O geólogo António Galopim de Carvalho está a reunir apoios para que a importância mundial do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra d’Aire, nos concelhos de Ourém e Torres Novas, seja reconhecida com “algo muito grandioso”.
Aquele que é o maior trilho de dinossauros herbívoros do mundo foi descoberto na localidade do Bairro em 1994, recebeu a classificação como monumento natural em 1996 e ali foi criado um centro de interpretação em 1997. Mas, de então para cá, tem-se verificado “um quase deserto”, diz Galopim de Carvalho, que pede “um investimento de milhões” num “projecto de valor internacional” que reconheça “a real importância científica, pedagógica e cultural deste património”.
“A minha proposta para este geomonumento pode parecer um sonho ambicioso. Mas todos sabemos que sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança”, explicou à agência Lusa.
O que tem sido feito no Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra d’Aire, que intersecta a fronteira dos concelhos de Ourém e Torres Novas, “não lhe dá a importância que que merece”, defende o especialista.
“Esteve quase abandonado nos últimos anos. Com a nova administração fizeram-se beneficiações importantes. Elogio quem lá trabalhou e quem lá trabalha, mas é preciso muito mais, pelo importante valor paleontológico do sítio”, sublinha, lembrando que “tem valor e dimensão física e geográfica para fazer algo muito grandioso”. E concretiza:
“Têm-se gasto lá milhares de euros. Mas quero ali milhões de euros. No ano passado o que lá se gastou foram 250 mil euros. Mas tudo aquilo merece um projecto de muitos milhões”.
Numa “iniciativa pessoal, que só me compromete a mim”, o geólogo gizou um projecto que passa por dotar o monumento de condições para “divulgar amplamente a real importância” do sítio, capitalizando turisticamente a proximidade com Fátima: “Até há poucos anos, Fátima tinha seis milhões de visitantes. Bastava 1% das famílias que vão a Fátima para encher aquilo”.
A proposta inclui a criação de “um museu e centro de interpretação, auditório, espectáculos de luz e som, espectáculos em 3D com recurso a realidade virtual, exposições temporárias cobertas ou ao ar livre, painel do tempo, comboio ou túnel do tempo, parque infantil, recinto de merendas, cafetaria ou restaurante”, com “silhuetas gigantes [de dinossauros] e parque de estacionamento”, além da concretização total do jardim jurássico existente.
“Há muito que tinha esta ideia. Quando há uns meses fui convidado para a inauguração do [renovado] centro de interpretação e do passadiço, senti que era a oportunidade – pelo que disseram os presidentes da câmara – para lançar esta ideia e fazer algo de dimensão nunca pensada”, explicou.
Actualmente, Galopim de Carvalho recolhe apoios. “Todos os dias a lista cresce”, conta, mencionando um conjunto de instituições e personalidades que vão da Associação dos Trabalhadores das Minas da Urgeiriça a Pedro Abrunhosa, passando pelos reitores das universidades de Lisboa, Évora e Trás-os-Montes, Sociedade Geológica de Portugal, ”o antigo ministro Manuel Heitor, o conselheiro de Estado Sampaio da Nóvoa, a antiga líder do CDS Assunção Cristas, o [comunicador de ciência] Carlos Fiolhais ou Júlio Isidro. Mas são muitos mais”.
“Com humildade, digo que estou a usar a minha ‘magistratura de influência’, mobilizando personalidades com peso para ajudar a concretizar este projecto”, afirma Galopim de Carvalho, que até já falou sobre o assunto com o primeiro-ministro António Costa:
“Encaminhou-me para a Secretaria de Estado do Turismo. Também já contactei a ministra da Ciência, estou à espera de resposta. Mas conseguir passar os chefes de gabinete e secretárias é muito complicado…”, lamenta.
Com este esforço, espera conseguir convencer as entidades que tutelam o monumento, “as câmaras municipais e o ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas]”, a fazer nascer “um projecto a ser pensado em grande, com projecção internacional, compatível com as características que o distinguem a nível mundial”.
E essas características são várias, recorda Galopim de Carvalho.
“Desde logo o tamanho da jazida, é uma única laje, como se fosse o tampo de uma mesa onde estão mais de 400 pegadas – já isto é invulgar”.
Depois, “há 20 dessas pegadas organizadas em trilhos, em que seguimos o caminho do bicho”, sendo que “dois desses trilhos têm mais 140 metros. Isto não há em parte nenhuma [do mundo]”, garante.
Além disto, a rocha onde ficaram marcadas as pegadas “é 25 milhões de anos mais antiga do que se julgava ser a idade daqueles dinossauros”.
O geólogo, que dentro de dias completa 91 anos, assume que, muito provavelmente, não verá concretizada a ideia.
“Com o tempo que estas coisas demoram em Portugal, já morro feliz se vir o esboço. Quando ‘chegar’ ao São Pedro, posso dizer que trago uma garantia de que aquilo vai ser feito. Mas já sei o que ele vai dizer: ‘Espera 10 ou 15 anos, que [até estar concretizado] ainda vais olhar cá de cima lá para baixo’… [risos]”.