A Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo e a Misericórdia de Mação assinaram um acordo de cooperação para fixar uma médica de família num concelho onde 75% da população não tem clínico atribuído, segundo o município.

“É relevante para o concelho em virtude da situação dramática que temos de falta de médicos”, disse hoje à Lusa o presidente da Câmara de Mação (Santarém), Vasco Estrela.

De acordo com o autarca, o concelho, composto por mais de 120 aldeias e cerca de sete mil habitantes, vive uma “situação muito complicada, com cerca de 4.300 utentes sem médico de família”, o que corresponde a “75% dos utentes inscritos no centro de saúde”.

Em comunicado, a ULS Médio Tejo indicou que o protocolo assinado com a Santa Casa da Misericórdia de Mação “garante a realização de mais consultas médicas para os habitantes, em particular junto dos utentes sem médico de família atribuído, ou cujo médico esteja temporariamente ausente”.

Ainda segundo a ILS Médio Tejo, “a partir de agora, a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Mação contará com 35 horas semanais de consultas médicas adicionais, prestadas por profissionais contratados pela Santa Casa da Misericórdia de Mação”, nas instalações da UCSP de Mação.

“Através desta parceria, os utentes terão acesso a consultas de rotina, acompanhamento de doenças crónicas e outros serviços, garantindo cuidados de saúde mais próximos e acessíveis”, indicou a ULS.

O acordo feito estabelece que à ULS cabe pagar 27 euros/hora à profissional de saúde, através da Misericórdia de Mação, com o município a assegurar “dois euros/hora para as despesas administrativas que a Santa Casa tem neste processo”, declarou o presidente da Câmara.

Os acordos “Bata Branca” são realizados com Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e misericórdias em locais com menos cobertura de médicos de família, funcionando como uma resposta complementar ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A médica já estava ao serviço em Mação, no âmbito do programa de incentivos municipal, mas atingiu o limite de idade para ter vínculo ao SNS pelo que se recorreu ao programa “Bata Branca” para a manter, precisou à Lusa Vasco Estrela.

“Esta clínica já estava a prestar serviço no Centro de Saúde, contudo, uma vez que fez 70 anos, atingiu a idade limite para ter contrato com o SNS e tivemos de utilizar esta forma, que é legal, no sentido de estar a prestar serviço de saúde através da Santa Casa da Misericórdia, o chamado programa Bata Branca”, afirmou.

O presidente da Câmara de Mação insistiu ainda na “situação muito complicada” do município em termos de acesso a cuidados de saúde de proximidade, mesmo após ter conseguido contratar duas médicas ao abrigo do regime de incentivos municipal, no valor de 2.500 euros/mês, uma das quais a que passará agora a integrar o programa “Bata Branca”.

“As duas clínicas que estão a prestar serviço através do regime de incentivos não podem ter ficheiro e serem médicas de famílias, na verdadeira aceção da palavra. De facto, em termos concretos, só temos uma médica que seja considerada médica de família e que está já à espera da aposentação há algum tempo. Portanto, a situação no concelho de Mação é muito complicada”, salientou Vasco Estrela.

Além disso, continuou, “acresce o facto de todas as freguesias, com exceção da sede de concelho, estarem sem médico de família”.

“É um assunto que me preocupa cada vez mais porque penso que podíamos tentar encontrar aqui uma forma de estas médicas poderem também, pontualmente, irem a algumas freguesias prestar serviços de apoio”, declarou o autarca.

O provedor da Misericórdia de Mação, por sua vez, disse à Lusa que a parceria decorre de um “pedido da ULS Médio Tejo”, que foi aceite tendo em conta a “falta de médicos e a mais-valia para a população” do concelho.

“Como a ULS não pode pagar diretamente à médica, tem de ser através de uma instituição, a ULS e a Câmara pediram para sermos nós, através do Bata Branca, pedido que aceitámos”, afirmou Francisco Corga.

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