João Luís Pereira Maurício, professor aposentado, natural da Benedita, acaba de lançar um livro sobre a história agrícola daquela freguesia e das suas gentes.
O autor afirma que este livro pretende ser um “modesto trabalho” sobre a temática, e recorda os tempos em que aquela zona era terra era fértil, produzindo “azeite, milho, trigo, fava, feijão e frutas”.
“Há setenta e mais anos, a terra era, sem dúvida, uma verdadeira comunidade rural, um grupo social homogéneo em que todos eram a mesma realidade com os seus padrões religiosos, sociais e culturais.
Trabalho, seriedade e honradez eram um triangulo de valores q passavam de geração em geração”, refere João Luís Pereira Maurício.
“Nesse tempo”, continua, a Benedita “era uma terra pobre, muita gente ia para o Ribatejo, para as culturas do milho, do trigo, para a apanha da azeitona, para as vindimas, facto que se verificou até ao início dos anos sessenta do século passado”.
“Em tempos ainda mais recuados, nos finais do século XIX, ia-se trabalhar para Lisboa, para as mondas e ceita do trigo na zona das actuais avenidas novas. Até à década de sessenta do século passado, em algumas zonas ouvia-se cantar o cuco. Ele saudava o aparecimento da Primavera e começava o seu canto, normalmente, um pouco antes do amanhecer. A chegada do cuco, para os agricultores beneditenses era importante. Por exemplo, a poda das videiras deveria ser feita antes do cuco chegar”, escreve ainda o autor nesta obra que aborda ainda os bailes que se faziam nesses tempos e apresenta um enquadramento social.
“Nos anos trinta e quarenta, nascia-se em casa. Quase toda a gente era pobre. Os rapazes e as raparigas iam para a escola a pé, à chuva e ao frio, e descalços, pisando as poças de água geladas no Inverno. As escolas não tinham aquecimento e ganhavam-se frieiras nos dedos. Nas aldeias, não avia luz eléctrica, nem telefone, nem água canalizada. A água existente era, exclusivamente das chuvas, guardada em poços ou cisternas, como se fosse outro. As propriedades eram divididas por muros toscos de pedra. Enfardar palha, malhar o milho, espalhar o adubo, lavrar, sulfatar, podar, varejar a azeitona, eram tarefas de rotina. Era o ritmo dos trabalhos agrícolas. Rituais que estavam enraizados no quotidiano, mas que hoje, já desapareceram”, pode ler-se na nota introdutória.