A 1 de Maio de 1841, Manuel da Silva Passos e Gervásia de Sousa Falcão adquiriram, na Alcáçova de Santarém, “casas” onde o estadista liberal viveu e morreu, em Janeiro de 1862, estando sepultado em jazigo de família, no Cemitério dos Capuchos, em Santarém.
Essas “casas” compunham-se de “várias moradas, casa nobre e térreas, cavalariças, palheiros, quintal, pátio, cisterna e barroca anexa até Santiago.
Foi esse o espaço pretendido pelo Conselheiro Passos Manuel que delegando em velhos amigos de Santarém as primeiras diligências e contactos que resultaram no acordo das condições de venda (…).” [“Um espaço no tempo – O Paço Real de Santa Maria da Alcáçova e a Casa de Passos Manuel; Mário Sousa Cardoso in “A Colecção da Casa-Museu Passos Canavarro”, 2011”].
A escolha desta cidade deveu-se, porventura, ao facto de Gervásia de Sousa Falcão, natural da vila de Constância, ter herdado, propriedades agrícolas situadas em Alpiarça, e à proximidade geográfica de Lisboa, fundamental para as ambições políticas de Passos Manuel.
Neste “exílio” – comum a outros políticos de então – Passos Manuel acompanha, à distância, as mais diversas e complexas fases da vida política, como sejam, o Pronunciamento Nacional de 1846, a Revolta da Maria da Fonte e o reacender da guerra civil, ou seja, a Patuleia, bem como a Regeneração. Nestes tempos, Passos Manuel foi Presidente da Junta de Santarém, então uma vila da província da Extremadura.
Logo, em 1843, recebeu em sua casa João Baptista de Almeida Garrett, numa visita que o escritor imortalizou nas páginas das “Viagens na Minha Terra”:
“Notável combinação do acaso! Que o ilustre e venerando chefe do partido progressista em Portugal, que o homem de mais sinceras convicções democráticas, e que mais sinceramente as combina com o respeito e adesão às formas monárquicas, esse homem, vindo do Minho, do berço da dinastia e da Nação, viesse fixar aqui a sua residência no alcáçar do nosso primeiro rei, conquistado pela sua espada num dos feitos mais insignes daquela era de prodígios!”
Este juízo do escritor deve-se a um sentimento comum de desilusão perante a sociedade e a política conservadora de então, que os leva, tanto Passos Manuel como o seu correligionário Garrett, a encontrarem-se e viverem em conjunto, na “Velha Alcáçova” henriquina, esse sentimento de descrença perante um património arruinado e as incertezas políticas.
Ainda nesse século XIX, o casamento da sua segunda filha, Antónia, com Pedro de Souza Canavarro, realizado na Igreja da Alcáçova, em Fevereiro de 1865, torna a casa em sede da família Canavarro.
Em 1937, nasceu, no quarto onde pernoitou Almeida Garrett, Pedro Canavarro que, em 2000, criou a Fundação Passos Canavarro, tendo adaptado estes espaços a casa-museu.
A Casa-museu é hoje uma realidade incontornável na museologia escalabitana e uma referência no contexto nacional das casas museu, tendo sido, por um período de tempo, eleita presidente da Associação Nacional de Casas Museu, sendo que esta é a única em que os visitantes são ainda conduzidos, através dos seus “mistérios”, pelo seu fundador e habitante.
António Canavarro