O supermercado ‘Pérola do Ribatejo’ é um dos ex-líbris do centro histórico da cidade de Santarém. Localizado na Rua Capelo e Ivens, nº 64, a pequena mercearia foi fundada, em Agosto de 1950, por António Wenceslau, tio do actual gerente, testemunhando, ao longo de 75 anos, as mudanças sociais e de consumo da população escalabitana.

De forma a assinalar 75 anos de serviço prestado à comunidade realizou-se um jantar de homenagem, no Centro Cultural Regional de Santarém, no passado sábado, dia 25 de Outubro.

José Wenceslau, sobrinho do fundador, revelou ao Correio do Ribatejo mais detalhes sobre a história e a tradição do ‘Pérola do Ribatejo’. 

Recuando até 1950, como surgiu o ‘Pérola do Ribatejo’?

O ‘Pérola do Ribatejo’ surgiu pelas mãos de um tio meu, chamado António Wenceslau, em Agosto de 1950. Foi ele que esteve à frente do negócio até Janeiro de 1980. Data essa em que ele deu sociedade a mim e outro colega meu, que trabalhava no supermercado como empregado. 

Depois do seu falecimento, fiquei eu e esse empregado a gerir o estabelecimento e, a determinada altura, achei que devia de assumir a gerência na totalidade. Propus a esse meu sócio, renegociar as cotas e a partir daí, fui eu que estive sempre à frente da administração do supermercado, até à data actual. 

 

Com que idade começou a trabalhar no supermercado?

Comecei a trabalhar com 17 anos. Depois saí e fui para a tropa e quando regressei, voltei novamente. Tem sido a minha casa até agora. 

 

Que memórias guarda desses tempos?

Nessa altura, as coisas eram tão práticas, eram mais rudimentares. Entregávamos as compras em casa dos clientes, com uma bicicleta. Não era fácil, mas as coisas faziam-se. Nunca entrei nesta casa contrariado, porque adoro aquilo que faço e faço-o com gosto. 

 

Como tem sido a adaptação do estabelecimento aos novos tempos? 

Desde que apareceram os grandes espaços comerciais, as coisas começaram a complicar-se um pouco, mas sempre fui capaz de contornar a situação, modernizando e alterando aquilo que eu achava que podia alterar. A primeira alteração de fundo foi feita pelo meu tio. Aquela parte da restauração que temos no fundo do estabelecimento, anteriormente estava mais ou menos a meio do supermercado.  

Entretanto, as pessoas começaram a optar pelos grandes espaços, que têm aqueles produtos mais específicos e aquela mercearia mais grossa, deixaram de comprar. E nós, com base nisso, fomos alterando, até que acabei com a mercearia mais grossa, como é o caso dos detergentes, que era aquilo que menos se vendia, e ampliei o fundo do estabelecimento. Modernizei a cozinha, modernizei a parte do atendimento e começámos a servir outras coisas, como sopa e pratos do dia, que era aquilo que os nossos clientes procuravam. 

 

Nota diferenças nos clientes ao longo destes 75 anos?

Noto. Aquele cliente fidelizado ainda temos alguns. Temos clientes de há 20, 30 anos que nos procuram e que nos têm ajudado a manter o negócio. Há outros mais novos que vão aparecendo, devido à existência de mais habitação na cidade, porque muitas vezes sabem que encontram aqui, aquilo que precisam e que levam produtos de qualidade. 

 

Sente que as pessoas nutrem por si e pelo próprio estabelecimento, um certo carinho?

Sinto. As pessoas visitam-nos, não só como clientes. Algumas vão ao supermercado para dizer “bom dia”, “boa tarde”, perguntar se “está tudo bem”. Eu estou na cidade há 60 anos e tenho impressão de que não há ninguém que não me conheça. Muitos vão à mercearia fazer as suas compras, mas também vão por amizade. 

 

Qual o segredo para esta longevidade da empresa?

O segredo é sabermos estar, ter qualidade, ter atendimento, termos as coisas sempre em ordem, para atrair o cliente, para ele chegar aqui e sentir-se em casa. Muitos dos nossos clientes já são quase uma família. 

Já atingi aquela idade em que posso dar pouco. Ainda vou ajudando o meu filho, mas é ele que está a tomar as rédeas da empresa. É ele que tem de dar continuidade ao negócio, com algumas alterações a nível informático. Hoje há ferramentas que podem ser utilizadas para divulgar os produtos e todas as iniciativas que vamos fazendo e é assim que as coisas têm de funcionar. 

 

Que mensagem gostaria de deixar aos seus clientes?

Quero agradecer a todos os nossos clientes o apoio que nos têm dado, porque sem eles não conseguíamos viver todos estes anos. Além de clientes, também consideramos que são nossos amigos, pelo facto de, praticamente todos os dias, nos visitarem. 

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