A equipa de voluntárias ‘Asas pela Vida’ conseguiu angariar, no ano passado, na oitava FestAzul, um total de 26 mil euros, tendo esta verba sido atribuída em benefício do Lar dos Rapazes – valência da Santa Casa da Misericórdia de Santarém (SCMS) – que tem como principal missão proteger e salvaguardar os direitos das crianças que aí habitam, no que respeita à saúde, educação, socialização, privacidade e recreação.

A verba, que atingiu, segundo a organização, um valor “recorde” permitiu a realização de um conjunto de intervenções no edifício, beneficiando os jovens que estão à guarda da instituição

Para Ana Pedro, directora técnica do Lar dos Rapazes, é sempre “uma mais-valia qualquer apoio que a comunidade nos possa dar. E, efectivamente, o apoio da Festa Azul, por ser uma quantia mais ‘robusta’, permitiu que pudéssemos alocar essa verba para melhorar condições físicas do espaço do Lar dos Rapazes”.

“Nós estamos num edifício antigo e, como é obvio, as instalações vão precisando de manutenção, algumas de obras mais a fundo”, disse ao Correio do Ribatejo, acrescentando: “os balneários e casas de banho já estavam num estado um pouco mais degradado e foi onde fizemos o maior investimento”.

O mesmo tempo que recebeu o apoio da Festa Azul, a instituição fez, igualmente, uma candidatura ao programa de iniciativas descentralizadas e conseguiu também algum apoio complementar.

“O que fizemos foi juntar essas duas verbas e melhorámos, demos uma nova cara, ao edifício. Foi uma grande alteração na parte dos balneários e casa de banho, e depois ainda conseguimos comprar camas novas e vamos fazer armários novos à medida para os quartos dos miúdos”, transmitiu a responsável ao nosso jornal.

De futuro, o Lar dos Rapazes espera ainda ter fundos para mudar o chão, mas para já não será possível.

Contudo, segundo Ana Pedro, foram melhoradas, em grande medida, “as condições de conforto destes jovens, que têm as suas famílias, mas acabam por estar aqui muito tempo”.

“Esta ajuda permite fazer obras que normalmente não seriam possíveis, porque o dinheiro vai para os gastos do dia a dia, para o essencial”, acrescentou.

Para a directora técnica, estas iniciativas são formas de reforçar laços na comunidade, até pela visibilidade que dão ao trabalho realizado por estas instituições de cariz social.

“É uma forma de estarmos mais próximos, viemos no início desta semana para a colónia de férias e um miúdo perguntava-me: “Vai à festa azul?”. Eu disse que claro, que ia. Este ano não é para nós, mas não nos podemos esquecer do que fizeram. É uma forma dos miúdos se sentirem mais integrados na comunidade também. Eles ficam com uma rede de suporte diferente, que é muito importante para a própria integração deles e para a sua auto-estima”, concluiu.

O Lar dos Rapazes é a resposta mais antiga da Santa Casa, surgiu como Asilo da Misericórdia envolto no conceito das mercearias (como era costume na época) para proporcionar aos pobres alimentação e outros cuidados.

A sua história remonta ao século XIV, uma vez que é nessa altura que é fundado o Hospital dos Inocentes, destinado ao acolhimento de crianças expostas. Fundado como Asilo de Órfãos em 1873, funciona, desde sempre, no Palácio Visconde da Fonte Boa, tendo nos anos 50 alterado a sua designação para “Lar dos Rapazes”.

Em Setembro de 2002, sofreu uma profunda remodelação, para se adequar à realidade dos jovens que acolhia. O modelo tradicional de funcionamento, regia-se até então por um forte factor proteccionista onde o objectivo era prover comida, roupa, saúde e educação. As sucessivas alterações políticas e sociais do País e o consequente aumento da escolaridade obrigatória, veio exigir um maior grau de competências escolares, o que pressupunha um maior investimento nas áreas cognitivas e emocionais.

Por isso, o Lar foi progressivamente reduzindo o número de educandos. Esta alteração permitiu que a relação educando/adulto se tornasse mais próxima.

O espaço físico foi reestruturado, passando o Lar a ocupar somente o primeiro andar da ala esquerda do edifício. Pretendeu-se desta forma que o espaço físico reflectisse o mais possível uma “casa de família”, onde as divisões são mais pequenas, acolhedoras e personalizadas. Em cada quarto passaram a dormir três jovens, consoante as faixas etárias. As rotinas diárias foram alteradas no sentido de promover uma maior implicação e responsabilização.

O Lar dos Rapazes, tem um acordo de cooperação com os Serviços da Segurança Social para o acolhimento de 12 crianças/jovens. Actualmente acolhe 12 rapazes com idades entre os 11 e os 19 anos.

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