Prestes a atingir trinta anos consecutivos de realização, o Carnaval da Linhaceira, é hoje um dos mais conceituados do Médio Tejo, atraindo grande número de visitantes dos concelhos limítrofes. Distingue-se pela qualidade dos carros, guarda-roupas e quadros apresentados, que têm a particularidade de serem todos eles criados e produzidos nesta aldeia tomarense e nalgumas das suas vizinhas.

Sem artistas famosos, nem sucedâneos de samba, o corso linhaceirense vive da sua própria genuinidade, com uma sarcástica visão do estado do mundo, desde o âmbito local ao global, que foi beber às antigas práticas do entrudo que sempre tiveram grande expressão naquela aldeia.

Nas semanas que antecedem o evento, praticamente toda ela se envolve na sua preparação e no desafio de conceber novas ideias ou de recriar de forma perfeita personagens conhecidos. E fazem-no com tanto engenho e dedicação que há quem tenha criado a partir daí o seu próprio modo de vida.

Igualmente relevante é o conceito de sustentabilidade deste Carnaval. Criado pelo povo e com apoios financeiros relativamente reduzidos, a reutilização e reciclagem de materiais e de estruturas é nele uma constante – por exemplo, transformando um carro alegórico de grande dimensão, originalmente preparado para ser um cavalo de Tróia, sucessivamente numa galinha, num elefante ou num cisne.

O corso, que percorre as ruas da aldeia na tarde de domingo gordo, conta com cerca de duas dezenas de carros alegóricos, diversos grupos organizados e alguns foliões individuais. De sábado a terça-feira, todas as noites existem bailes, no decorrer dos quais acontecem outros momentos tradicionais, como a eleição do melhor mascarado ou o concurso de fatos de papel. Igualmente tradicional é o almoço de reis, no início de Janeiro, no qual os reis e rainhas dos anos anteriores escolhem os do ano corrente.

A tradição é relevante na Linhaceira. Os relatos orais dão conta de como já nas primeiras décadas do século XX o entrudo era intensamente festejado na aldeia, com partidas frequentes a que ninguém era incólume. Mas também os festejos públicos eram habituais, com encenações de rua, ranchos e orquestras de Carnaval.

Daí à criação de um evento devidamente organizado foi um passo, simples e sustentado, que se concretizou com o envolvimento da Associação Cultural e Recreativa local, a partir de 1991. Com uma criatividade que nunca se esgotou e que tem sido patente em actividades paralelas como uma divertida rábula a propósito da iminente criação de um aterro sanitário nas imediações da aldeia, um jornal satírico (o “Carlitos Periódico”) pouco depois do ataque ao “Charlie Hebdo”, um concurso de fotografia em 2018 ou os enterros e desenterros do entrudo.

Hoje o maior centro populacional do concelho a seguir à cidade de Tomar, com cerca de um milhar de habitantes, Linhaceira aparece já referida em documentos do início do século XVI. Localizada no centro da freguesia de Asseiceira, acolhe alguns dos principais equipamentos comunitários da mesma e tem contado com uma intensa vida associativa, cultural e desportiva. Ao longo do ano de 2018 comemorou com um vasto programa o centenário da sua primeira escola. E tem abertas as portas para o futuro com o Salão Multiusos da Associação Cultural e Recreativa (o único espaço do género criado no concelho na última década) e o Centro Escolar em construção junto àquele, e com o qual vai funcionar em articulação.

Situada bem no centro do país, tem acessos pelas autoestradas A13 ou A23, ficando também muito perto da confluência das linhas de caminho-de-ferro no Entroncamento e da estação de Santa Cita, no ramal de Tomar.

Podem conhecer toda a História do Carnaval da Linhaceira, ano a ano, bem como diversos apontamentos sobre os primórdios do entrudo na aldeia, no blogue Biblioteca de Temas Linhaceirenses (que em breve vai completar seis anos de publicações diárias sobre a História da aldeia e da freguesia em que se insere), em: https://bibliotecalinhaceira.blogspot.com/2016/03/toda-historia-do-carnaval-da-linhaceira.html

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