A Santa Casa da Misericórdia da Golegã (SCMG) está a desenvolver, há cerca de um mês, um projecto de animação para combater o isolamento social e que visa, também, dar resposta aos impactos sociais provocados pela pandemia covid-19.

Numa altura em que o confinamento é regra, a SCMG vai promovendo a excepção: “com a pandemia, tivemos que encerrar, em Janeiro deste ano, o nosso Centro de Convívio e foi nesse contexto que surgiu o ‘Centro de Convívio ao Domicilio’, com o projecto que designamos por “Espalhar Esperança”. O principal objectivo é levarmos às pessoas algumas das actividades que eram dinamizadas nesta resposta social, para que as pessoas sentissem que continuam ligados à instituição”, explica ao Correio do Ribatejo Fernanda Oliveira, coordenadora da instituição.

Foi neste sentido que, desde o passado dia 24 de Janeiro, as duas animadoras socioculturais afectas ao Centro de Convívio passam em casa de cada utente, duas a três vezes por semana, para a distribuição de livros, exercícios de estimulação cognitiva, manualidades, algumas informações da Direcção Geral de Saúde, música ao vivo e, ainda, uma refeição quente por semana, mantendo algumas das actividades favoritas dos utentes daquela valência.

O acolhimento desta iniciativa, por parte dos utentes não podia ter sido melhor, como afirma Fernanda Oliveira: já foram efectuadas mais de duas centenas destas “visitas domiciliárias” que ocorrem, por questões de segurança para todos, sempre no espaço exterior das residências e são sempre muito breves.

Apesar de os contactos estarem limitados no tempo, fazem uma grande diferença: “neste início de trabalho, com esta nova dinâmica, podemos referir que, quase a totalidade dos utentes, ficou satisfeito com esta proximidade e esta disponibilidade da parte da Santa Casa da Golegã”, diz a Fernanda Oliveira, que faz questão de salientar “a solidariedade” da maioria das pessoas abrangidas pelo projecto, que não anularam a sua inscrição no Centro de Convívio, mesmo com o seu encerramento e não sabendo que se iriam iniciar estas visitas domiciliárias.

“Julgamos que, com esta adaptação dos serviços, estamos a contribuir para diminuir um pouco este espírito que todos estamos a passar neste confinamento, que é a diminuição das nossas “liberdades” e a muita saudade de teremos as nossas vidas de volta”, constata. 

Rita Condeço, uma das técnicas destacadas para este projecto, não tem dúvidas que estas visitas regulares têm sido altamente benéficas para todos: “o nosso objectivo foi o de fortalecer os vínculos com os nossos utentes para que eles se continuem a sentir acolhidos e motivados, diminuindo os riscos, também, do desenvolvimento de depressões e de outros problemas. Muitas das vezes, as únicas visitas que têm somos nós… este isolamento domiciliário, para muitos, tem significado a perda total do convívio social que nós tentamos, de alguma forma, quebrar”.

A equipa de profissionais deste “Espalhar Esperança” desenvolve um planeamento semanal que inclui visitas domiciliárias nas quais são realizadas várias actividades e, sobretudo, escuta de necessidades.

“Disponibilizamo-nos, ainda, para fazer compras de produtos alimentícios ou de medicamentos, às pessoas que necessitem”, acrescenta.

Os idosos também recebem actividades pedagógicas para realizarem em casa com o objectivo de exercitar o desenvolvimento cognitivo e motor, “mantendo a mente activa”. 

“Uma das coisas que mais gostam são os ‘kits’ para os bordados. Apesar de estarem em casa, continuam a trabalhar no ‘Artesanato Maria Avó’, uma marca da SCMG, que consiste na ornamentação de aventais, toalhas, sacos, panos, bordando-se motivos alusivos à Capital do Cavalo, recriações das obras do Mestres Martins Correia – de modo a imortalizá-lo – e outros motivos que recolhemos de gerações passadas”, explicou.

“Mais que uma terapia ocupacional, mais que uma forma de não deixar morrer esta arte, reaprendemos a estar juntos com optimismo, partilha de saberes, conversas, segredos e afectos”, resume Rita Condeço.

Em breve, os técnicos da Misericórdia da Golegã vão levar, novamente, na mala, música ao vivo a todos, pois neste início foi dirigido apenas para os casais, para assinalar o “Dia dos Namorados”.

A equipa está ainda a preparar uma exposição de desenhos para assinalar o Dia da Água, mantendo vivos os laços que se foram formando no Centro de Convívio, que funciona desde 1990, com uma parceria com a Misericórdia de Torres Novas e o Centro Distrital da Segurança Social de Santarém.

Esta valência surgiu, segundo conta Fernanda Oliveira, com umas férias conjuntas na Nazaré, na Colónia balnear do Governo Civil de Santarém.

“No ano seguinte, efectuamos um protocolo com a Segurança Social, pois esse grupo de pessoas verbalizou uma grande vontade de se continuar a juntar-se. Até Março do ano passado sempre teve as portas abertas e são cerca de 100 pessoas que por aqui passam ao longo da semana participando nas mais variadas actividades”, conclui.

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