Susana Santos, administradora hospitalar, está ligada ao Hospital Distrital de Santarém (HDS) desde 2001. Assume, desde Novembro de 2020, a coordenação do Gabinete de Investigação, um ano após a criação deste sector no Hospital. Ao final de dois anos, o balanço é positivo: o número de participações em ensaios clínicos aumentou, assim como a quantidade de publicações de artigos científicos em revistas com factor de impacto. Estes resultados são decisivos para a obtenção de uma quota-parte dos 2 milhões de euros, anuais, destinados à promoção da investigação clínica nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Como aconteceu o seu vínculo ao HDS?

Cheguei ao HDS a 6 de Agosto de 2001, tinha acabado de terminar a licenciatura em enfermagem. Comecei a trabalhar no Serviço de Internamento de Ortopedia num contexto completamente diferente do actual. Praticamente não se utilizava computadores, os registos eram todos realizados em papel, desde os planos de cuidados à prescrição de medicamentos, ou requisições de qualquer material. O HDS ainda era um hospital do Sector Público Administrativo (S.P.A.).

Em que momento surge a área da administração hospitalar na sua vida?

Em 2002, o HDS transitou para outro tipo de natureza jurídica, passa a Sociedade Anónima de capitais exclusivamente públicos – designado por HDS, S.A. -, adoptando, desde então, uma gestão do tipo empresarial. Esta mudança sentiu-se muito nos serviços clínicos e até nos vínculos contratuais. As hierarquias de gestão começaram a definir, com os serviços, objectivos assistenciais; surge a departamentalização das áreas clínicas. Em 2005, o Hospital volta a mudar de natureza jurídica, para entidade pública empresarial (E.P.E.), provocando novas alterações nas dinâmicas de gestão dos serviços. Estas mudanças ao nível da gestão hospitalar estavam a despertar-me cada vez mais curiosidade e interesse pela gestão das instituições de saúde, decidindo, por começar a realizar a Licenciatura em Gestão de Empresas.

As vivências fazem as pessoas e este foi o caminho que me levou até ao que sou hoje. Terminei a Licenciatura de Gestão de Empresas com um trabalho final de curso, que não encerrou com o final da licenciatura, continuou com a participação de alguns membros do Conselho de Administração e dirigentes do Departamento de Cirurgia, com uma empresa que estava a desenvolver software de gestão hospitalar e a Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém. Os resultados e pertinência da experiência permitiram-me integrar no dia 23 de Março de 2010, o Colóquio de Gestão Estratégica de Organizações Públicas de Saúde, com uma comunicação oral intitulada “Experiência piloto – Balanced Scordcard no Departamento Cirúrgico do Hospital Distrital de Santarém, E. P. E.”.

Ainda em 2010, ingressei no Curso de Especialização em Administração Hospitalar, na Escola Nacional de Saúde Pública. Em 2013, celebrei contrato com o Centro Hospitalar Médio Tejo (CHMT), para integrar as equipas de gestão dos Departamentos clínicos. Fui nomeada pelo Conselho de Administração (CA) para integrar a equipa de gestão do Departamento de Medicina e Departamento de Urgências em simultâneo e, posteriormente, por necessidades internas, sai do Departamento de Medicina para integrar a equipa de gestão do Departamento Cirúrgico, Departamento de Anestesiologia e Blocos Operatórios, Unidade de Gestão de Inscritos para a Cirurgia (UHGIC), e Departamento de Urgências, novamente em simultâneo. Foram experiências muito ricas, muito gratificantes.

Em Junho de 2017, surgiu a oportunidade para integrar a equipa de Administradores Hospitalares do HDS, através de um processo de mobilidade. Portanto, em 2017 estava de regresso ao HDS.

Comecei por integrar a equipa de gestão do Departamento de Cirurgia, Anestesiologia, Blocos Operatórios, Unidade de Cirurgia de Ambulatório e UHGIC. Em Novembro de 2017, a UHGIC foi extinta pelas novas orientações do programa SIGA SNS, passando a ser responsável pela coordenação da Unidade Local de Gestão do Acesso (ULGA).

Em Agosto de 2020, por via das reorganizações internas das equipas de gestão, passei a integrar a equipa de gestão do Departamento de Medicina e poucos meses depois também o Gabinete de Investigação.

Esta rotatividade de responsabilidades é muito importante para um Administrador Hospitalar, em especial porque entende-se que um Administrador Hospitalar deve estar preparado para assumir a direcção de qualquer área das instituições de saúde. A sua polivalência é uma necessidade e meio para conhecer em profundidade as particularidades e exigências da gestão de instituições de saúde. Por outro lado, também é desta forma que um Administrador Hospitalar integrado ao nível da gestão intermé- dia pode preparar-se para assumir cargos de gestão de topo.

Quando assumiu a coordenação do Gabinete de Investigação?

Em Outubro de 2020, quando o Gabinete de Investigação tinha apenas um ano de existência. Anteriormente à criação deste gabinete, os profissionais não tinham apoio, ou orientação interna, para obter as autorizações necessárias e seguir os rigores habituais de tramitação de uma investigação clínica. Faziam-no com maior dificuldade e, muitas vezes, com maior probabilidade de não serem devidamente notadas e reconhecidas pela própria instituição.

Quais os principais objectivos estabelecidos?

O principal objectivo deste Gabinete de Investigação tem sido a criação de uma cultura organizacional de investigação clínica permanente e transversal a todos os profissionais de saúde. A investigação é a origem do saber científico na saúde, é o caminho para a diferenciação técnica dos profissionais de saúde, é o meio para atingir a excelência dos cuidados de saúde prestados.

Quais os maiores desafios?

Quando queremos intervir na área comportamental dos profissionais, numa mudança de paradigma, no âmbito da valorização das competências de investigação, o desafio é chegar verdadeiramente até eles.

É conseguir transmitir que também é relevante esta actividade, no meio de todas as outras a que já são habituais para um profissional de saúde. Alterar a cultura de uma organização é um trabalho construído em várias fases e que só resulta, se existir um reconhecimento desta necessidade, nos diferentes níveis hierárquicos.

Foi necessário integrar nesta missão um conjunto de elementos representativos das várias classes de profissionais de saúde, nomeadamente, duas médicas, uma técnica superior de diagnóstico e terapêutica, uma enfermeira e uma assistente técnica.

Estas profissionais têm sido essenciais para concretizar o conjunto de actividades no sentido da notoriedade da investigação no HDS.

O apoio do Conselho de Administração também tem sido determinante e, com muito agrado, partilho que o processo de contratualização interna de 2023, que envolve a participação de todos os directores de serviços clínicos, incluiu, pela primeira vez, a identificação das actividades de investigação, desenvolvidas pelas equipas multidisciplinares dos vários serviços.

Portanto, foi formalmente reconhecido o esforço e empenho que os diferentes profissionais tiveram no desenvolvimento de investigações. Foi uma novidade significativa para demonstrar aos directores de serviços, departamentos, chefias de enfermagem e técnicos de diagnóstico e terapêutica que a investigação clínica no HDS é importante e também é assunto para discutir-se nos processos de contratualização interna.

Outro grande desafio é o Programa de Promoção de Investigação e Desenvolvimento em vigor para as diferentes instituições do Serviço Nacional de Saúde.

Em que consiste este Programa?

Este programa tem como objectivo premiar e estimular a produção científica realizada. Neste programa as instituições de saúde concorrem entre si pela dotação anual de 2 milhões de euros, que é distribuída pelo peso relativo da pontuação alcançada para o conjunto das patentes registadas, ensaios clínicos finalizados e artigos científicos publicados.

O Gabinete de Investigação tem planeado as suas actividades no sentido de obter o máximo de proveitos financeiros deste Programa, nomeadamente: Investiu em 2022, na formação de um elemento da sua equipa enquanto “study coordinator”, para podermos trabalhar mais activamente com os investigadores que participam em ensaios clínicos; Disponibilizou aos profissionais reuniões de coaching para ajudá-los a optarem pelo desenho metodológico mais adequado aos seus objectivos de investigação – solicitadas por email ao gabinete de investigação; Preparou, para 2023, três formações designado por “Conversas sobre Investigação ao Final da Manhã” no HDS, em que irão ser abordados vários temas formativos no sentido de clarificar dúvidas aos profissionais que pretendem realizar estudos de investigação.

Que balanço faz da investigação desenvolvida e ensaios clínicos realizados no HDS, nos últimos anos?

Faço um balanço muito positivo, dado que nos últimos dois anos, chegamos a ter 14 ensaios clínicos a decorrer em simultâneo. Mas para além do aumento de participações em ensaios clínicos estamos particularmente satisfeitos com o aumento do número de publicações de artigos científicos em revistas com fator de impacto. Estes resultados são decisivos para obtermos uma fatia simpática dos 2 milhões de euros de financiamento anual para o desenvolvimento da cultura organizacional de investigação clínica e transversal a todos os profissionais de saúde no HDS.

Quais os principais projectos para o futuro?

Estamos a preparar a implementação de um concurso anual, para premiarmos o melhor artigo publicado em revista científica.

O regulamento para este concurso ainda está a ser elaborado pela equipa do Gabinete de Investigação e depois será proposto ao nosso Conselho de Administração. Pretendemos começar a colaborar ainda em 2023, com a Sra. Prof. Dr.ª Sandra Oliveira da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém, num Projecto que visa aumentar o número de investigações realizado por alunos da escola e profissionais do HDS.

O nosso Gabinete de Investigação continua a receber apoio e formação da equipa de técnicos do Programa de Mentorias criado pela Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), em parceria com a Associação Portuguesa de Administradores hospitalares (APAH), com o objectivo de ajudar as equipas de investigadores do HDS a concretizar uma candidatura ao Horizonte Europa para hospitais.

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