Escrito quando Eduardo Fernandes – o Dudu – tinha apenas 2 anos de idade, “O Coelhinho DuDu” é, assumidamente, “um livro de amor de mãe para filho”. Foi redigido por Sandra Fernandes, residente em Almeirim, com o objectivo de, mais tarde, mostrar ao filho, quando ele já conseguisse compreender melhor a sua história, porque era diferente dos outros meninos. Sandra explica que outras das razões por que escreveu foi a pensar no que lhe podia acontecer na escola, o medo que tinha relativamente ao bullying e ao preconceito.
Eduardo Fernandes, actualmente com três anos de idade, nasceu com síndrome da brida amniótica, doença rara que acontece a cada 12 mil partos, e que lhe provocou o não desenvolvimento da mão esquerda. “A princípio, ainda grávida, fui questionada sobre o que pretendia fazer. Respondemos que não está no nosso dicionário a Interrupção da gravidez”, afirma Sandra, lamentando, que “naquelas alturas e depois, os hospitais não tenham uma equipa de psicólogos que os possam acompanhar”.
Já em casa, Sandra conheceu através das redes sociais, a associação brasileira “Dar a Mão”, liderada pela Geane Poteriko. Foi esta associação e a Geane que a ajudaram a compreender melhor este assunto, servindo muitas vezes de psicólogos, apesar da distância.
Sandra gere uma página na internet e no Facebook, “Eduardo a Minha Bênção”, através da qual partilha a sua experiência com outros pais com problemas semelhantes.
Editado pela Chiado Kids, com ilustrações de Sónia Nunes, a obra narra a história de um coelhinho que nasce sem uma patinha… assim como o Eduardo que também nasceu com esta condição rara.
“Poder mostrar às crianças que existem diferenças que não fazem diferença alguma fez-me acreditar que esta pequena história irá, de certo, satisfazer a curiosidade dos pequeninos quando se cruzarem com o Eduardo na rua ou outros Eduardos”, diz a autora.
“De outra forma, de um jeitinho especial e um pouco diferente, tanto o coelhinho Dudu, como o Eduardo irão fazer tudo como os seus amiguinhos”, remata.
O que inspirou este seu livro?
O que me inspirou o livro “ O Coelhinho DuDu “ foi o meu Eduardo. Gostaria que todos os pais sensibilizassem os seus filhos para as diferenças e que principalmente as respeitem sem bullying ou outro tipo de preconceito.
Como nasceu esta obra? Como foi o processo criativo?
Acho que a obra nasceu com o meu filho no dia 21 de Janeiro de 2016: senti como missão fazer alguma coisa que elucidasse pais e crianças para o facto que existem diferenças que não fazem diferença alguma e que o tinha de fazer bem cedo. Comecei por escrever o conto do coelhinho apenas com o sentido de ler ao Eduardo quando ele tivesse mais idade ou então até mostrar o conto simplesmente nas escolas iniciais por onde o meu filho passasse. A ideia do livro veio 2 anos depois do nascimento do meu Dudu .
Quanto à ilustração foi feita por Sónia Nunes (colega de trabalho) com muito carinho como se pode ver na forma como foi desenhado.
Qual é o tema predominante na obra?
O tema predominantemente é a agenesia de membros, síndrome da brida amniótica. (Pequenos fios que se soltam da placenta e se colam nos membros não deixando haver corrente sanguínea) Um coelhinho nasce sem uma patinha tal e qual como o Eduardo nasceu, com esta condição rara .
Em que altura da sua vida descobriu a vocação para a escrita?
Desde que me conheço que escrevo e gosto de escrever. Digamos que a escrita é o meu refúgio, o meu desabafo. Na escrita sinto-me livre e mais capaz de demonstrar sentimentos. Quando alguém me diz que gosta do que escrevo, mais vontade tenho de escrever e só preciso mesmo de um tema , uma causa , um acontecimento para o fazer .
O que representa para si a escrita?
Para mim a escrita é como se a liberdade tivesse portas abertas que me permitem entrar onde desejar.
Que livros é que a influenciaram como escritora?
A minha principal inspiração são mesmo as pessoas, o mundo, a vida… tudo aquilo que vivemos no dia-a-dia. Os acontecimentos reais fazem-me escrever. Marcaram-me “ Os Filhos da droga “, “ Diário de Anne Frank “, “A lista de schindler “… Recentemente estou a ler “ oráculo dos anjos “ como gratidão pela vida.
Considera que um livro pode mudar uma vida?
Acredito que sim… acho que um livro, desde que adquirido, pode entrar no coração das pessoas de forma a mudar mesmo algumas opiniões e comportamentos.
Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?
Se Deus me permitir irei com certeza continuar a aventura com o coelhinho Dudu e já comecei a escrever .
PERGUNTA &RESPOSTA
Um título para o livro da sua vida?
‘Pensamentos Meus’
Viagem?
Israel e Brasil
Música imprescindível?
Músicas profundas, com sentimento, como “Jóia rara”, “Tal como sou”, “Quem me dera”, “Cidade de Deus”…
Quais os seus hobbies preferidos?
Escrever e estar com a minha família.
Se pudesse alterar um facto da história qual escolheria?
A morte do meu irmão, embora eu o sinta bem vivo dentro de mim.
Se um dia tivesse de entrar num filme que género preferiria?
Filme de sensibilização, usando o humor. Mesmo na sensibilização não devemos esquecer e usar tudo o que nos possa fazer sorrir ou mesmo gargalhar.
O que mais aprecia nas pessoas?
Sou muito atenta ao comportamento das pessoas e agora mais ainda. Aprecio sem dúvida a sinceridade e a verdadeira valorização que dão aos outros, mesmo quando não recebem nada em troca. Gosto de genuinidade e pessoas calorosas, afáveis e sensíveis.
O que mais detesta nelas?
O que mais detesto é quando não têm opinião própria e julgam os outros pelo que outros dizem. Não gosto de fingimentos e de pessoas preconceituosas.
Acordo ortográfico. Sim ou não?
Eu pessoalmente não aprecio e tenho muita dificuldade em aceitar a escrita de forma diferente como fui ensinada.
Foto destaque: Rui Louraço