Produtores da zona de Almeirim queixam-se de que os transportadores de tomate estão a ser alvo de “caça à multa”, mas a GNR afirma que se limita a autuar quem põe em causa a segurança.
Gonçalo Escudeiro, vice-presidente da Federação Nacional de Organizações de Produtores (FNOP), disse em declarações à Lusa que, perante os relatos de vários produtores sobre o transporte dos campos para as fábricas, não pode esconder a sua preocupação.
O representante sublinhou que não pede excepção na passagem de multa em casos de excesso de peso ou escorrência de molho nas estradas, mas considerou excessiva a entrada de patrulhas pelos campos e a autuação de transportadores por situações como placas reflectoras com pó.
Afirmando que só existem relatos do género no transporte de tomate, o dirigente da FNOP disse que há transportadores que, devido ao elevado número de multas recebidas, se estão a recusar a fazer o transporte, em plena campanha de colheita de tomate com destino à indústria agro-alimentar.
O presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Miguel Ribeiro, deu eco desta preocupação nas redes sociais, afirmando que, segundo informação que lhe chegou, as multas estão a colocar em causa “o funcionamento de algumas fábricas por falta de matéria-prima”.
“Este ano é fundamental para este sector. Após vários anos de perda, este pode inverter e com isso salvar muitos agricultores da falência. Um sector que emprega milhares de pessoas no Ribatejo e representa milhões e milhões em exportações”, escreve.
Sublinhando não ser seu hábito “fazer comentários públicos a este tipo de iniciativa”, o autarca considera que “multas por matrículas sujas é no mínimo excesso de zelo”.
“É com certeza legal, mas tem um nome. ‘Caça à multa’. Isto não é prevenção, é apenas estatística. Tudo o que ponha em causa a segurança rodoviária deve ser alvo de penalização. Peso a mais, molho, tomate a cair. Agora, matrículas sujas, ‘cercos’ a fábricas, etc. é imoral. Há acções que, apesar de legais, apenas reforçam o sentimento contra quem as pratica”, acrescenta.
Questionado pela Lusa, o comando nacional da GNR afirmou que se limita a cumprir as regras legais em matéria de segurança rodoviária, confirmando que, no período de 26 a 31 de Agosto, “à semelhança do realizado ao longo do ano”, efectuou um conjunto de acções de fiscalização rodoviária, a nível nacional, que incluiu o distrito de Santarém, visando o transporte de mercadorias.
Nessas operações, a GNR detectou infracções rodoviárias “com elevado potencial para colocar em causa a segurança dos veículos em circulação, dos seus condutores e ocupantes e, por sua vez, dos restantes utilizadores da via”.
Em concreto, foram identificadas 51 situações de excesso de carga e/ou carga mal-acondicionada, carga acima dos taipais e queda de tomate ou molho para a via, 47 por anomalias nos sistemas de sinalização e de iluminação, 12 por falta de inspecção periódica, e 12 por falta de registos dos períodos de condução e de descanso dos condutores.
Foram ainda detectadas seis infracções por falta de licenciamento para o transporte de mercadorias, três por falta de carta de qualificação de motorista e, ainda, um crime por viciação do tacógrafo, alterando os registos de tempos de trabalho e de descanso.
“Relativamente às infracções relacionadas com as matrículas dos veículos, a GNR detectou 16 contra-ordenações, por circulação com matrículas ocultas, o que impede o controlo e verificação através de meios automáticos de fiscalização, assim como a detecção de veículos e reboques furtados”, indicou.
Foi também detectado um reboque que efectuava o transporte de tomate “sem seguro, sem inspecção e com matrículas falsas, o que configura a prática de um crime”.
Foto: D.R.