Foto: Vitorino Coragem

Samuel F. Pimenta conquistou recentemente o Prémio Alumni Nova FCSH Revelação, na área de Humanidades, pelo seu percurso literário. O prémio, atribuído pela universidade a antigos alunos que se distinguiram nas suas áreas de formação, deixou o escritor natural de Alcanhões “atordoado” pela distinção, cuja cerimónia decorreu no passado dia 11 de Novembro, no Auditório da Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa. 

Ao Correio do Ribatejo, Samuel F. Pimenta recorda os tempos universitários, reflecte sobre o mercado literário em Portugal e revela projectos futuros. 

Qual a sensação de ter sido o grande vencedor do Prémio Alumni NOVA FCSH Revelação? Ainda se sente “atordoado”?

Agora já com os pés bem assentes na terra, mas confesso que, quando me ligaram a anunciar, fui apanhado totalmente desprevenido, pois estava longe de imaginar que me iriam atribuir o prémio. É sempre muito bom ver o nosso trabalho reconhecido, ainda mais vindo da faculdade onde estudei.

 

De que forma o período em que foi aluno da NOVA FCSH influenciou a sua vida e carreira actual?

Foi absolutamente estrutural. Considero que sou melhor cidadão e melhor escritor por ter estudado na NOVA FCSH. O ensino superior não se reduz à formação para o mercado de trabalho, é uma forja de onde sai pensamento, ideias, onde se abrem horizontes. Ainda me lembro do que nos disseram na primeira aula de apresentação do curso de Ciências da Comunicação, em que me licenciei: “o objectivo é saírem daqui a saber pensar”. Não foi obedecer, não foi ser produtivo. Foi saber pensar. Isso diz muito do espírito da NOVA FCSH.

 

Esta distinção junta-se a várias outras que tem conquistado ao longo dos anos. Estes tipos de prémios são fundamentais para a carreira de um escritor?

Não os considero fundamentais, mas não vou negar que ajudam. Por um lado, quando há um valor pecuniário envolvido, pode ser uma ajuda importante numa área que é muito precária, com os autores a ganharem, em média, 10% de direitos de autor (se forem pagos, pois na maioria das vezes não são). Por outro lado, o reconhecimento inerente aos prémios, além de ser um incentivo, pode despertar o interesse das editoras e do público, o que também é importante. Mas não é fundamental. Fundamental é escrever e, se houver possibilidade e vontade, publicar, deixar a obra documentada.

 

Começou a escrever com 10 anos de idade, tendo explorado vários géneros como o romance e o conto. Contudo, parece ser a poesia o género pelo qual nutre uma maior vontade de se expressar artisticamente. O que o atrai neste género?

Na verdade, não tenho preferência por nenhum género. Publiquei quatro romances e cinco livros de poesia. O género muda em função do que tenho para dizer e, por vezes, os temas repetem-se, são transversais aos géneros. Talvez acabe por escrever prosa, seja romance ou conto, quando tenho personagens que querem contar algo, e poesia quando quero pensar ou meditar.

 

Já são 15 anos de vida literária, iniciados em 2009, com o lançamento do seu primeiro livro. Que balanço faz do seu percurso, enquanto escritor?

Faço um balanço positivo, seria injusto se dissesse o contrário. Deixa-me muito satisfeito ter tido a oportunidade de dizer o que tenho para dizer ao longo deste tempo, mas isso também aconteceu porque fui atrás das coisas. Além disso, o tempo também ajuda a aperfeiçoar a técnica.

Tendo já uma certa experiência no meio literário, de que forma olha para o mercado editorial português? Há espaço para todas as ideias e expressões artísticas?

Ainda há muitos preconceitos relativamente a géneros literários e temáticas. Por exemplo, o romance é o género privilegiado, em detrimento do conto ou da poesia. Mas também me parece que isso está a mudar, pois vão surgindo pequenos projectos editoriais, independentes, que apostam em livros que, habitualmente, não encontramos nos grandes grupos editoriais. Mudar mentalidades é um processo lento, mas sou optimista.

 

Já anunciou que o seu próximo livro será editado pela Penguin Livros e onde retornará à literatura juvenil. Quer desvendar um pouco mais sobre este novo projecto?

Não posso revelar muito sobre a temática, mas posso dizer que é resultado de muita investigação, o que não é muito habitual de se dizer sobre um livro infantil. Também posso adiantar que agradará a miúdos e graúdos.

 

Que conselhos daria aos jovens e novos escritores que estão a iniciar a sua carreira literária?

Que leiam! De tudo, sem preconceitos, dos textos mais canónicos aos mais experimentais, pois a leitura molda a escrita. E, obviamente, que escrevam, que produzam, que concluam obras, para treinarem a mão.

 

Se tivesse de escolher um livro para contar a história da sua vida, qual seria?

“Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector, por dialogar com dimensões muito íntimas de mim.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Leia também...

João Carlos Pina da Costa apresenta uma história de vida e destino na pele de um animal

A Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, recebe no dia 1 de Março, às 15h00, a apresentação do livro “Cão, simplesmente”, da autoria de…

“Nunca entrei nesta casa contrariado, porque adoro aquilo que faço”

O supermercado ‘Pérola do Ribatejo’ é um dos ex-líbris do centro histórico da cidade de Santarém. Localizado na Rua Capelo e Ivens, nº 64,…

Aurélio Lopes desenvolve estudo sobre Maria, percurso histórico-mítico e ascensão doutrinária e cultual

O antropólogo Aurélio Lopes prossegue a sua investigação em torno da figura de Maria no seio da Igreja Cristã, a partir da qual reflecte…

“A escrita pode mover montanhas”

Com o olhar atento ao mistério de reprodução da vida no âmago da natureza, os seus ciclos repetidos, “No Tempo Lento”, obra de estreia…