Em Setembro de 2017 a vida mudou para Luís Jejum, um atleta da Golegã que sofreu um acidente numa prova de ciclismo e ficou paraplégico. Antes do acidente, Luís era uma pessoa muito activa.
Além de trabalhar, praticava hóquei em patins, BTT e bodyboard. Aquela queda representou uma reviravolta completa na sua vida.
Para ele, os últimos seis anos foram “de muita luta, resiliência e gratidão”. “Um caminho difícil e sinuoso, com muito sacrifício e com os pés assentes na terra sem a sentir, mas o sonho continua”, afirma.
Neste sábado, dia 16 de Dezembro, a história de Luís Jejum foi apresentada em forma de livro. A autora é Catarina Betes, de Azinhaga, professora e subdirectora no Agrupamento de Escolas de Marinhais.
Como descreveria a experiência de partilhar a sua história neste livro?
Este livro foi escrito pela Catarina Nunes Betes, mas a história é parte da minha vida e conta com testemunhos de amigos, família e profissionais de saúde que tive o privilégio de conhecer neste percurso.
Qual é a mensagem principal que espera transmitir aos leitores através desta obra?
A mensagem que desejo passar é que a vida é feita de adversidades, e só aceitando a nossa condição podemos ser felizes, fazer os nossos felizes e sermos gratos por tudo o que nos envolve e rodeia.
Que desafios enfrentou ao recontar a sua história e transformá-la em algo que pudesse inspirar os outros?
Ao contar a história, revivi os momentos mais difíceis que passei durante o acidente e todo o processo hospitalar, de reabilitação que durou cerca de 1 ano e foi duro por vários factores de saúde, estando longe de casa com as minha filhas de 1 mês e 3 anos na altura, bem como a adaptação de uma vida em cadeira e rodas.
Como a distância era física, sabia que o amor da família e amigos me dava força e coragem para seguir em frente e lutei muito por mim por ele/as, ficando orgulhoso pelo trabalho e resultados alcançados.
Que tipo de reflexões ou aprendizagens mais significativas teve ao reviver os momentos desde o seu acidente até ao presente?
Foi um processo construtivo e descoberta de uma pessoa que já existia, mas de outra forma. Os desafios da mudança forçada fizeram que acreditasse ainda mais em mim e nas capacidades que tenho para melhorar, e fazer diferente sempre respeitando os sinais do tempo e tentado sempre ser um ser humano integro e leal, transportando sempre todos os princípios de uma educação que tive.
Tive de ser ainda mais honesto comigo e com o meu corpo, para poder ultrapassar o preconceito e a maneira como a sociedade olha para a diferença seja ela qual for.
De que forma a prática desportiva se tornou uma parte fundamental da sua jornada de superação e reconstrução pessoal?
No que toca a falar de desporto pode-se pensar que sou contraditório, porque foi a praticar desporto (BTT) que tive o meu acidente, tendo jogado Hóquei em Patins cerca de 25 anos e Futsal 4 anos ambos federados e Bodyboard nos tempos mais livres, mas passado 1 ano do acidente (03/09/2017) tive necessidade de voltar ao desporto e assim o fiz em boa hora, iniciando a prática do paraciclismo e natação.
Foi no paraciclismo que voltei a competir conseguindo sagrar-me campeão nacional em 2021.
O desporto faz-me sentir bem fisicamente, psicologicamente e acima de tudo livre, criando objectivos e motivação para os alcançar.
Qual foi o momento mais desafiante que encontrou ao longo deste processo de adaptação e superação?
Tive alguns momentos desafiantes como foi o caso do regresso ao trabalho numa condição diferente, bem como controlar a saudade de praticar bodyboard que era uma das minhas grandes paixões.
A superação define-se com objectivos e todos os anos coloco novas metas seja no processo de reabilitação seja desportivo ou mesmo familiar.
Inicialmente interiorizo os objectivos/ sonhos, depois partilho com as pessoas e a partir daí é criar as condições e fazer acontecer.
Há alguma mensagem específica que gostaria de transmitir aos leitores que estão a passar por desafios semelhantes aos que enfrentou?
O processo é longo e sinuoso, mas se acreditarmos que o futuro depende do presente só temos um caminho a seguir, que é lutar e acreditar em tudo o que depende de nós e da nossa vontade.
Se aceitarmos o que nos aconteceu, vai nos levar, onde pensamos que era impossível inicialmente, porque não somos aquilo que nos aconteceu, mas sim o que fazemos acontecer.
Como espera que este livro influencie ou inspire aqueles que o lerem?
Espero e desejo que seja, ou possa ser um exemplo de esperança para uma vida mais feliz, mais resiliente e inclusiva para a nossa sociedade, mostrando que a situação confortável não nos faz mudar a atitude nem nos leva á superação pessoal.
Sejam amantes da vida e daquilo que tem de bom para nos oferecer, desfrutem de todos os momentos que vos realize.
Um título para o livro da sua vida?
“Reconquista”.
Viagem?
Indonésia.
Música?
Rock.
Quais os seus hobbies preferidos?
Desporto.
Se pudesse alterar um facto da história qual escolheria?
O meu acidente, mas ficaria com toda a aprendizagem que obtive.
Se um dia tivesse de entrar num filme que género preferiria?
Comédia.
O que mais aprecia nas pessoas?
A honestidade e humildade.
O que mais detesta nelas?
A hipocrisia e falsidade.