O cavaleiro João Moura é uma referência incontornável na história da tauromaquia a nível mundial, tendo sido o precursor de uma nova abordagem estética ao toureio equestre, algo que o coloca em dimensão idêntica aos saudosos João Branco Núncio e José Mestre Batista. Na tauromaquia portuguesa podemos orgulhar-nos de ter um vasto conjunto de toureiros de excelência, no entanto estes pautaram a evolução do próprio toureio, daí a transcendência da sua trajectória.

Há quarenta e cinco anos, na Monumental “Celestino Graça”, em Santarém, João Moura tomou a alternativa de cavaleiro, numa corrida memorável, como igualmente memoráveis foram tantas outras tardes vividas no tauródromo escalabitano, porém o marialva de Monforte tem assinalado esta efeméride noutras paragens, como foi o caso, agora, do Montijo, onde nos foi dado apreciar uma magnífica jornada, muito valorizada pelos bonitos toiros “jaboneros” de Canas Vigouroux, que emprestaram emoção e vivacidade ao espectáculo, exigindo muito aos toureiros e forcados que muito tiveram de porfiar.

O ambiente em torno desta corrida era grande, o que teve ampla repercussão na moldura humana que a praça apresentava.

Boa aposta de uma jovem e dinâmica empresa que bem justificava uma grande enchente, mas o tempo de férias e a quantidade de corridas que se realizavam na região, impuseram apenas dois terços da lotação da Praça Amadeu Augusto dos Santos.

Após as homenagens da praxe, João Moura lidou o primeiro toiro da noite, e com que ganas o fez, bregando ao seu melhor estilo, cravando vistosa ferragem em sortes frontais plenas de verdade, rematando-as com os ladeios “encimistas” como só ele sabe. João Moura soube alicerçar o seu “novo tourear” à base do encurtamento das distâncias e do temple que imprime nas lides, na expressão mais pura do toureio marialva, citando de frente e dando a primazia de investida aos seus oponentes. Este conceito, que muitos outros têm seguido, foi nesta noite levado ao seu esplendor máximo.

Luís Rouxinol é uma das grandes figuras da nossa tauromaquia, privilegiando o toureio frontal, carregando as sortes nos terrenos da jurisdição dos toiros, e rematando-as com adornos de belo efeito estético.

Com imensa simplicidade de processos, Luís Rouxinol logra dominar os seus oponentes e conquistar os fartos aplausos do público, que lhe reconhece imensos atributos técnicos e artísticos. Após uma lide de grande classe, Rouxinol colocou ainda um valoroso par de bandarilhas e um palmito muito apreciados.

Depois dos mais veteranos terem dito que ainda estão para durar, coube a vez aos mais novos apresentar as suas credenciais, que não desmerecem das respectivas escolas.

João Moura Júnior está um senhor toureiro, como temos vindo a acentuar, pois alia a sua excelente técnica a um valor incomensurável o que redunda numa expressão taurina de grande nível. As suas montadas são autênticos capotes, dominando todos os tempos da brega que culmina em seguida com ferros de grande mérito e valor, tão apertados são os terrenos que pisa. Para além disso, Moura Júnior tem o grande mérito de não se limitar a explanar o toureio paterno, ousando recriá-lo com abordagens artisticamente muito interessantes.

Luís Rouxinol Júnior é outro caso da nossa tauromaquia, tendo vindo a conquistar um lugar entre as figuras da sua geração. Sem surpresas, afirmou-se na esteira do conceito de toureio paterno, no entanto tem conseguido impor um estilo pessoal muito próprio, pautado pelo toureio frontal, muito valoroso, e com o mérito de colocar a ferragem em sortes do maior risco.

Recebeu o seu bravo oponente em sorte de gaiola, aguentando uma poderosa investida, e em seguida desenhou uma lide muito meritória, apenas deslustrada aqui e além pela menos perfeita colocação de alguns ferros.

Os dois últimos toiros foram lidados a duo pelos marialvas de Monforte, o quinto, e de Pegões, o sexto, tendo ambos os duetos proporcionado momentos de muito entusiasmo, tal o entendimento e harmonia entre si. Não somos muito adeptos do toureio a duo, mas nestas circunstâncias não poderemos deixar de reconhecer o seu interesse e real valia.

Os três Grupos de Forcados em praça tiveram de se aplicar para honrar os pergaminhos das respectivas jaquetas de ramagens, pois os “jaboneros” carregaram e foram duros nas reuniões.

Pelos Amadores da Tertúlia Tauromáquica do Montijo foram solistas Pedro Tavares, ao segundo intento, e João Paulo Marques, na sua primeira tentativa a dobrar Diogo Filipe, que foi desfeiteado por duas vezes. Pelos Amadores de Cascais foram caras Afonso Cruz, numa duríssima pega à quarta tentativa, e Carlos Dias que concretizou a melhor pega da corrida, ao segundo intento, com eficaz ajuda de Paulo Paulino. Finalmente, pelo Grupo de Monforte pegou o Cabo Nuno Toureiro, à segunda tentativa, e Gonçalo Parreira, naquela que foi a única pega da noite concretizada ao primeiro intento.

A corrida foi bem dirigida por Tiago Tavares, com assessoria do médico veterinário Dr. José Luís Cruz. No início da corrida foi cumprido um minuto de silêncio em memória de Cláudio Pereira, emblemático forcado do Real Grupo de Moura, e durante o intervalo foi descerrada nos corredores da praça uma placa evocativa do 45.º aniversário da alternativa do bandarilheiro local Luís Peixinho.

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