Integrado nas comemorações dos 450 anos da paróquia de Vale de Figueira, que se assinalou no passado sábado, dia 8 de Agosto, José Gaspar lançou o seu novo livro, “O Convento dos Frades Arrábidos de Vale de Figueira”. Com este trabalho, o autor proporciona um contributo para o conhecimento da secular paróquia e freguesia de Vale de Figueira. A investigação passou pela Torre do Tombo, pelo Arquivo Distrital de Santarém e outros arquivos, e foi alargada “a testemunhos orais de pessoas de maior antiguidade na povoação que se lembram de como era o convento”, explica o autor.
Nascido em Vale de Figueira, onde residiu até aos 25 anos, José Vicente Calado Gaspar vive actualmente em Santarém, e está ligado ao Centro de Bem Estar Social de Vale de Figueira, à Confraria Ibérica do Tejo, ao Centro Dramático Bernardo Santareno, ao Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão, à Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico-Cultural de Santarém e ao Fórum Ribatejo, que reúne historiadores locais e regionais.

O que o motivou a escrever este livro?
A motivação foi crescendo impulsionada pelas pessoas que fui – e vou- ouvindo ao longo dos anos, sobretudo os mais idosos, que vão contando histórias de uma antiga paróquia/freguesia o que, aliada com a falta de conhecimento de alguns mais novos, me impele a registar as memórias e o saber para as perpetuar no futuro. Mas a maior motivação é a paixão pela terra que me viu nascer e o carinho que tenho pelos meus conterrâneos. Sou orgulhosamente valfigueirense, ribatejano e português.

Qual foi o aspecto mais curioso que encontrou na pesquisa para o livro “O Convento dos Frades Arrábidos de Vale de Figueira”?
Não foi um aspecto curioso, mas dois factos dignos de registo, ou seja, o relato do frade São Miguel e as consequências das invasões francesas em Santarém e em Vale de Figueira. Isso motivou-me a aprofundar a pesquisa, que foi emocionante em vários aspectos, dos quais destaco: o testemunho inspirador do frade António de São Miguel, protagonista de uma das mais belas e encantadores histórias de Vale de Figueira, “A esmola dos seis pães”; e o momento trágico da presença das tropas franceses invasoras, em 1810, que deixaram o convento em estado muito degradado e com consequências graves para a população de Vale de Figueira.

Quanto tempo demorou a pesquisa e de que forma estruturou a obra?
Desde muito cedo que fui guardando documentação e informação sobre o convento de Vale de Figueira, mas foi nos finais de 2018 que decidi avançar para a criação do livro com uma pesquisa mais intensiva. A sua estruturação foi sempre a pensar em facilitar o leitor através de uma lógica cronológica e para melhor compreensão das fontes históricas, actualizando o português no acto da sua transcrição sem alterar o sentido do mesmo.

De onde vem o seu interesse pela História local?
Fui sempre um bom ouvinte, principalmente dos mais velhos, que muito me transmitiram e isso foi despertando em mim uma vontade enorme de conhecer ainda mais a história local. Interesse que se converteu em três livros concluídos, o primeiro sobre a aldeia Avieira da Barreira da Bica Filhos do Rio… Gente do Nosso Pano, o segundo sobre O Teatro em Vale de Figueira e o atual O Convento dos Frades Arrábidos de Vale de Figueira. Para além disso tenho um quarto em fase de pesquisa conclusiva com lançamento previsto para 2021. São trabalhos completamente distintos publicados em livro, resultantes da história local riquíssima de Vale de Figueira.

O Património do concelho merece, na sua opinião, um olhar mais cuidado por parte dos detentores do poder público?
O Património do concelho só pode ser mais cuidado quando houver uma política cuidadora no seu todo. Um trabalho de equipa com as freguesias, paróquias e associações, geradoras de uma actuação local concertada e integrada para garantir a salvaguarda do nosso património que nos identifica como comunidade. Ressalvo que todas as pessoas e entidades interessadas na salvaguarda do património material e imaterial devem ser incluídas neste processo integrado de desenvolvimento local e regional, não ignorando ninguém nem pondo ninguém de parte, por quaisquer razões ou preconceitos partidários ou ideológicos, como preconiza a nossa constituição.

Concorda com a frase de Emília Viotti da Costa: “Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”?
Concordo plenamente, como aplico a frase ao estado atual em que vivemos, com indiferença e desdém pela identidade histórica e na avaliação de erros cometidos do passado. Trata-se de uma atitude continuada de muitos dirigentes políticos, como resultado da sua falta de preparação e de visão cultural, estratégica para a importância decisiva do património para a coesão social e o desenvolvimento local, regional e nacional. Sublinho uma parte do prefácio do meu livro, escrito gentilmente por D. José Traquina, Bispo de Santarém: “A melhor forma de nos situarmos no espaço e no tempo em que a vida humana se compreende e realiza, é procurando conhecer os marcos históricos que nos antecederam. Também é assim que a vida se projeta no tempo que designamos por futuro.”

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