Decorreu no Cine-Teatro de Rio Maior, na passada sexta-feira, dia 13 de Outubro, um Seminário Internacional subordinado ao tema “Jogos Tradicionais Europeus – De Todos para Todos”, que teve como oradores o Prof. Jorge Carvalho, o Prof. Pere Lavega, Presidente da Associação Europeia de Jogos e Desportos Tradicionais (AEJEST), e o Prof. Guy Jauen, Presidente da Federação Internacional dos Desportos e Jogos Tradicionais, sendo participantes os delegados estrangeiros à XXII Assembleia Europeia da AEJEST e os dirigentes, animadores e praticantes das associações activas em Portugal e que integram a Federação Portuguesa dos Jogos Tradicionais.

Após o acolhimento de todos os participantes teve lugar uma breve sessão de abertura, na qual usou a palavra em primeiro lugar o Eng.º Luís Santana Dias que, na qualidade de presidente do Município de Rio Maior, saudou todos os presentes a quem desejou boa estadia no seu Concelho, e em seguida agradeceu à Federação Portuguesa dos Jogos Tradicionais o desafio que lhe foi colocado para colaborar nesta iniciativa, em parceria com o Município de Santarém. Assumiu a importância deste tipo de eventos no contexto de Rio Maior – Cidade do Desporto, e que, em colaboração com as diversas entidades instaladas no concelho, tudo fará para corresponder às solicitações apresentadas, pois tem a mais funda convicção de que a dinamização da prática dos jogos tradicionais vai ao encontro das necessidades de proporcionar a todos uma vivência mais sadia e solidária.

Em seguida usou a palavra o Dr. Nuno Domingos, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Santarém, que teve palavras de muito apreço para as entidades envolvidas neste projecto, reconhecendo a sua importância na formação de uma sociedade melhor. Salientou a medida que muitas escolas estão a tomar condicionando o uso de telemóveis durante o período escolar e deu nota de que esta medida, apesar de ainda estar muito no início, já permite constatar uma interacção maior entre os alunos e fomentar a prática de algumas actividades físicas.

O Prof. Pere Lavega, na sua qualidade de presidente da Associação Europeia, teceu os maiores elogios a esta iniciativa e destacou a importância dos Jogos e desportos tradicionais na formação dos jovens, posto que, na sua convicção, ao contrário do que muitas vezes se afirma, a prática dos jogos tradicionais constitui um instrumento de valorização social apontado na construção de uma sociedade moderna, mais justa e equitativa. Por outro lado, o respeito pelos valores intrínsecos aos jogos há-de permitir construir uma sociedade mais harmoniosa e evoluída.

A finalizar a sessão de abertura do Seminário Internacional usou a palavra o Presidente da Federação Portuguesa de Jogos Tradicionais, Dr. João Alexandre, que saudou todos os participantes, nacionais e estrangeiros, salientando a importância deste Seminário contar com um painel de especialistas ao nível máximo em termos mundiais, pois os três palestrantes são figuras de elevada reputação técnica e com vasta e qualificada obra produzida. Em seguida teceu palavras de sentido reconhecimento aos Municípios de Rio Maior e de Santarém, sem cuja colaboração não seria possível meter ombros a uma iniciativa desta natureza, que envolve delegados de catorze países europeus.

“De Todos para Todos”

O Prof. Jorge Carvalho abordou a problemática dos jogos tradicionais na perspectiva da inclusão social, da equidade e da diversidade, e da subsidiariedade com todas as práticas desportivas, formais ou informais, pelo que se revela de grande relevância a possibilidade de adaptação dos jogos tradicionais aos mais diversos contextos.

Constatando-se que 86% da população mundial é, por alguma razão, considerada vulnerável, torna-se imperioso estimular a prática de actividades lúdicas e desportivas onde não haja nenhum tipo de discriminação, seja em relação aos cidadãos com deficiência, ou aos emigrantes, ou às pessoas com diferentes opções de género, ou de qualquer outra natureza.

Apesar de haver basta legislação aplicável neste domínio, constata-se que na sua maioria não está regulamentada ou não é devidamente assumida pelos agentes envolvidos, que fazem tábua rasa do espírito da lei. Em bom rigor, não há nenhum desporto integralmente inclusivo, posto que ainda que haja actividades desportivas entre pessoas com deficiência, estas estão sempre afastadas das pessoas sem deficiência, pelo que não existe uma interacção entre todos.

Os jogos tradicionais permitem em muitos casos este tipo de convivência, na medida em que não havendo um quadro regulamentar padronizado, torna-se viável ajustar as próprias regras do jogo às condições físicas e cognitivas dos seus participantes.

O Prof. Guy Jauen começou por referir- se ao facto de os Jogos Tradicionais Populares terem sido classificados pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade, o que consagra desde logo a importância social destes jogos.

É no princípio antropológico que assenta a grande riqueza dos jogos, cuja diversidade em alguns detalhes técnicos, que nem sempre na sua essência, permite a afirmação identitária de uma comunidade, por contraste com as restantes. É nesta perspectiva que deve ser muito ponderada a “desportificação” dos jogos, pois a massificação e a padronização associadas ao estabelecimento de um quadro competitivo, tenderão a desvirtuar a natureza singular e específica de cada variante do mesmo jogo. Assim, os jogos tradicionais autóctones devem resultar da interacção cultural entre os membros de uma comunidade e deverão reflectir a trajectória comunitária dos mesmos, estruturada com base nos rituais e nas práticas lúdicas comuns.

O Prof. Pere Lavega abordou na sua comunicação a importância dos jogos tradicionais como afirmação do respeito mútuo entre todos os praticantes, sendo primordial que todos assumam a prática dos jogos como um factor de superação pessoal e não tanto pelo desígnio dos resultados obtidos. O espírito comunitário e a tolerância entre todos são princípios associados à criação dos jogos desde os tempos mais remotos, sendo de considerar o facto de não haver um quadro regulamentar muito hermético e de a prática dos jogos, através dos valores cívicos que lhes estão subjacentes, assumirem um carácter de muito relevo na transformação da própria sociedade.

Uma comunidade que pratica os jogos tradicionais de uma forma espontânea, cultiva os valores da convivência social, onde ninguém está excluído, seja velho ou novo, rico ou pobre. São inúmeros os valores associados à prática dos jogos tradicionais, os quais são constitutivos de uma sociedade plural, inclusiva, democrática e solidária, pelo que a dinamização desta prática é uma forma de harmonizarmos a vida em sociedade, o que é cada vez mais necessário e importante.

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