A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assegura estar preparada para “tomar medidas adequadas” que se imponham pelo relatório da Comissão Independente que estuda os casos de abusos na Igreja, mas recusa apontar uma expectativa sobre os resultados do documento.

“A expectativa é a de que façam um estudo sério, independente e com toda a competência e esperamos pelos resultados. Portanto, a expectativa é o que surgir depois no relatório. Neste momento não temos dados, ninguém os tem”, disse em Fátima, o secretário da CEP, no dia em que se cumpre um ano sobre a apresentação da equipa liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Segundo o padre Manuel Barbosa, “a expectativa será de que daí [do estudo] surjam elementos que nos permitam continuar a tomar medidas, e medidas novas, para que este flagelo, este drama, se erradique da vida da Igreja o mais possível”.

O relatório será apresentado no dia 13 de fevereiro, em Lisboa, e nesse mesmo dia a Conferência Episcopal emitirá um comunicado com a sua primeira reação. O documento ser-lhe-á entregue por Pedro Strecht no dia anterior.

Entretanto, para 03 de março, está já convocada uma Assembleia Plenária do episcopado católico português, para uma análise mais profunda do documento preparado pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa.

“O que vier, nós estaremos preparados para tomar medidas adequadas. Vamos esperar com toda a serenidade e confiança no trabalho da Comissão” que tem como período de estudo o tempo que medeia desde 1950 até à atualidade, acrescentou hoje o padre Manuel Barbosa.

A comissão – que além de Pedro Strecht, integra o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a realizadora Catarina Vasconcelos – começou a receber testemunhos no dia 11 de janeiro de 2022 e, no dia 15, menos de uma semana depois, já validara 102 dessas denúncias.

Na ocasião, o coordenador da comissão, revelou que os testemunhos foram recebidos por preenchimento de inquérito ‘online’ ou por chamada telefónica.

Meses depois, em 11 de outubro, a Comissão Independente, naquela que foi a sua última comunicação pública de dados, anunciou que já validara 424 testemunhos, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescrevera. Dezassete dos casos, contudo, haviam sido já comunicados ao Ministério Público.

“O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa”, disse na ocasião Pedro Strecht, remetendo outros dados apenas para o relatório final.

A revelação do número de 424 casos provocou mesmo uma polémica envolvendo o Presidente da República que, questionado sobre o assunto, afirmou: “Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares” e “haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”.

Face a um coro de críticas, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se mais tarde às vítimas de abusos sexuais, em particular por parte de responsáveis da Igreja Católica Portuguesa, pedindo desculpa se ofendeu “uma que seja” dessas pessoas com as suas declarações iniciais.

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