Em Março, Abril, Maio e Junho, o Museu Diocesano de Santarém teve uma quebra de 94% de visitantes. Durante o confinamento, os meios digitais foram vitais para estabelecer “alguma ligação entre o museu e o público” através das redes sociais, dos sítios online. Mas, “nada substitui a experiência e o contacto directo do público dentro do museu”. Quem o afirma é Eva Neves, conservadora do Museu Diocesano de Santarém, um espaço que, neste momento, está de ‘portas abertas’ e recupera lentamente o movimento.

Eva Neves, conservadora do Museu Diocesano de Santarém, afirma que “nada substitui a experiência e o contacto directo do público dentro do museu”, mas admite que “o paradigma mudou” com a pandemia de Covid-19.

“O grande desafio é conseguirmos permitir essa experiência completa aos visitantes, conseguirmos que possam vir”, disse a especialista sobre o futuro dos museus.

Eva Neves sublinha que o sector digital e tecnológico “foi muito importante” para estabelecer “alguma ligação entre o museu e o público” através das redes sociais, dos sítios online.

Neste contexto, observa que um museu que “não tenha nenhuma plataforma” nestes meses de isolamento social “fechou por completo o contacto com o público” e, cada vez mais, têm de “prever recursos humanos e financeiros para os conteúdos destas plataformas”.
“Nada substitui a experiência e o contacto directo do público dentro do museu”, afirma Eva Neves, nova directora do Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo.

Em Março, Abril, Maio e Junho, o Museu Diocesano de Santarém teve uma quebra de “94% de visitantes”: a conservadora contextualiza que eram meses em que chegavam “muitos grupos organizados que não puderam circular”; em Julho regista-se uma “ligeira retoma, mas com decréscimo de 70% a comparar com os últimos dois, três anos”.

Segundo a entrevistada, o público estrangeiro “era uma percentagem significativa” dos visitantes e vai ser necessário “pensar uma forma de chegar mais facilmente ao público nacional”, “à mesma escala”.

“Esta relação com os residentes locais é o grande desafio neste futuro mais próximo. Em Santarém temos ainda pessoas que nem sequer ouviram falar do Museu Diocesano. É também uma questão de as pessoas perceberem que isto é um bem, que é publico, é de todos e deve ser usufruído por todos”, desenvolveu.

A especialista assinala que registaram um aumento de pessoas “aos fins-de-semana, quando as pessoas circulam mais” e são os dias que “mais visitantes têm trazido ao museu”, que “vai continuar de portas abertas”.

Saúde pública e protecção do património são preocupações

Eva Neves realça que a reabertura ao público do Museu e Catedral da diocese teve como preocupação o cumprimento de todas as “normas de segurança” e o respeito pelo património

“As nossas igrejas não são museus, mas muitas guardam mais património histórico e artístico ao serviço da Igreja do que alguns museus”, observa a conservadora.

A especialista assinala que o Museu Diocesano de Santarém “tem o privilégio de permitir circulação pela Catedral”, dois espaços que se associam.

“A nossa primeira preocupação foi o encerramento, a 13 de Março, para protecção dos visitantes e todos os que trabalham neste espaço”, assinalou Eva Neves sobre a acção preventiva para evitar a propagação do novo coronavírus.

Já a Catedral cumpre as normas que são recomendadas para todas as igrejas e que “se baseiam sempre na distância entre os indivíduos, desinfecção das mãos, uso obrigatório de máscara”.

“Depois para conseguirmos esse distanciamento os bancos vão estar intercalados, vão ser usados bancos sim, banco não, e os lugares estarão marcados garantido, de facto, esta distância entre pessoas que não habitam na mesma casa”, realçou, adiantando que os grupos maiores ou uma família vão ter “um grupo da comunidade – voluntários, escuteiros”, que nas celebrações vão organizar a distribuição das pessoas para “garantir que se cumprem as normas”.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou orientações para a celebração do culto público católico no contexto da pandemia de Covid-19, com normas para higienizar os espaços e as pessoas e celebrar os vários sacramentos.

“As três portas da fachada principal vão estar abertas, a circulação há de ser feita com ordem, há um circuito definido entre entrada e saída para impedir que haja cruzamento de pessoas”, acrescentou Eva Neves, referindo que vão disponibilizar “gel à entrada, para utilizar à chegada e saída também do espaço”, os bancos vão ser higienizados e “cada um vai ter a sua responsabilidade individual de não tocar nas superfícies se não for necessário”.

A Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja de Santarém lançou um guia com orientações para a higienização dos espaços litúrgicos, e a entrevistada salienta que o documento foi publicado “neste contexto da pandemia, mas é valido permanente”, são regras de conservação preventiva que estão “ao alcance de todos”.

“O objectivo principal é a garantia da saúde pública, mas depois a consciência que estes locais não permitem o uso generalizado da lixívia ou álcool”, alertou, explicando que as peças ou os pavimentos que permitem lavagens “devem ser higienizados com mais frequência, mas com materiais que não causem danos”.

Eva Neves realça ainda que para casos confirmados de Covid-19 num espaço de uma igreja “entrará outro nível de cuidado e de gestão com as autoridades de saúde locais” e articulado para perceber o que é possível fazer tendo em conta o património.

“Fomos preparando a reabertura e definindo o que são as normas básicas, o uso obrigatório de máscara dentro do espaço, desinfecção das mãos à entrada e saída, limitamos a presença de cinco pessoas por cada sala e não estamos a receber grupos em visitas guiadas”, refere a especialista.

A abertura solene do Museu Diocesano de Santarém a 12 de Setembro de 2014 teve a presença do presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva; No ano seguinte, o projecto venceu a oitava edição do Prémio Vasco Vilalva, atribuído anualmente pela Fundação Gulbenkian.

A conservadora do Museu Diocesano de Santarém assinalou que a colecção “continua em mudança”, inicialmente não pensaram que “seria tão rápido começar a receber doações, até de privados”, “muitos pedidos de paróquias” para depósito de peças que “não estão em condições, que não estão valorizadas”, e adiantou que estão a preparar o “dossiê de candidatura” para integrarem a Rede Portuguesa de Museus.

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