Em muitos dos territórios conquistados pelos portugueses e que fizeram parte do Império Oriental, gerava-se no início, como é natural entre gente estranha, um clima de desconfiança.

Nos territórios da Índia ou nas ilhas do Pacífico esse clima de desconfiança não foi tão agressivo, dadas as lutas internas entre rajás e régulos, pois a paz e a harmonia, de acordo com a mentalidade da época normalizavam-se com o correr dos anos. Porém nos territórios conquistados nas regiões da Arábia e do Golfo Pérsico (e foram muitos), todos eles territórios de domínio muçulmano, tal clima de desconfiança gerava uma hostilidade permanente.

Muitas vezes essa hostilidade manifestava- se pelas tentativas de envenenamento. Vejamos alguns casos no vasto Império Oriental relacionados com esta forma de eliminar adversários.

1 Após a conquista de Ormuz, em 1515, por Afonso de Albuquerque, assim a caracterizava o cronista João de Barros: “ser cidade bonita, verde, abastada e escala de mercadorias parecendo que o mundo é hum anel e Ormuz hua pedra preciosa engastada nelle”. Contudo, embora riquíssima em comércio, estava Ormuz situada numa ilha desértica e altamente carente de água o que leva Afonso de Albuquerque a sentir a necessidade de ocupar as povoações de Comorão na costa persa, de Xamel na ilha de Laraak e de Queixome na ilha de mesmo nome, todas vizinhas de Ormuz, na costa Leste da Pérsia, como locais de apoio para provisionamento de água.

Razão havia, pois, quando da primeira tentativa de conquista em 1507, concretizada com sucesso, mas abandonada uns meses depois, Afonso de Albuquerque teve que manter um dos seus seis navios a guardar a ilha de Laraak porque se tornara na única fonte de água potável, uma vez que todas as outras em Comorão e Queixome haviam sido envenenadas pelos locais, com grandes quantidades de sardinha apodrecida e haviam feito algumas vítimas. Com a queda de Ormuz em 1622 perderam-se estes territórios. Queixome foi recuperada em 1630, floresceu, mas perdeu- se 60 anos depois (1).

2. Em 1512, o navegador Francisco Serrão, vindo de Malaca, vai naufragar próximo da ilha de Ternate, no arquipélago das Molucas. Será bem acolhido por Abu Lais sultão desta ilha. A partir de 1513 uma frota portuguesa visitará anualmente o arquipélago das Molucas iniciando a sua fixação nestas ilhas das águas do Pacífico. Em algumas, facilmente a cristianização evoluiu.

Noutras será mais difícil porque já islamizadas. Em 1521, Francisco Serrão que granjeara a amizade do sultão Abu Lais e vivera na sua Corte qual cônsul português, morrerá conjuntamente com o soberano da ilha, envenenados, por rivais da vizinha ilha de Tidore. Neste ano os portugueses criarão a sua primeira feitoria em Amboíno, outra das ilhas das Molucas.

Nos anos de 1546 e 1547 São Francisco Xavier catequizou em Amboíno e logo partiu para outra ilha, a de Halmahera, ilha de caçadores de cabeças e de influência islâmica, onde os indesejáveis eram mortos com comida envenenada que lhes era servida. Foi sugerido ao Santo levar um antídoto, ao que este respondeu que “preferia colocar a sua confiança em Deus”. Certo é que sobreviveu e anos depois aí é construída uma igreja e grande parte da população estava cristianizada (2).

3. A cosmopolita “Goa Dourada” de atmosfera comercial, cultural e social, foi a partir de 1560 lentamente substituída pela “Goa da Contra-Reforma”. Era agora a cidade o “sanctum sanctorum”

religioso como a referiam os estrangeiros, pois com o contributo do Tribunal da Inquisição sobrepunham-se agora os valores religiosos. Com o passar de décadas era notória a decadência e esta, mais do que político-militar, era de natureza moral e institucional: cobardia, corrupção e crimes.

Com a chegada do Vice-rei D. Pedro Portugal em 1746, muda-se a situação: ele reorganiza o exército, enforca os cobardes e criminosos, condena os corruptos e vai conquistar novos territórios, entre quais o importante forte de Alorna, razão porque após o seu

regresso e sua fixação em Almeirim o rei lhe atribuiu o título de Marquês de Alorna. Estes, designados de “Novas Conquistas” triplicaram a área anterior.

Em 1843 vai surgir a cólera, diz-se porque os poços da cidade foram envenenados com animais putrificados por população descontente oriunda destas “novas conquistas”. A gravidade desta fará mudar a capital para Pangim, designando-se esta de Cidade de

Nova Goa. Todas as casas, com excepção dos conventos e igrejas, foram demolidas e as suas pedras transportadas para a construção dos edifícios o_ ciais da nova capital (3).

[Conf. J. Ferreira, J. Leite (1), M. Lobato (2), Conf.G. Bouchon, G. Saldanha (3). Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico].

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