que é a nossa vida.

Eu dou alguns exemplos: gastamos umas centenas largas (700 ou 800.000 € de energia). Se a energia duplicar de preço, são 700 ou 800 mil euros a mais. Com as refeições escolares, prevemos gastar mais 200 e muitos mil euros, com o aumento do preço dos alimentos, não sabemos como será e, se a seguir formos aos combustíveis, temos aqui, garantidamente, sem fazer grandes contas, cerca de um milhão e meio a mais. E não é para fazer nada mais, para prestar qualquer serviço a mais, é apenas para manter o que existe. Gastando este valor aqui ele deixará de ser usado noutro lado.

Temos uma enorme incerteza do que vai acontecer. A incerteza é péssima para investimentos, a todos os níveis, e também para as Câmaras, naturalmente.

Quais os principais projectos que estão em curso e que espera concretizar a médio prazo?

Do ponto de vista do Município, estamos a fazer um investimento enorme nas escolas. Temos uma escola de primeiro ciclo e duas EB 2.3. Estas três escolas representam um investimento em termos de obras de requalificação de 5.5 ME. Deste valor, temos cerca de 30 ou 40% de fundos comunitários, o resto é à nossa responsabilidade.

Juntando aqui também a creche, estamos a falar de 6 ME, mas entendemos que este é o caminho: garantir um conjunto de condições para pais, para os alunos, para quem presta serviço nas escolas. A educação é o único elevador social sustentável que existe. Temos, depois, a obra do IVV que é uma infra-estrutura importante do ponto de vista da promoção dos nossos produtos e a nossa economia. Estão também em curso um conjunto de outras obras nas várias freguesias, como os parques urbanos em Fazendas e Benfica e estamos a acabar o parque de merendas na Raposa. Temos tido a preocupação de ir equilibrando: temos fundos comunitários para a cidade – porque são as regras de Bruxelas – e, depois, tentamos, com o nosso orçamento, fazer as obras nas outras freguesias.

A questão da Circular Urbana também é algo importante, assim como o Comando Nacional da Força Especial de Protecção Civil. Enfim, temos cerca de 12 ME de obra na rua. O que, para a nossa dimensão, é enorme. No próximo quadro de programação há aqui duas áreas que para nós são fundamentais, que é o arranjo da envolvente da Praça de Toiros e o Mercado Municipal. São duas

obras que arrancam logo que estejam definidos os apoios com Bruxelas. Os projectos estão feitos, portanto, é avançar com as obras.

As obras, no seu conjunto, valerão 8 ME. E são também fundamentais. Do ponto de vista do investimento privado, tenho de destacar o investimento que a Compal tem estado a fazer, o investimento da Mercadona, do seu centro logístico que empregador do concelho, e o da Fresh-52, o maior projecto de cenouras bebés da Europa, que, também, se tudo correr bem, poderá avançar ainda este ano.

Teme que o conflito na Ucrânia possa fazer derrapar o orçamento para esta obras?

Terá certamente impacto, e, por isso, vamos ter que continuar a ser cada vez mais racionais e cortar numa série de coisas. Só para dar um exemplo: nestas festas, em termos de artistas, vamos gastar em nove dias aquilo que há quem gaste apenas num só. São opções.

Não temos todas as noites figuras de relevo nacional. Temos coisas mais locais, que acabam por divertir as pessoas na mesma, porque entendemos que as verbas precisam de ir para outro lado.

Cortamos em determinadas coisas para podermos, por um lado, fazer face aos custos de energia, e, por outro, aproveitar as oportunidades.

Nunca deixámos de aproveitar oportunidades, e eu acho que isso é a grande diferença. Se deixarmos de aproveitar oportunidades porque andamos a ter gastos correntes é péssimo. Sempre que há oportunidades, temos os projectos prontos na gaveta.

Obviamente, temos que pôr a comparticipação nacional, mas tenho esperança que, no ‘overbooking’, que é, na prática, a execução de fundos [comunitários] fruto daquilo que não foi utilizado por outros, possamos ir buscar a parte está descoberta nestas áreas.

E em relação à transferência de competências do Governo para as Autarquias. Como é que vê este processo?

Eu acho que todos fomos críticos numa coisa objectiva, que tem a ver com questões financeiras. Fora das questões financeiras, é uma questão de perceber o que deve ser o Estado. Eu não tenho dúvidas que a descentralização é importantíssima para as pessoas: todos ficam a ganhar, todos menos as finanças da Câmara [risos]. O facto desta proximidade existir só beneficia os serviços e, naturalmente, as pessoas.

O problema era, e é, a questão financeira, que se está a resolver, sendo certo que, mesmo que o Estado Central garanta a questão financeira daquilo que são os custos, eu, enquanto Município, gastarei sempre mais. A proximidade faz com que falem connosco, que andemos no terreno para perceber o problema, e, percebendo o que é importante fazer, encontrarmos as soluções.

Ainda não temos a competência da Saúde connosco: no Centro de Saúde de Almeirim, há mais de 10 anos que o ar condicionado não funciona… aquilo não é nosso, e estamos a falar de um investimento de 100 ou 200 mil euros. No dia em que a saúde passar para nós, eles [Estado] já nos disseram que vão tratar desse assunto, mas mesmo que não tratassem logo, obviamente que teríamos que encontrar soluções. Mesmo não sendo da nossa responsabilidade, vamos ter que o fazer. A Escola Secundária é um investimento grande, talvez 8 ME, deveria vir toda recuperada e tenho consciência que isso não vai acontecer.

Para quem lá trabalha, para quem lá estuda, obviamente que o que quer é o problema resolvido. Eu estou convicto que as pessoas ficarão melhor. Esta proximidade vai ser importante. Agora, obviamente que vai dar mais trabalho, e vai dar mais despesa, mas também é para isso que cá estamos…. Estamos cá para resolver os problemas das pessoas, e às vezes, até queríamos mais competências que não temos, onde podíamos intervir com uma maior eficácia.

Quando vejo colegas que dizem que concordam, mas que precisam de mais verba, eu percebo. Quando vejo colegas meus que além de mais verba, arranjam todas as desculpas e mais algumas, é porque não querem as competências, porque isso dá trabalho. Como são competências de proximidade ainda vão ter outro problema, é que vamos ser todos avaliados por elas. Portanto é mais fácil dizer que a culpa é do Governo.

Na sua opinião, este processo é o embrião de uma regionalização que tarda?

Eu espero que sim. Uma boa parte das regiões que crescem pouco, mesmo com fundos, têm uma matriz em comum: isto acontece na Europa, e essa matriz é o centralismo. Nós precisamos de acabar com uma série de direcções regionais, concentrar essas direcções regionais, dependentes de uma única entidade, que neste caso é a CCDR. Mas precisamos que a CCDR seja eleita. Aquilo que as pessoas, por vezes, não percebem, porque o populismo é “fácil” e dizem: “só querem mais lugares”. Os lugares já existem… aliás, até vão existir menos lugares do que existem hoje.

A diferença é que hoje ninguém sabe quem é o ou a presidente da CCDR, que toma decisões que nos afectam a todos.

Se o centralismo é tão importante, imaginem que não elegíamos nem os presidentes de Câmara nem os de Junta, e eram todos nomeados pelo governo. Acham que o país seria o mesmo? Eu acho que não. O facto de termos pessoas que são eleitas e que se preocupam com o seu trabalho é fundamental. Podermos responsabilizar essas pessoas pelas decisões que tomaram é basilar.

A descentralização é, no fundo trazer mais competências de proximidade colocando-as ao serviço dos cidadãos, e eu espero que, de futuro, a regionalização possa ser uma realidade.

Qual é a sua opinião sobre a reorganização administrativa na região com a criação de uma NUT II englobando a Lezíria, o Médio Tejo e o Oeste?

Estamos a tratar da Intervenção Territorial Integrada (ITI) que, na prática, é podermos gerir já uma parte dos fundos nessa logica de NUT II mas sem ser uma NUT II. Temos esperança, e o Estado já enviou tudo para Bruxelas, que essa NUT possa ser aprovada, sendo certo que entrará em vigor do ponto de vista formal no outro quadro comunitário, a partir de 2027.

Até lá neste quadro comunitário que é aquele que vai entrar e durar até 2027 oque vamos ter é essa tal ITI (Intervenção Territorial Integrada) que na prática vai ter fundos para estas três regiões, Lezíria, Médio Tejo e Oeste. Vai ser o tal embrião do que queremos como NUTII.

Como está o processo de certificação dos produtos, nomeadamente da Sopa da Pedra, Caralhotas e Melão?

Os processos estão em curso, sendo que o da Sopa da Pedra é o que está mais adiantado, tendo já passado pelo processo de inquérito público europeu. Os outros dois, as Caralhotas e o Melão já nos pediram informações adicionais. São processos muito exigentes e exaustivos: na Sopa da Pedra, por exemplo, queriam saber o tamanho do feijão, dos cubos da batata, como se cortam os enchidos, todas as perguntas que possam imaginar, eles fazem. Se tudo correr bem, seremos, segundo me têm dito, quando tivermos estes três produtos certificados, o concelho com mais produtos certificados junto da UE.

Tendo em conta os estudos que dizem que o retorno para quem produz dobra com a certificação trata-se de um investimento que vale a pena. O que estamos a fazer, no fundo, é criar condições para que os nossos empresários possam ter esta mais-valia. Eu costumo dizer, meio a brincar, meio a sério, que “quero que ganhem muito dinheiro, para ver se pagam impostos, para que, naturalmente, possamos ter mais orçamento”. O que estamos a fazer é – a Câmara e as associações quer de comerciantes quer de restaurantes, com quem colaboramos – a trabalhar numa lógica de futuro, deixando aos nossos empresários a mensagem: ‘vendam mais, vendam melhor, tenham melhor produtividade, para que tenham mais lucro’.

Esta certificação é, actualmente, um selo de qualidade também ao nível do turismo gastronómico que cada vez tem mais importância em Almeirim?

A certificação é claramente para o turista: o turista precisa de ter a certeza que o que está a comer é genuíno. No outro dia, um colega autarca, que tem um produto conhecido no país, queixava-se que o produto era continuamente adulterado… o que queremos com a certificação é precisamente isso: garantir que, se me disserem que é uma Caralhota de Almeirim, eu tenho a certeza que as características são aquelas e não sou enganado.

Uma pessoa ouve alguém dizer que foi a um lado qualquer em Lisboa, que lhe serviram Sopa da Pedra, e até não achou que fosse grande coisa… Mas aquela sopa não é a de Almeirim. A de Almeirim é feita com este feijão, e estas batatas, com estes enchidos e esta preparação. O turista precisa de ter certezas de que o que está a consumir é o verdadeiro produto, e a certificação dá isso.

É também por isso que temos insistido noutra área importante para nós, que são os vinhos: temos feito com a CVR um investimento grande para garantir que temos cada vez mais certificação.

A região tem andado a saltar de região de turismo em região de turismo. Actualmente, estamos integrados na Entidade de Turismo do Alentejo/Ribatejo. Acha que há mais Alentejo que Ribatejo nesta entidade?

É verdade que, na prática o Alentejo é uma região maior, já tinha um conjunto de coisas estruturadas, mas faz sentido termos uma dinâmica diferente. Mas isto resulta, também, do facto de o Médio Tejo estar no Turismo do Centro e nós estarmos no Alentejo… isto anda tudo baralhado.

Nós queremos, precisamente, com a ITI e a NUTII, que as pessoas percebam, efectivamente, que precisam de ter aqui uma unidade. Acho que podemos, todos, fazer mais e melhor e é isso que queremos.

Para alguém que venha de fora, como apresentaria o seu concelho?

Almeirim é um concelho que mantém vivas as suas tradições, mas procurando a modernidade. Somos do mundo rural, com orgulho, temos qualidade de vida, um conjunto de serviços de enorme qualidade, fazendo um investimento enorme na educação e que faz uma aposta clara na cultura e no desporto, para proporcionar aos jovens e aos pais condições para poderem ter aqui qualidade de vida.

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