O Conservatório de Música de Santarém comemorou, no passado dia 17 de Maio, o seu 38º Aniversário. A esse propósito, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com Conceição Duarte, presidente de uma instituição que se assume como “promotor cultural” e se orgulha da sua “qualidade de trabalho, dedicação e amor à Música”.

Fundado a 17 de Maio de 1985 como Escola de Música, constituiu- se como Cooperativa sem fins lucrativos, obtendo autorização definitiva de funcionamento em 1994 concedida pelo Ministério da Educação.

O Conservatório de Música de Santarém mudou de instalações em Outubro de 2011, passando do Centro Cultural Regional de Santarém para o Palácio João Afonso, obtendo- se um notável crescimento na sua comunidade.

Como avalia o percurso do Conservatório de Música de Santarém ao completar 38 anos de existência?

A fundação do Conservatório de Música de Santarém (CMS) remonta a Maio de 1985, pela mão de um grupo de doze empreendedores que se juntam e decidem criar uma cooperativa sem fins lucrativos.

Na altura, nasce sob a denominação de Escola de Música de Santarém, funcionando nas instalações do Círculo Cultural Scalabitano. Posteriormente, o CMS muda para as instalações do Centro Cultural Regional de Santarém, sendo em Outubro de 2011 inaugurada sua actual sede, no Palácio João Afonso.

Não tenho dúvida de que, ao longo destes 38 anos de vida, o Conservatório de Música de Santarém, como escola oficial reconhecida pelo Ministério de Educação, tem desempenhado um papel fundamental na formação artística de centenas de jovens que connosco desenvolveram o seu talento musical.

Temos um orgulho imenso em assumir o nosso papel como promotor cultural, quer pelo desenvolvimento das competências artísticas dos nossos alunos, quer pelos inúmeros concertos, audições, recitais e colaborações musicais que realizamos e que em muito contribuem para a formação de público e para a divulgação de diferentes estilos musicais.

O dedicado trabalho em equipa dos vários órgãos sociais que estiveram à frente dos desígnios do CMS, o seu corpo docente, os técnicos, demais colaboradores e a comunidade educativa, todos, sem excepção, contribuíram para solidificar esta escola de Ensino Artístico Especializado (EAE) tornando-a hoje uma referência na nossa região.

Procuramos levar o ensino da música e dança a todos, com uma oferta formativa diversificada, dividida entre Cursos Oficiais de Música (Preparatório, Básico e Secundário, em regime Articulado ou Supletivo) e Cursos Livres (para qualquer pessoa que queira aprender – dos 3 aos 103 anos). Para além de 23 instrumentos diferentes que podem aprender, o CMS assegura também aulas de Dança Clássica para crianças, jovens e adultos. No próximo ano lectivo teremos uma novidade há muito acalentada no CMS: iremos abrir o ensino de harpa; tal tornará possível um incremento significativo na nossa Orquestra de Cordas.

Somos um Conservatório aberto à nossa Comunidade e por isso mesmo convidamos qualquer pessoa a vir visitar-nos e realizar uma aula experimental de qualquer instrumento ou de ballet: quem sabe se não poderá descobrir um talento escondido ou concretizar um sonho há muito adiado? Visite-nos ou contacte-nos e venha conhecer o nosso Conservatório.

Quais são os principais desafios que a instituição enfrenta actualmente?

Hoje, como presidente desta escola, reconheço a enorme responsabilidade deste legado que a actual Direcção aceitou de corpo e alma: fazer crescer ainda mais o CMS, preservando os valores cooperativos e o desenvolvimento de uma Escola de Ensino Artístico de excelência.

Estamos conscientes do enorme desafio que abraçamos neste horizonte temporal de quatro anos de mandato. Queremos operacionalizar o nosso Projecto Educativo de forma sustentável, não perdendo de vista os quatro eixos de intervenção a que nos propusemos quando nos candidatamos: o eixo organizacional, o eixo pedagógico, o eixo da comunidade educativa e por fim, mas não menos importante, o eixo de liderança e gestão.

Cada um destes eixos encerra em si desafios significativos… irei elencar apenas um exemplo de cada pela sua relevância no contexto actual: No eixo organizacional não poderia deixar de referir a necessidade do alargamento a novas instalações. É sobejamente conhecido o esgotamento do espaço onde o CMS se encontra a funcionar; a resolução desta questão permitirá aumentar a nossa oferta educativa e dar resposta a um maior número de alunos.

Temos actualmente uma solução provisória, que passa pela utilização da sala multiusos da Ex-EPC, gentilmente cedida pelo município de Santarém, a qual veio resolver uma série de constrangimentos mais imediatos, mas que sabemos, não é a solução ideal; é a solução possível no imediato.

No eixo pedagógico, iremos continuar a desenvolver a nossa ambição de internacionalização, garantindo aos nossos alunos e professores enriquecedoras aprendizagens e experiências de mobilidade: realizámos um projecto Erasmus + no ano de 2022 com um grupo de alunos de Dança Contemporânea e estamos em condições de dizer, em primeira mão, que a nossa candidatura Erasmus+ para o próximo ano lectivo foi aceite e que alguns dos nossos alunos de flauta e viola dedilhada irão fazer as malas e partir para mais uma aventura musical. No eixo da comunidade educativa e reconhecendo a importância do papel do CMS como instituição integrante da Economia Social, iremos aprofundar as nossas actividades junto de algumas instituições, garantindo aulas de música a utentes de lares de idosos e a alunos carenciados de IPSS, a título gracioso.

No eixo da liderança, reconhecemos o enorme carisma da Presidente da Direcção cessante, Drª. Maria Beatriz Martinho, que esteve no leme desta instituição durante 37 anos e sabemos que este tipo de mudança implica naturais cuidados na gestão das pessoas.

O grande desafio passará, naturalmente, pelo equilíbrio entre a continuidade e a mudança, a adaptação a uma nova cultura, criação de laços de confiança, a criação de canais transparentes de comunicação e a manutenção dos índices de motivação das equipas de trabalho.

Todos estes desafios só fazem sentido na medida em que a sua concretização se reflectirá na melhoria da qualidade do nosso ensino e na aprendizagem dos nossos alunos.

Como tem sido o envolvimento da comunidade local no apoio e desenvolvimento do conservatório ao longo destes anos?

A minha experiência diz-me que nenhuma organização pode viver voltada para si mesmo. Sabemos que o Conservatório não é excepção.

O CMS é um espaço ao serviço da Comunidade. Neste âmbito, mantém com algumas instituições um relacionamento activo, visando a prestação de um serviço que pretende ser de excelência. As parcerias e protocolos de cooperação têm sido elementos facilitadores do trabalho realizado, das aprendizagens alcançadas e da consolidação da imagem desta escola.

Durante este tempo em que assumi a presidência da Direção do CMS senti que envolvimento da comunidade educativa tem sido uma constante. A nossa escola tem trabalhado em conjunto com os Agrupamento de Escolas da cidade, sobretudo no âmbito do ensino Articulado da Música. O nosso parceiro de eleição, a Câmara Municipal de Santarém (sobretudo com os pelouros da Educação e Cultura) tem sido também um dos pilares da nossa escola, não apenas no apoio financeiro concedido, mas também no encontrar de soluções para as dificuldades do dia-a-dia: seja na cedência de espaço para eventos, seja no apoio logístico ou mesmo na divulgação de actividades pedagógica e artísticas.

A Diocese de Santarém, é outro dos importantes parceiros, cedendo o acesso às inúmeras igrejas e órgãos históricos da nossa cidade, bem como a Santa Casa da Misericórdia de Santarém. Relembro que no passado ano lectivo tínhamos aulas de Classe de Conjunto a decorrer semanalmente na igreja da Misericórdia, o que foi um apoio fundamental à nossa actividade lectiva.

Também o Rotary Club de Santarém é nosso parceiro, atribuindo um prémio anual ao melhor aluno do CMS, o qual é um importante incentivo para o seu comprometimento dos alunos com a sua escola.

Estamos actualmente com um protocolo com o Instituto Politécnico de Santarém, ao abrigo do qual recebemos estagiários do Curso Técnico Superior Profissional em Marketing Digital.

Por fim, na resposta à questão colocada não poderia deixar de referir o apoio das famílias e encarregados de educação dos nossos alunos. São eles um dos motores principais da nossa escola: por acreditarem na qualidade da formação artística por nós assegurada, por todo o incentivo à aprendizagem e apoio diário dado aos alunos, tanta vez envolto em significativos sacrifícios pessoais.

É este trabalho em conjunto que nos permite continuar a oferecer programas educacionais artísticos de qualidade, contribuindo para o desenvolvimento social e cultural da nossa região e promovendo uma maior conexão entre a nossa escola e a comunidade.

Quais são as principais realizações do conservatório no campo da formação musical?

O Conservatório, ao longo dos anos, tem conseguido de forma sustentada, melhorar as suas respostas formativas na área da música. Irei destacar algumas delas: Conseguimos aumentar a nossa oferta educativa a instrumentos com menor reconhecimento do público em geral, tais como: fagote, trompa, tuba, viola d´arco e contrabaixo. Tal incremento permitirá contribuir para a criação de um dos nossos objectivos: criar uma orquestra sinfónica.

Como já referi, no próximo ano iremos abrir a nossa oferta educativa ao ensino de harpa; oferecemos uma ampla variedade de respostas pedagógicas atendendo às necessidades dos nossos alunos, através de programas oficiais (em regime articulado ou supletivo) ou em curso livre, de acordo com o gosto individual e ao ritmo de cada um. Desde programas para pré-escolar até aulas para alunos seniores, como é exemplo o nosso ensemble de instrumentos tradicionais.

Procuramos desenvolver parcerias com outras instituições musicais, o que permite que os alunos tenham acesso a oportunidades únicas de aprendizagem e performativas; é exemplo disso a recente participação do nosso Grupo de Música Contemporânea num concerto no âmbito do Festival Croma em Oeiras, ou do intercâmbio com o Orfeão de Leiria no qual o nosso Ensemble de Flautas realizou uma apresentação pública na referida cidade.

Temos tido um ritmo muito significativo de performances dos nosso alunos e professores em concertos, audições e recitais de uma forma descentralizada, sendo exemplo disso, o nosso projecto “Viagens na minha terra”; Fomentamos a participação dos nossos alunos em concursos externos, sendo nossa política o financiamento das respectivas inscrições; ainda no mês de Maio uma das nossas alunas de flauta e outra de órgão foram a concursos representar o CMS tendo uma delas recebido um prémio; a nível interno criámos este ano lectivo a primeira edição do Concurso Jovens Músicos do CMS, a qual foi um sucesso, tendo obtido cerca de 70 inscrições; Procuramos fomentar a criatividade e a inovação, incentivando os alunos a experimentar diferentes estilos musicais e a explorar novos caminhos na música, explorando diferentes géneros e estilos musicais.

Estes são apenas alguns exemplos ilustrativos de como no CMS procuramos melhorar a qualidade do ensino da Formação musical e de inspirar os alunos a alcançar o seu potencial máximo na música.

De que forma o conservatório se tem adaptado às mudanças tecnológicas e às novas tendências na educação musical?

Saímos de uma pandemia há bem pouco tempo, a qual teve um impacto terrível nas nossas vidas, mas que também nos trouxe alguns aspectos positivos. O esforço de adaptação às restrições impostas levou-nos a incorporar novas tecnologia interactivas nas práticas pedagógicas e a utilizar plataformas colaborativas que estimulam a participação activa dos alunos no processo de aprendizagem. Neste contexto, o investimento no ‘upskilling’ de cada colaborador e na sua autoformação foi também uma realidade que abriu algumas portas. A necessidade de competências tecnológicas especializadas, bem como de adaptação a um contexto dinâmico do ponto de vista dos desafios e oportunidades levou-nos no CMS a utilizar novas plataformas tais como o Teams, o Zoom, o Canva… Até mesmo o nosso software de gestão (MUSA) passou a ser utilizado de uma forma muito mais intensiva, tendo muitos dos procedimentos sido desmaterializados.

Para além do impacto ambiental, tal também permitiu facilitar a vida aos próprios encarregados de educação, os quais hoje, à distância de um clique, conseguem tratar de uma série de procedimentos burocráticos sem deslocações presenciais.

Relativamente à adaptação às novas tendências da área da formação musical, temos previsto no nosso plano de actividades o desenvolvimento de acções de formação nesta área e contamos com um corpo docente altamente qualificado, sempre muito desperto para novas tendências e abordagens pedagógicas que facilitem a relação ensino-aprendizagem.

É claro que o caminho faz-se caminhando e temos consciência que nesta área do conhecimento haverá sempre espaço para crescermos e melhorar continuamente. Vivemos numa sociedade de redes, de movimentos, de múltiplas oportunidades de aprendizagem, uma sociedade de aprendizagem global, na qual as possibilidades são inúmeras quer para as instituições de ensino em geral, quer para os seus professores e alunos em particular. Hoje, a facilidade de acesso à formação, nomeadamente através dos MOOCs (massive open online courses), garantiu o acesso à formação, factor fundamental na estratégia de qualquer instituição.

Essa facilidade traz-nos também a responsabilidade de investirmos em nós mesmos, dando sentido à tão importante “aprendizagem ao longo da vida”.

Quais são as grandes forças do Conservatório e as áreas em que existe margem para fazer diferente e crescer?

Ao longo dos seus 38 anos de existência, o CMS foi consolidando a sua posição e detém actualmente cerca de 2600 cooperadores, prosseguindo fins que se traduzam, primariamente, no benefício dos seus cooperadores e da comunidade educativa em que se insere. Esta é a sua primeira grande força.

A Escola tem-se dedicado à promoção do Ensino Artístico da Música e, mais recentemente, ao ensino da Dança (em regime livre), contribuindo para a formação e desenvolvimento de competências técnicas e artísticas das centenas de alunos que já a frequentaram, em prole da Arte e Cultura da nossa região. E isso é também um facto inegável; temos consciência de que projectamos uma imagem de solidez devidamente reconhecida pelo público.

De referir também, que a maioria dos alunos do CMS frequenta o ensino da música em Regime Articulado, o qual é financiado pelo Ministério de Educação, o que permite um acesso generalizado do ensino artístico independentemente dos recursos económicos das famílias. Para além deste aspecto, não posso deixar de sublinhar o papel da música para o desenvolvimento de competências noutras áreas do conhecimento.

Mais: existem resultados que comprovam que os alunos que aprendem música obtêm melhores resultados escolares. O conhecimento deste facto faz com que, nos anos, se tenha verificado um significativo aumento da procura deste tipo de ensino nas camadas mais jovens.

Para além destas forças, não posso deixar de referir, a qualidade do trabalho, a dedicação e o amor à Música que os nossos alunos e professores, colocam todos os dias ao serviço  da Arte que fazem.

Também os colaboradores não docentes do Conservatório fazem toda a diferença: pelo seu compromisso, profissionalismo e disponibilidade de sempre, sem os quais não conseguiríamos prosseguir com a nossa missão.

Temos uma equipa que dá o seu melhor todos os dias e isso é fundamental para ultrapassar obstáculos e fazer a instituição crescer de forma sustentada.

O Conservatório é, de facto, uma instituição de referência no Ensino Artístico Especializado e parceiro da Autarquia e demais Instituições locais, com uma atitude proactiva e de melhoria contínua ao serviço dos seus Cooperadores e da Comunidade em que se insere.

Somos uma grande equipa, motivada e com a certeza de que iremos fazer mais e melhor! Pelos alunos, por Santarém e pela Arte que nos une!

Quais os grandes desafios que o ensino artístico enfrenta na actualidade?

Creio que na actualidade continuamos, em Portugal, com um certo estigma em relação à forma como a sociedade em geral percepciona o Ensino Artístico: continua a ser visto como menos importante do que outras áreas de estudo, menos valorizado, o que por sua vez faz com que os alunos que optam por esta via do ensino artístico sejam vistos como pessoas com um futuro profissional pouco promissor.

A própria ideia de instabilidade associada à vida de qualquer artista, quer seja na música, na representação ou na dança pode dissuadir, sobretudo a partir do ensino secundário, a continuidade deste tipo de ensino.

Sendo uma questão enraizada culturalmente, temos o dever de desmistificar o preconceito em que este tipo de ensino está envolto, nomeadamente a ideia de que se o aluno escolher esta via no ensino secundário ficará impossibilitado de continuar a aceder a cursos mais convencionais no ensino superior.

Aliás, na passada semana fizemos uma sessão de esclarecimento precisamente sobre este tema, destinada aos encarregados de educação dos alunos que irão terminar o 9º ano, visando tornar claras as várias possibilidades de acesso dos alunos que frequentem o curso secundário do ensino da música.

A gradual redução do financiamento público é igualmente um problema que nos preocupa, pois poderá colocar de fora muitos alunos que gostariam de fazer da Arte a sua profissão futura.

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