O dia 8 de outubro ficará certamente na História do rugby nacional.
Foi nesse domingo que Portugal, equipa a ocupar o 16º lugar do ranking mundial (RM) no inicio do Campeonato Mundo, conseguiu a sua primeira vitória em Mundiais, no ano da sua segunda participação, contra a Seleção de Fiji, 8ª do RM, na cidade de Toulouse (França).
Num grupo que contava com a presença da Austrália (antiga campeã do Mundo e país que irá organizar a edição do Mundial de 2027 e que foi eliminada, pela primeira vez, na fase de grupos), o País de Gales (que venceu 6 edições do Torneio das 6 nações e que é o segundo país com mais vitórias do mítico torneio das 5 nações), com Fiji (três vezes campeã do Mundo em Sevens e duas vezes campeã olímpica nessa variante do rugby) e a Seleção da Geórgia (que tem vindo a investir na modalidade, em especial ao longo das últimas duas décadas e que ocupava o 11º lugar do RM no inicio do Campeonato do Mundo), as perspetivas para a obtenção de bons resultados não eram animadoras para a larga maioria da comunidade do Rugby.
Mas, o que é um facto é que, depois de uma preparação trabalhada ao detalhe, que se iniciou no final de junho e que envolveu várias etapas e vários locais, todo o trabalho desenvolvido veio a dar os seus frutos.
E pela primeira vez na nossa História, Portugal alcançou uma vitória e um empate, terminando a prova no 4º lugar do grupo e, se tivermos em conta todos os grupos e os pontos alcançados pelas diversas Seleções, corresponderá a um 14º lugar.
É obra e é um feito.
Desde logo, porque dos 20 países presentes no Mundial, o nosso país é aquele que tem das taxas mais reduzidas de praticantes de Rugby face à população (19 em 20), tem a seleção com o maior número de jogadores que são amadores (para não dizer que ainda é a única seleção onde tal acontece), o país onde menos se investe no Rugby e somos ainda o país onde o Rugby ocupa a posição mais baixa na relevância dada as modalidades (de uma maneira geral, nos restantes 19 países, o Rugby está entre as 3 modalidades mais importantes).
E por isso a força dos números poderia conduzir Portugal a um honroso 20º lugar.
Não seria um escândalo. Mas felizmente que as estatísticas e a força dos números também existem para ser contrariados.
E depois da presença em 2007, também em França e então liderados pelo Prof. Tomaz Morais, Patrice Lagisquet, “o Expresso de Bayonne” como ficou conhecido no Mundo do Rugby, elevou Portugal a um lugar ímpar no Mundo do Rugby.
Sim, já tínhamos impressionado neste Mundial pela forma como Portugal faz o seu aquecimento antes do jogo. Num ritual que transmite uma imagem forte de organização e de trabalho coletivo. De Equipa!
Já tínhamos impressionado pela qualidade do nosso jogo à mão, a nossa rapidez e a capacidade física e destemida como placamos os nossos adversários. De forma leal.
Já tínhamos causado surpresa pela qualidade do nosso jogo contra as poderosas Gales e Austrália onde, em alguns momentos, claramente fomos dominadores.
Ficando mesmo algum amargo de boca pelo resultado obtido. Causámos sensação pela enorme segunda parte contra a Geórgia e a excelente recuperação no resultado, chegando ao empate e ficando a menos de um metro da vitória.
E no dia 8 de outubro, uma Seleção que é um misto de lusitanos e luso descendentes residentes em França, conseguiram um feito notável que faz com que hoje, 9 de outubro, Portugal seja notícia em todo o Mundo e tenha alcançado o 13º lugar do ranking mundial, a melhor classificação da nossa História.
Porque não sendo campeão mundial, os nossos jogadores jogaram sempre como Campeões, batendo-se pelo melhor resultado e contra os melhores. Em todos os jogos. Com ambição e vontade de vencer.
Em França, nos 4 jogos do Mundial, estiveram muito mais do que os 33 jogadores que integraram a Seleção. Estiveram também representados os outros 5 que integraram os estágios e que não integraram a comitiva final. Estiveram representados todos aqueles que ao longo dos anos ajudaram ao desenvolvimento e ao crescimento do Rugby em Portugal. Defendendo as cores dos seus Clubes e da Seleção.
Naquele pontapé final do Samuel, que nos permitiu passar para a frente do resultado no fim do jogo, esteve todo um país. Esteve a nossa diáspora, tão importante no apoio em todos os jogos. Tal como tinha acontecido no seu pontapé que nos apurou para o Mundial, no Dubai, naquele empate conseguido para lá dos 80 minutos contra os Estados Unidos!
Naqueles pontapés, no Dubai e em Toulouse, esteve Portugal a ajudar e a dar força.
Está cumprida uma etapa! Uma importante etapa para o crescimento do Rugby em Portugal.
Obrigado Patrice, Staff Técnico e a todos os jogadores!
E obrigado a quem sempre acreditou que íamos fazer história e conseguir uma ou duas vitórias, mostrando ao mundo a qualidade do nosso jogo!
De igual para igual com os nossos adversários! Obrigado! Somos Lobos!
Post Scriptum – O título deste artigo é retirado da música dos Xutos & Pontapés, “Somos Lobos”, feita para apoiar a Seleção Nacional de Rugby neste Mundial de 2023.