No próximo dia 2 de Setembro começarão a chegar a Santarém os grupos folclóricos estrangeiros que vêm participar na 64.ª edição do Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo, um dos certames mais emblemáticos da região de Santarém, cuja fundação ocorreu no já longínquo ano de 1959, no âmbito da Feira do Ribatejo, por iniciativa de Celestino Graça e de João Gomes Moreira, Amigos de saudosa memória.
Desde então o Festival foi assumindo diversos projectos, quase sempre numa lógica de sobrevivência, até que estabilizou no actual formato, desenvolvido na mítica Casa do Campino, onde dera os seus primeiros passos, e que na actualidade é, efectivamente, um espaço e um tempo de consagração da cultura popular e tradicional mundial.
Sem dúvida, muito mais do que um festival internacional de folclore!
Temos de reconhecer o mérito de todos quantos ao longo destes sessenta e seis anos se devotaram, empenhada e voluntariamente, para meter ombros a este evento, o qual é membro do CIOFF – Conselho Internacional de Organizações de Festivais de Folclore e de Artes Populares, de que, aliás, foi co-fundador, e que é uma organização não governamental dedicada à preservação e promoção da cultura tradicional e do folclore.
Fundado em 1970 em França (Confolens), o CIOFF expandiu-se e está presente em mais de 80 países, apoiando cerca de 300 festivais em todo o mundo. Como instituição parceira oficial da UNESCO, credenciada no Comité do Património Cultural Imaterial da UNESCO, o CIOFF pugna pela salvaguarda do património cultural imaterial, nas vertentes da música, da dança, dos rituais e do artesanato tradicional.
O CIOFF trabalha incansavelmente para garantir que as práticas culturais e as tradições orais e artísticas sejam reconhecidas, valorizadas e transmitidas às gerações vindouras, num esforço para salvaguardar a diversidade cultural do mundo.
Desde que regressou à Casa do Campino o Festival Celestino Graça optou por alargar o âmbito da sua programação e actualmente integra um vasto conjunto de iniciativas, nomeadamente a Gala Solidária “Entre Idades / Abraçar Gerações”, um Salão de Fotografia dedicado ao tema “O Ribatejo e as Suas Gentes”, Jogos Tradicionais do Ribatejo, Fandangando – Mostra de Fandangos do Ribatejo, “Sons Autóctones – Sons da Memória” – Mostra de Instrumentos Musicais Tradicionais, Exposição e Venda de Artesanato, Grande Noite do Fado, exposições temáticas e conferências, Música Popular, Gastronomia, e, como não poderia deixar de ser, as tão prestigiadas galas internacionais de Folclore, que constituem a âncora de toda a programação do Festival.
Esta significativa mudança – de que muito boa gente ainda não se apercebeu! – alterou radicalmente o conceito do próprio festival, tendo-se transformado numa festa multidisciplinar que, ao contrário de antigamente, oferece múltiplas actividades durante todo o dia. A qualquer hora da tarde ou da noite a Casa do Campino tem aliciantes que podem, e devem, suscitar a afluência da população de Santarém e dos arredores, enquanto anteriormente havia apenas um espectáculo de folclore. É grande a diferença!
O Festival Celestino Graça é um grande chapéu sob o qual decorrem inúmeras actividades, pelo que todos os apreciadores da cultura popular e tradicioanl deverão consultar o respectivo programa para não desperdiçarem nada.
De 3 a 7 de Setembro a Casa do Campino espera por si!
“Ribatejo em Pessoa” – Identidade e Memória
Nesta edição a comissão executiva do Festival Celestino Graça, que, por inerência é constituída pela Direcção do Grupo Académico de Danças Ribatejanas, decidiu apostar em mais algumas iniciativas, que, a um só tempo, tenderão a enriquecer o programa do certame e a valorizar a missão do Grupo Académico na defesa e na divulgação do património cultural imaterial.
Este projecto consubstancia a aposta na realização de entrevistas a diversas figuras típicas do Ribatejo – campinos, pescadores, camponeses rurais, ferreiros, ferradores, cesteiros, entre outras profissões extintas ou em vias de extinção – com o objectivo de recolher informação que permita caracterizar melhor a matriz identitária da nossa região.
A integração deste projecto na programação geral do Festival Celestino Graça constitui apenas a primeira fase deste projecto, posto que em seguida se apostará na publicação do material assim investigado, para constiutir memória futura dos usos, costumes e tradições do Ribatejo.
Festival do Petisco Ribatejano
Na perspectiva de enriquecer o receituário da culinária tradicional ribatejana, pretende-se reconstituir alguns dos petiscos mais populares da nossa região, confeccionados tal como as nossas mães e as nossas avós os faziam, mantendo os ingredientes e, tanto quanto possível, o ritmo de preparação.
Vivemos um tempo em que se pretende inovar a gastronomia ribatejana, emprestando-lhe novos conceitos de confecção e de apresentação, enquanto neste projecto pretendemos, essencialmente, salvaguardar estes pratos da maneira como as pessoas do povo os preparavam.
Não devemos esquecer que a alimentação dos nossos avós assentava numa economia de subsistência, num tempo em que se tinha de respeitar os ciclos agrícolas, pois então não se dispunha de frigoríficos, e os géneros que eram consumidos eram os que se produziam na região, bem diferente do que sucede nos nossos dias, em que há de tudo em todas as épocas do ano.
Assim, apostaremos numa culinária sustentável e que de uma maneira tão simples e natural contribuirá para a defesa do nosso meio ambiente. Quem visitar o espaço da Casa do Campino poderá sempre degustar estes deliciosos petiscos, que serão preparados com a competente ajuda de César Piedade, um conceituado cozinheiro escalabitano.
Exposição de Pintura de Radina Rosenova
A pintora búlgara Radina Rosenova exporá na Casa do Campino, entre os dias 3 e 7 de Setembro, em colaboração com o CIOFF da Bulgária, a exposição “GENUS – A Europa perante o Mundo através dos símbolos e mensagens que esconde”.
Esta exposição é composta por cerca de vinte sete quadros sendo que cada um deles tem a particularidade de ser inspirado na indumentária tradicional de um país membro da União Europeia.
Radina Rosenova atingiu já muita notoriedade no seu país, com reconhecimento da Unesco, tendo exposto nas galerias mais relevantes de Sofia e tendo sido distinguida com inúmeros prémios internacionais que a posicionam entre as mais prestigiadas artistas plásticas do seu país, com obras que integram alguns museus e colecções particulares muito prestigiados.
Esta exposição só é possível mercê da cooperação entre o CIOFF de Portugal e o CIOFF da Bulgária, e consagra a opção do Festival Celestino Graça de se tornar um evento pluridisciplinar, que valoriza as expressões artísticas populares ao nível das representações etnográficas e folclóricas, nas respectivas dimensões identitárias.