São 77 os atletas que integram o Hóquei Clube de Santarém, divididos por duas modalidades, Hóquei em Patins e Patinagem Artística. Na Patinagem Artística o clube compete do escalão de iniciação até júnior com 30 atletas. Já no Hóquei em Patins, os 47 atletas competem nos escalões de Benjamins, Escolares, Sub-13 e Seniores. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, Filipe Ricardo, o presidente do clube escalabitano destaca o impacto negativo desta paragem devido à pandemia covid-19, tanto a nível desportivo como financeiro para o clube e pais dos atletas.
Qual é o balanço que faz desta temporada?
Dado o actual contexto da pandemia da covid-19, que afectou o nosso país e condicionou de forma radical a nossa vida clubística e ao mesmo tempo as nossas vidas pessoais, logicamente afectou e de que maneira a temporada desportiva do clube. Como sabe o clube ao possuir duas modalidades, o impacto da declaração do estado de emergência com o respectivo confinamento de todos nós levou em primeiro lugar, à suspensão de todas as competições e actividades em que o clube estava envolvido (ou iria estar) e depois ao seu cancelamento. Tentando ser um pouco mais objectivo, direi que ao nível da Patinagem Artística (PA), o balanço é extremamente negativo (a época desportiva da modalidade tem a duração do ano civil), uma vez que os atletas ainda não participaram em nenhuma competição este ano, o que como se pode imaginar é extremamente desmotivante pois toda a preparação que estavam a fazer desde o início do ano, não pode ainda ser testada e quando se puder voltar a treinar com regularidade têm de começar do zero. Ao nível do Hóquei em Patins (HP), a época estava em andamento e ao nível dos escalões de formação (benjamins, escolares e Sub-13) e seniores, as competições decorriam normalmente com os atletas a irem conseguindo atingir os objectivos propostos no início de época, mas com a paragem, cancelamento das provas e campeonatos nunca chegaremos a saber se os objectivos individuais e colectivos iriam ser alcançados ou não.
Que impacto teve esta paragem para o clube?
O real impacto que toda esta problemática da covid-19 teve para o clube ainda estamos a avaliar. Para já tem um impacto muito negativo ao nível desportivo, pois com a paragem/cancelamento de todas as actividades desde o inicio do mês de Março faz com que até agora não haja resultados significativos a contabilizar ao nível do HP, a não ser a classificação da equipa de Sub-13 para disputar a Taça AP Lisboa, competição que não chegou aos seu término. E para os atletas de PA, do clube acabaram por não iniciar a época desportiva.
Outro impacto também muito importante, prende-se com o investimento que os pais dos atletas fizeram em fatos (nomeadamente na PA), patins e outro tipo de equipamentos, que com esta paragem e com o normal crescimento dos atletas os mesmos podem nunca vir a ser usados. Esta paragem fez com que também fosse cancelado o nosso Festival de Patinagem Artística que estava agendado para o passado mês de Março e que como se pode imaginar, depois de toda a logística montada e organizada e depois de cancelar o evento cerca de duas semanas antes, para além dos custos desportivos, tem custos económicos que tivemos que suportar, sem obter retorno.
Por outro lado tem custos financeiros, uma vez que a principal fonte de receita do clube são mensalidades pagas pelos atletas, que por decisão da direcção o seu pagamento encontra-se suspenso até que se possa voltar a ter uma actividade normal, com treinos e competições.
O clube tem também uma preocupação social, continua a pagar cerca de 1/3 da remuneração aos treinadores, como forma de garantir a sua ligação ao clube e para que não sintam que são descartáveis e esquecidos com toda esta problemática.
Há ainda um custo que neste momento não conseguimos contabilizar, que é saber de depois desta paragem todos os atletas regressarão para continuar a prática de desporto e continuar a crescer no HCS de forma sustentada e saudável. Para já, o que sabemos é que para a próxima época iremos seguramente perder escalões de HP, pois devido a esta paragem não estarem reunidas condições para a sua continuidade, como sendo o escalão de seniores e o escalão de sub-15.
O HCS é um clube formador. Formar é o grande objectivo do clube?
O HCS, na sua génese, é um clube formador. E creio que esse deve ser o caminho a seguir pelo clube, embora não descorando a competição. Ou seja, os atletas que são formados pelo clube devem ter também o objectivo de um dia poderem entrar “em competição”, quer seja ao nível da PA, com atletas a disputar as grandes competições nacionais e quem sabe chegarem à Selecção Nacional, quer ao nível do HP, onde os atletas possam evoluir e um dia poderem competir num campeonato de seniores ou chegarem à selecção.
Mas para tudo isto é preciso continuar a formar atletas, mas para formar atletas neste momento, há que apostar forte, como nunca, na captação de jovens atletas para poder formar mais e melhores atletas, e quem sabe no futuro ser uma referência na formação de atletas de HP e PA.
Como é que atletas e treinadores realizaram os seus treinos durante este período?
Esse foi um desafio que o clube acabou por lançar aos treinadores e atletas, o de tentar manter a ligação que se quebrou com a suspensão das actividades regulares e o cancelamento das competições. Desta forma atletas e treinadores têm tentado dentro do possível manter contacto através de plataformas digitais. Os treinadores têm tentado estimular a prática de exercício físico em casa, neste período de isolamento. Por outro lado, têm mantido conversas com os atletas de forma a ir aquilatando o seu estado de espírito e também dando alguns “treinos teóricos”, sobre alguns aspectos das modalidades.
Quais são os objectivos do clube?
Os objectivos imediatos é o retomar a normalidade do clube, quer seja com a regularidade dos treinos, bem como, em provas e competições. O seguinte é o apostar fortemente na captação de novos atletas, que como se calcula este ano não tem havido, para que a viabilidade e vitalidade do clube não possa estar em causa de futuro e com isso continuar a apostar na formação de atletas.
Qual é a perspectiva de futuro depois desta pandemia?
Não se pense que tudo será como antes, depois desta pandemia. Tenho esperança que consigamos ultrapassar toda esta situação, que ainda não sabemos quando irá terminar, vivos e com alguma vitalidade para seguir em frente. Os tempos que virão não são fáceis, e enquanto os clubes não retomarem actividade após toda esta crise, haverá impactos negativos não só a nível da economia dos clubes, na saúde e bem-estar dos jovens atletas. Como tal creio que o clube terá de se reinventar para poder ultrapassar esta situação, não só na forma como capta e mantém atletas bem como também no que pode oferecer aos atletas. Mas só conseguimos superar tudo isto a união e o contributo de todos, em torno de um HCS, maior e mais forte.
Que mensagem quer deixar aos elementos que compõe o HCS?
Em primeiro lugar quero começar por agradecer aos atletas, pelo entusiasmo que colocaram nos treinos, a dedicação que colocam em representação do clube, a entrega que colocaram nos jogos/provas, a alegria e boa disposição que transportaram, fazem com que valha a pena continuar a batalhar e a lutar pelo futuro do clube. Aos treinadores, pois também estão sempre à disposição do clube e dos nossos atletas, para que nada lhes falte. Aos pais, que estão sempre dispostos a acompanhar os seus atletas, seja através do sacrifício da sua vida pessoal nas deslocações e transportes aos treinos/jogos, seja através da sua disponibilidade e boa vontade para colaborar e participar nas iniciativas do clube. Por fim, a todos os colegas de direcção, delegados e demais colaboradores. A sua força de vontade, voluntariado e disponibilidade foram importantíssimos nas diversas tarefas e nos apoios logístico e administrativo.
Terminada esta situação de pandemia, iremos voltar, temos futuro e com a união de todos iremos conseguir fazer com que o HCS continue a crescer saudavelmente pois “quem não tem coragem para arriscar, não conquistará nada na vida”…