Finalmente os europeus compreenderam o significado da palavra “refugiados”.
Durante as últimas décadas, a palavra era confundida com “terrorista” ou “oportunista”.
A sociedade europeia parece ter voltado às consciências solidárias.

As guerras e os processos de informação e comunicação transmitem este processo emotivo que atravessa as consciências e as vontades humanas.

Mas perguntamos?
Esta consciência provém do seu próprio medo?
Esta consciência revela-se porque são refugiados europeus?

Os países que no mês passado estavam contra a entrada de população estrangeira recebem hoje (felizmente) milhares/milhões de refugiados europeus de um país chamado Ucrânia.

Mas perguntamos…
Não há refugiados sírios? Não há refugiados líbios? Iraquianos, afegãos, malianos, sudaneses…?
Os que fogem da pobreza e da fome também são refugiados! A consciência não é a mesma?!
Várias eleições e referendos foram ganhas à custa da recusa de refugiados. Que mundo temos? Felizmente que a consciência despertou. Será desta vez?!
Esperemos que esta unanimidade não seja só emotiva. Foi sempre assim?!

A ACNUP (Agência da ONU para os Refugiados) no seu relatório afirmou que “ No final de Junho de 2021 o número de refugiados utrapassou os 20 milhões. Mais de metade dos novos reconhecimentos vieram de países como a República Centro-Africana (71800)Sudão do Sul (61700) Síria (38800); Afeganistão (25200) e Nigéria (20300).”
No entanto, em 2020 a Comissão Europeia apresentou uma proposta para criar um Pacto para as Migrações e Asilo que visava tornar obrigatória a “solidariedade” de todos os países para com os de chegada de migrantes, como a Grécia, a Itália ou Malta. A proposta foi recusada pelo grupo de Visegrado (Hungria, Polónia, Chéquia e Eslováquia). Coincidência… Neste momento são estes os de chegada.

Nos dias de hoje, um dos aspectos positivos foi o despertar da consciência solidária mas mesmo assim assistismos a tomadas de posição como, por exemplo, do Reino Unido a afirmar que “só aceitará “verdadeiros refugiados da guerra da Ucrânia”. O ministro britânico anunciou “oferecemos 220 mihões de libras em ajuda humanitária para os países que acolhem refugiados”. Parece querer dizer “não queremos refugiados”.

E os refugiados russos?! Também existem refugiados russos. Os que fogem da guerra da Ucrânia e os que fogem da Rússia. Por exemplo, há Russos que se deslocam para o México para depois pedirem asilo nos EUA.

Outra questão se levanta…
Será que esta onda de solidariedade emotiva vai continuar ou vamos assistir a um esvaziamento das vontades?! Quando os tradicionais problemas associados aos migrantes: de trabalho, de cultura, de … será que vão voltar os sentimentos, muitas vezes aproveitados por grupos mais ou menos extremistas políticos, de recusa. Já há sinais… Todos sabemos o resultado, o renascimento de extremismos, xenofobia, protestos … Devemos estar atentos!

Um passo de cada vez. Estamos no momento da solidariedade, da ajuda, da colaboração e participação.
Sabemos que o Mundo não vai ser o mesmo.

Até podemos compreender ou melhor entender as posições geopolíticas e geoestratégias das grandes potências mas na verdade não precisamos de potências. São necessários países que se tratem como parceiros e iguais perante o direito internacional.

Mas..
Finalmente os europeus compreenderam o significado da palavra “refugiados”.

Vítor Barreto – Professor de Geografia e de Geopolítica na Universidade da Terceira Idade de Santarém

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