O marchador português João Vieira confirmou hoje ser “especial” com a 14.ª presença consecutiva em Campeonatos do Mundo de atletismo, ao terminar a prova dos 35 quilómetros marcha no 20.º lugar.
“Eu já não sou um jovem para conseguir andar com os da frente, por isso, tenho de estar contente com o resultado que atingi. Fui 20.º e vim para aqui como 40.º, ultrapassei metade e isso é importante para mim. A minha treinadora [e esposa, a antiga marchadora Vera Santos] costuma dizer que se fosse para todos, não era para mim, porque diz que eu sou especial”, recordou, emocionado, o elemento mais veterano da delegação portuguesa.
Aos 49 anos, o atleta do Sporting terminou os 35 quilómetros iniciados e concluídos no interior do Estádio Nacional do Japão em 02:38.20 horas, quase 10 minutos depois do vencedor, o canadiano Evan Dunfee, primeiro campeão de Tóquio2025, depois do bronze nos 50 quilómetros em Doha2019, em que Vieira se tornou no mais velho medalhado de sempre, ao conquistar a prata, então com 43 anos.
“Tenho de estar satisfeito com o meu resultado, apesar de, este ano, ter estado aqui sem a minha treinadora, estou aqui de pedra e cal e provei que mereço estar aqui”, vincou o medalha de bronze em Moscovo2013, mas nos 20 quilómetros marcha.
O desafio, além de selar o recorde de participações (14), mais uma do que o também marchador espanhol Jesús Ángel García, era cruzar a meta.
“O primeiro objetivo era terminar a prova. Era o mais importante, porque nos últimos Campeonatos do Mundo não terminei as provas de 35 quilómetros. Acabei de cabeça erguida, depois de ter lutado com todas as minhas forças, apesar do percalço à saída do estádio”, salientou.
Daí para a frente, com mais de 30 quilómetros para percorrer, ao longo dos quais ultrapassou duas dezenas de atletas, manteve o foco, com o pensamento na família.
“Continuei com a mente forte para poder dedicar esta prova à minha treinadora e esposa e à minha filha, que são as pessoas que estão comigo todos os dias, todas as horas, todos os minutos, a controlar o meu treino e o meu descanso. Saio satisfeito, 15 Campeonatos do Mundo são muitos campeonatos, é verdade que não tive só sucessos, mas vamos continuar na luta e eu vou querer estar aí, com as mesmas ganas”, prometeu.
Ao decano da marcha mundial fica agora a faltar o recorde do mais velho participante, isto porque hoje, o português nascido em Portimão e radicado em Rio Maior, é 101 dias mais jovem do que Jesús Ángel García em 29 de setembro de 2019, que, nessa mesma prova, no Qatar, se tornou no mais velho de sempre em Mundiais com 49 anos e 346 dias
Em contraponto com a experiência de Vieira, estreou-se Joana Pontes em Mundiais, ao melhorar o seu recorde pessoal, fixando-o em 03:09.07 horas, menos dois minutos do que o anterior (03:11,18, que tinha sido alcançada em julho), terminando no 27.º lugar.
“Eu estou mesmo bastante satisfeita e saio daqui muito motivada para continuar a trabalhar. Para mim, foi uma prova de superação. Não esperava fazer um recorde pessoal tão bom, nestas condições, e acabei por ficar nas 30 primeiras”, realçou a atleta do Leiria Marcha Atlética, que tinha também como objetivo evitar as penalizações.
Na segunda metade da corrida, a também fisioterapeuta superou 11 rivais, muito pela estratégia cautelosa com que abordou a prova.
“Tive de começar com alguma calma, tentar encontrar um grupo que fosse ao meu ritmo. Tive sempre companheiras e isso ajudou bastante. Depois, ao longo da prova, fui ganhando lugares e, seguindo de trás para a frente, também foi bastante motivante”, explicou Joana Pontes, assegurando que a experiência e o ambiente deste Mundial a deixou ainda mais motivada a trabalhar para voltar a estes palcos.