O jogo entre o União de Tomar e o Sport Lisboa e Cartaxo, a contar para a primeira jornada do Campeonato Distrital de Juvenis da Associação de Futebol de Santarém, que acabou empatado sem golos, foi disputado a 14 de Outubro, mas continua a ser “jogado” nas redes sociais, depois de conhecidos os castigos aplicados a três elementos do SL Cartaxo, aos jogadores Daniel Souza, com três meses de suspensão por “conduta violenta” e João Murteira, a quem o conselho de disciplina aplicou dois jogos de suspensão por, alegadamente, “usar linguagem e/ou gestos ofensivos, injuriosos ou grosseiros”; e ao treinador da equipa, Paulo Murteira, a quem foi instaurado um processo disciplinar.

Paulo Murteira, treinador e pai de João Murteira, enviou uma exposição à Associação de Futebol de Santarém explicando a sua versão dos acontecimentos, referindo que, no final da partida, alguém que assistia ao jogo, que segundo o árbitro do encontro, Carlos Lopes, “foi extremamente bem disputado, decorrendo com uma conduta correcta por parte dos agentes desportivos presentes, até ter sido dado o apito final”, terá chamado “filho da p…” ao atleta do SL Cartaxo, João Murteira.

Acontece que Paulo Murteira é pai do jovem João e ambos perderam a mulher e a mãe, muito recentemente, encontrando-se fragilizados por esse facto.

Assim, segundo o testemunho de Paulo Murteira, o seu filho terá pedido ao árbitro que tomasse “alguma medida porque tinha perdido a mãe há poucos dias”, perante as agressões verbais de que estava a ser vítima, oriundas da bancada.

Terá sido nessa altura que o juiz da partida mostrou o cartão vermelho a João Murteira que o questionou sobre o porquê dessa sanção que aconteceu já depois do apito final do árbitro.

Os ânimos exaltaram-se e, como explica Paulo Murteira na sua exposição, “alguns jogadores do plantel do SL Cartaxo dirigiram-se para a bancada, revoltados com as ofensas de um energúmeno que na bancada continuou a chamar “filho da p…” ao colega da sua de equipa que tem 15 anos e que havia perdido a mãe há cerca de uma semana”.

O treinador, acrescenta, dirigiu-se à bancada para “acalmar os meus jovens jogadores e coloca-los a todos dentro do balneário para evitar um avolumar de problemas”. Paulo Murteira aceita a expulsão por ter ido à bancada, mas alega que foi apenas para “retirar” de lá os seus atletas.

O treinador pretende com a exposição feita “que situações como esta não voltem a acontecer” e garante que o seu atleta e filho, João Murteira, “teve um comportamento exemplar”.

Segundo Paulo Murteira, “esta é uma situação muito dura para um pai que depois de tudo isto [morte da esposa] ouve estas frases do filho: “venho para o futebol para tentar recuperar da morte da mãe e ainda vou daqui pior”, “não percebo porque o árbitro não me ajudou, esta também é a função dele””, relata o treinador dos juvenis do SL Cartaxo.

Paulo Murteira sublinha ainda o comportamento do treinador e delegado do União de Tomar que foram “extraordinários” perante toda esta situação, bem como o agente da PSP presente no recinto desportivo.

Entretanto, o Sport Lisboa Cartaxo reagiu em comunicado com “indignação e repúdio” aos acontecimentos e aos castigos e diz-se “completamente solidário”, com o seu treinador, Paulo Murteira, e com os seus atletas Daniel Souza e João Murteira, e que “irá até às últimas consequências e instâncias para que situações idênticas não voltem a acontecer”.

“O clube está sempre disponível para ajudar a valorizar o Futebol do Distrito de Santarém condenando quaisquer actos de violência dentro e fora do campo”, conclui o SL Cartaxo.

Árbitro reage em comunicado

Carlos Lopes, o árbitro da partida, já reagiu em comunicado aos acontecimentos do dia 14 de Outubro no Estádio Municipal António Fortes, em Tomar e também explica a sua versão dos acontecimentos.

Afirma que João Murteira se dirigiu à equipa de arbitragem “com linguagem injuriosa e completamente inapropriada” e alega que o treinador Paulo Murteira “agarrou-me no interior do rectângulo de jogo, impedindo-me de me juntar aos restantes elementos da minha equipa, tendo posteriormente tomado parte activa nos tumultos existentes fora do terreno de jogo, motivo pelo qual foi considerado expulso”.

O juiz da partida refere ainda que existiram “desacatos na bancada, entre adeptos dos dois clubes, aos quais se juntaram intervenientes no jogo por, alegadamente, terem sido usados termos grosseiros para com o jogador referenciado” [João Murteira].

“Face ao que se estava a passar na bancada”, prossegue o árbitro Carlos Lopes, “houve mais um jogador [Daniel Souza], colega de equipa do atleta referenciado, que por tomar parte activa nos desacatos fora considerado expulso e que, como em todas as situações acima elencadas, de acordo com o relatório elaborado, fora castigado pelo Conselho de Disciplina com 3 meses de suspensão”.

Carlos Lopes refere que desconhecia o facto da morte da mãe do jovem atleta cartaxense e que só tomou conhecimento desse facto quando foi “abordado por diversos elementos afectos ao S.L Cartaxo, tendo obtido a informação, pela primeira vez, da morte da mãe do atleta”, defende.

Segundo o juiz da partida, a posição do treinador Paulo Murteira “deturpa de forma grave o sucedido, havendo um claro aproveitamento de toda a situação para tentar limpar e ficar bem na fotografia, tentando, uma vez mais, manchar a imagem da arbitragem e, neste caso em particular, dos elementos que constituem a minha equipa, sendo criada uma narrativa em que é invertida a ordem dos acontecimentos”, refere no comunicado.

Apesar de à redacção do Correio do Ribatejo não ter chegado, até ao fecho desta edição, uma posição do Conselho de Arbitragem da A. F. Santarém sobre este caso, Carlos Lopes assegura que tem o apoio desse órgão de quem recebeu “uma mensagem clara de tranquilidade face ao ocorrido, tendo-me sido dito para continuar com os desempenhos, como até então”.

Garante ainda que “de forma peremptória que a expulsão do jogador [João Murteira] ocorreu antes do mesmo, alegadamente, ter sido insultado”, refere o árbitro da partida na recta final do seu longo comunicado que termina com uma mensagem dirigida ao jovem atleta: “endereçar uma força inestimável ao jogador, João Murteira, a quem devo todo o respeito, quer enquanto atleta, quer enquanto ser humano, que se erga, supere a cada dia e que seja feliz, no seu futuro, a fazer aquilo que mais gosta”.

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