Uma nova investigação em que participam investigadores do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (UNIARQ), publicada esta terça-feira, 21 de Julho, na revista Scientific Reports, revela que o uso de fogo era uma rotina comportamental há já 400 mil anos. O estudo apresenta os resultados das escavações arqueológicas dirigidas na Gruta da Aroeira, em Torres Novas, entre 2013 e 2017, pelos investigadores da UNIARQ Montserrat Sanz, Joan Daura, e João Zilhão.

Na Gruta da Aroeira foram recolhidos, numa pequena área da cavidade e em dois horizontes de ocupação distintos, vestígios arqueológicos que estiveram sujeitos à acção do fogo: restos de ossos queimados, carvões e vários seixos provavelmente queimados. Torna-se assim plausível admitir que o uso controlado do fogo se tenha espalhado por toda a Europa de forma síncrona, atingindo a Península Ibérica há cerca de meio milhão de anos.

Uma das grandes questões da Paleoantropologia é a identificação do início do uso controlado do fogo, que permitiu aos grupos humanos ampliar a sua dieta, expandir os territórios ecológicos e utilizá-lo como ferramenta de protecção e ataque, o que implica um pensamento complexo, capaz de prever o comportamento do fogo e as necessidades de combustível.

“A produção e uso controlados do fogo permitem cozinhar os alimentos, melhorando a qualidade da nutrição e alargando o leque de plantas comestíveis, e põem à disposição uma fonte artificial de calor e aquecimento dos espaços residenciais sem a qual, na Europa temperada, a sobrevivência humana durante o Inverno teria sido possível”, explica o coordenador da equipa de investigação, João Zilhão.

A combinação dos vários elementos recolhidos na Gruta da Aroeira, designadamente o crânio humano Aroeira 3, associado aos bifaces acheulenses, traz uma complexidade adicional ao debate em torno do comportamento humano durante este período. A Gruta da Aroeira é um dos raros sítios na Península Ibérica com contextos arqueológicos datados de há cerca de 400 mil anos, enquadrados no período conhecido como Paleolítico Inferior.

A sua excepcionalidade está na boa preservação dos vestígios, mas também na associação entre o crânio humano Aroeira 3, a indústria lítica típica do período acheulense e, agora, a confirmação do uso controlado do fogo. Estes três elementos conjugados permitem-nos obter um registo único com novos dados sobre o comportamento das populações do Sudoeste da Europa, no período de tempo entre 700.000 e 125.000 anos antes do presente, de importância crucial para o estudo da evolução humana.

É nesta época que, a partir das primeiras formas humanas aparecidas em África há 2.5 milhões de anos (os chamados Homo erectus), se dá a emergência de populações com capacidades cranianas que entram dentro da margem de variação do Homo sapiens, os antepassados de toda a Humanidade actual.

“O objectivo para os próximos anos de investigação é obter dados para o conhecimento de dois intervalos de tempo para os quais os conhecimentos de que dispomos em Portugal são ainda muito escassos: o período entre há 100 mil e há 250 mil anos; e o período entre há 30 mil e há 70 mil anos”, sublinha João Zilhão.

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