O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, voltou hoje a criticar a legalização da eutanásia, considerando que se quebra “o princípio fundamental da inviolabilidade da vida humana”.

“Lamentamos reiterada e profundamente a legalização da eutanásia e do suicídio assistido pela Assembleia da República, promulgada a 16 de maio de 2023 pelo Presidente da República, e comungamos da tristeza do Papa Francisco manifestada após a confirmação parlamentar do diploma”, disse Ornelas na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, que hoje começou em Fátima.

O presidente da CEP lembrou depois a afirmação do Papa, aquando da promulgação: “Hoje estou muito triste, porque no país onde apareceu Nossa Senhora foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista de países com eutanásia”.

O presidente da CEP recordou que, “ao longo do processo legislativo”, a Igreja foi repetindo que, “com a legalização da eutanásia se quebra o princípio fundamental da inviolabilidade da vida humana e abrem-se portas perigosas para um alargamento das situações em que se pode pedir a morte assistida”.

“A morte passa a ser apresentada como solução para a dor e sofrimento, ao invés de uma promoção dos cuidados paliativos humanizantes que devem acompanhar a vida até à sua conclusão”, acrescentou.

Perante os seus pares no episcopado católico português, José Ornelas voltou a “reiterar o apelo para que as próprias pessoas em situação de doença, bem como as famílias e profissionais de saúde, a quem deve ser sempre garantida a objeção de consciência, rejeitem liminarmente as possibilidades abertas pela legalização da eutanásia”.

“A entrada em vigor desta da lei representa um claro retrocesso civilizacional, mas mantemos a esperança de que possa vir a ser revogada e que a vida humana, que é um dom inestimável, volte a ser valorizada e defendida em todas as suas fases”, sublinhou o também bispo de Leiria-Fátima.

Os bispos católicos portugueses estão reunidos em Fátima até à próxima quinta-feira, com a análise da situação social, as dificuldades das instituições de solidariedade social e a questão dos abusos no seio da Igreja a serem temas em cima da mesa de trabalhos desta sessão da Assembleia Plenária da CEP.

Hoje, na abertura dos trabalhos, o presidente da CEP abordou também a questão dos abusos no seio da Igreja, recordando os passos dados até agora, com a criação da Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que divulgou um relatório sobre a situação em Portugal nas últimas décadas, até ao funcionamento do Grupo VITA, encabeçado pela psicóloga Rute Agulhas.

Para José Ornelas, “no meio da dor profunda de enfrentar com clareza as situações de abuso, cada vez fica mais claro que a verdade liberta, que o bem das vítimas e sobreviventes é a prioridade e que é possível melhorar, passo a passo, no modo de agir, olhar, escutar, reparar e acompanhar”.

O prelado agradeceu ainda ao Papa Francisco, “por ter querido encontrar-se no dia 2 de agosto, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, com 13 vítimas de abuso, num encontro realizado num “clima de intensa escuta”.

Também a Assembleia Geral do Sínodos dos Bispos, que terminou em Roma no dia 29 de outubro, e que, “em muitos aspetos, foi uma experiência sem precedentes e portadora de transformação e esperança”, foi referido por José Ornelas, para considerar que “este Sínodo será avaliado com base nas mudanças percetíveis que dele resultarão”.

Questões como a presença da mulher na Igreja ou o celibato dos padres estiveram em debate nesta Assembleia, com os trabalhos do sínodo a continuarem até outubro de 2024, quando se esperam decisões para o futuro.

Hoje, em Fátima, o presidente da CEP destacou, também, o sucesso da Jornada Mundial da Juventude realizada em Lisboa em agosto, afirmando que “a participação ativa das dezenas de milhares de jovens e adultos como voluntários, de Portugal e de muitíssimos outros países, ao longo de todo o processo, tanto nas dioceses como na festa final em Lisboa, é um sinal de esperança na participação ativa dos jovens na Igreja e daquilo que podem realizar quando são bem acolhidos e acompanhados”.

Por último, José Ornelas lembrou que 2023 ficou marcado pela promulgação, pelo Papa, no dia 22 de junho, do Decreto sobre as Virtudes Heroicas da Irmã Lúcia, deixando o desejo de que a beatificação da terceira pastorinha de Fátima aconteça em breve.

Os bispos católicos portugueses estão reunidos em Fátima até à próxima quinta-feira, com a análise da situação social, as dificuldades das instituições de solidariedade social e a questão dos abusos no seio da Igreja a serem temas em cima da mesa de trabalhos desta sessão da Assembleia Plenária da CEP.

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