Em menos de 30 dias o país viu um Primeiro-Ministro demitir-se, um Presidente da República ter de vir a público apresentar os seus esclarecimentos para o “caso das gémeas” e um Governo Regional assumir que não tem condições para ver aprovado um orçamento.

Se a 7 de novembro, o Primeiro-Ministro apresentou a sua demissão na sequência de investigações por parte do Ministério Público, das quais resultaram inclusive buscas ao Palácio de São Bento e o conhecimento da abertura de inquérito conta o Primeiro-Ministro por parte do Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente, a 4 de dezembro, o Presidente da República sentiu-se obrigado a vir esclarecer o que foi a sua intervenção no processo já conhecido como o “caso das gémeas”, em que duas irmãs de origem brasileira receberam um tratamento no Hospital de Santa Maria, em 2019, com o medicamento alegadamente mais caro do mundo e que terá tido um custo de cerca de quatro milhões de euros. 

Por aqui se vê, de acordo com os factos que são públicos e apenas com isso, que em pouco mais de um mês, o país à beira mar plantado e a nação mais a ocidente de continente europeu está de novo envolta num turbilhão político. 

A juntar a isto, o que já era muito, na Região Autónoma dos Açores (RAA), o Governo PSD, CDS-PP e PPM não conseguiu aprovar o orçamento para a RAA, uma vez que a Iniciativa Liberal rompeu o acordo de governação, pelo que a solução governativa da região autónoma perdeu a maioria absoluta no Parlamento regional. 

Perante isto, o Governo Regional considerou que não tinha condições para a apresentação de um segundo orçamento, pelo que o caminho seguido foi o de solicitar eleições antecipadas.

Assim e no meio da originalidade Lusa, temos que, pela primeira vez, quase a chegar aos 50 anos de um Portugal democrático, temos o primeiro governo de maioria que não consegue concluir a Legislatura. Não são as primeiras eleições legislativas antecipadas, bem pelo contrário. Ainda há 2 anos o país as realizava. Mas, ao 5º Governo de maioria, a mesma não foi suficiente para perdurar toda uma legislatura.

Para além disto, pela primeira-vez, teremos provavelmente eleições antecipadas na RAA. 

O atual Governo Regional nasceu de uma solução parlamentar, algo comparável ao que aconteceu ao Governo da República com a solução encontrada em 2015, mas no caso dos Açores, em que o PS ganhou as eleições de 25/10/2020, o ainda Governo da RAA inclui 3 Partidos.

Por fim, o Presidente da República vive o período mais negro dos seus mandatos e o de menor popularidade. Longe vão os seus tempos áureos de selfies, beijos e afetos. E de uma popularidade em alta.

Este “caso das gémeas”, tendo mesmo levado ao envio de documentação por parte da Presidência da República para a Procuradoria Geral da República, é mais um abalo na democracia. E afetando desta vez e de forma direta o próprio Presidente da República.

É mais um caso para acharmos, como o General Galba, que governava a então Hispânia, que “Há, nos confins da Ibéria, um povo que nem se governa nem se deixa governar”. 

E por vezes é mesmo esta a sensação que fica.

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