A corrida de segunda-feira de Páscoa em Sousel constitui uma das mais tradicionais jornadas taurinas do nosso país, na qual, para além de se assistir a uma corrida de toiros, o ambiente festivo que se vive nas imediações da praça é extraordinário.

Subindo à Serra de São Miguel, os aficionados começam a “acampar” junto à Praça de Toiros “Pedro Louceiro” e à ermida ali existente, instalando as mesas e as cadeiras nas sombras das oliveiras que povoam esta zona e desde bem cedo abrem as hostilidades, degustando as saborosas iguarias gastronómicas, regadas com tintol de boa cepa e muita cerveja. Ali se juntam as famílias de Sousel, desfrutando o feriado municipal, a que se juntam grupos de forasteiros de diversas regiões da geografia taurina, que há muitos anos se converteram a este ritual.

A tradição de ir para o campo ganhou contornos de romaria, em que o sagrado e o profano coincidem, constituindo momentos de devoção religiosa e de saudável convívio entre familiares e amigos. Próximo da hora de almoço decorre a procissão em honra de Nossa Senhora do Carmo, após o que todos saboreiam os apreciados petiscos, nomeadamente o cabrito assado e o ensopado de borrego. Tudo bem regado!

Às cinco da tarde iniciou-se a corrida de toiros, que este ano foi promovida pelo empresário José Luís Gomes, resultando num grande êxito empresarial, que não tanto ao nível artístico. Esta corrida está rodeada de uma espiritualidade muito peculiar, não sendo o mais importante para a maioria dos espectadores que preencheram literalmente o carismático tauródromo o labor mais ou menos conseguido dos toureiros. É Festa, é Festa!

Os toiros de Prudêncio cumpriram muito satisfatoriamente e ofereceram boas condições de lide aos três cavaleiros em praça, que, talvez devido à animação vivida nas bancadas aligeiraram as regras do toureio marialva e deram-se também à festa.

O toureio tem regras imutáveis, o que não obsta a que cada toureiro possa desenvolver o seu estilo muito pessoal e emprestar uma certa inovação artística, aspecto que muito valoriza o seu desempenho e engrandece o próprio toureio. Todavia, é fundamental que se definam os tempos de cada sorte – o cite a provocar a investida do toiro; quando este investe, o cavaleiro deve avançar recto até entrar nos seus terrenos, quarteando-se em seguida para cravar a ferragem de alto abaixo, rematando cada sorte, para equilibrar o toiro e para o colocar para a sorte seguinte. Disto pouco se viu em Sousel, o que é pena, porque a memória de Pedro Louceiro, que dá o seu prestigiado nome à praça, bem o merecia.

E a presença de António Ribeiro Telles entre o público também deveria merecer outro respeito pela ortodoxia marialva. Adiante.

Ana Batista rubricou duas lides aliviadas, onde aqui e além rubricou bons detalhes, sendo seus os momentos mais vibrantes no toureio equestre, especialmente com uma muito voluntariosa montada, que consente terrenos mais justos, para melhor luzimento do toureio. A ferragem ficou algo dispersa e em sortes de pouco aperto, mas o “respeitável” aplaudiu e a cavaleira desfrutou do bom ambiente que pautou esta sua presença em Sousel.

Joaquim Brito Paes andou algo apressado, não dominando as sortes e limitando-se a cumprir dentro de um estilo fácil. A deficiência dos cites e a colocação da ferragem dispersa também não abona muito a seu favor e Joaquim Brito Paes já demonstrou que tem potencial para ser um bom toureiro, contudo, deverá empenhar-se em imprimir um andamento mais moderado às suas montadas, mandar mais nos cites, para colocar mais certeiramente a ferragem e rematar as sortes. Melhores dias virão, certamente, porém compete-nos comentar as suas actuações com rigor, para que não se deslumbre com os aplausos fáceis do público, que são muitas vezes enganadores.

Gostámos de ver Diogo Oliveira em Mourão, o que nos despertou também o interesse em o rever aqui, para fundamentarmos melhor opinião. Este jovem marialva tem condições para singrar como

toureiro, embora tenha ainda, como se compreenderá, muitas arestas para limar.

E é bom que seja suficientemente humilde para fazer o caminho que se impõe. Tentou desenhar bem as sortes, embora aqui e ali também tenha facilitado em demasia, desperdiçando boa oportunidade para triunfar nesta tarde. Exige-se mais sobriedade e senhorio. Os seus mestres, certamente, compreenderão o que queremos dizer. Para seu bem, claro.

Os três Grupos de Forcados cumpriram em bom plano a sua missão, consumando vistosas pegas com eficácia e valor. Pelos Amadores de Coruche foram solistas João Formigo, à primeira tentativa, e João Canejo, à segunda; pelos Amadores de Arronches Gonçalo Ludovino e João David consumaram rijas pegas ao primeiro intento; e pelos Amadores de Monforte Gonçalo Moreira e Gonçalo Parreira também concretizaram boas pegas à primeira tentativa.

O Prof. Marco Gomes dirigiu com o acerto habitual esta corrida, que foi muito bem abrilhantada musicalmente pela Banda de Sousel e, aparte uma ou outra quezília entre os aficionados mais jovens, Sousel viveu mais uma memorável jornada taurina. Para manter a tradição.

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