Promotor incansável da iniciativa “Corrida pelo Fado”, que une desporto e património imaterial, Vítor Aguilar fala-nos da sua paixão pela música portuguesa e de como o Fado o acompanha desde a infância. Com um percurso marcado pela acção comunitária, evoca os nomes que o influenciaram, os projectos que desenvolve com escolas, lares e associações, e deixa um apelo claro: dar mais voz ao Fado através dos meios de comunicação e junto das novas gerações.
De que forma o seu percurso pessoal influenciou esta ligação profunda ao Fado e à sua promoção cultural?
Sou de uma geração onde me habituei a ouvir rádio e conhecer musicalmente grandes nomes da canção onde se inclui o Fado, com temas que ainda hoje se ouvem pelos próprios e recriados por novas gerações. Entre esses nomes cito alguns como Tony de Matos, Tristão da Silva, Maria Clara, Anita Guerreiro, Fernanda Maria, Manuel de Almeida, Carlos Ramos, Dom Vicente da Câmara, Carlos do Carmo e a Diva Amália Rodrigues que foi quem internacionalizou o Fado e por aqui ficou o gosto pela música portuguesa e em particular o Fado.
Como surgiu a ideia da “Corrida pelo Fado”? O que o motivou a unir o Fado ao desporto, e que impacto sentiu junto das comunidades?
O ‘Run 4 Fun’ Grupo Desportivo a que estou ligado, vocacionado para a Corrida/Caminhada começou a criar desde a sua fundação há cerca de 17 anos alguns treinos temáticos onde associamos o desporto à cultura. Começamos com o treino dos Elevadores de Lisboa, seguiram-se o Treino dos Miradouros, do Aqueduto das Águas Livres, dos Chafarizes, do eléctrico 28, entre outros onde se inclui o Treino do Fado a caminho da 10.ª Edição. A princípio a ideia parecia difícil de por em prática, visto o Fado ter os seus momentos altos à noite e as corridas realizarem-se pela manhã. Foi numa ida à Rádio Amália ao programa do Fado Vadio que em directo lancei o desafio e desde aí a Rádio tem sido um dos grandes parceiros a par do Museu do Fado da Fundação Amália e mais recentemente a Casa Museu Fernando Maurício com a preciosa colaboração da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. Alem destes apoios temos passado por locais emblemáticos do Fado como o Café Luso e Adega Machado onde terminamos a parte desportiva com um apontamento de fado, também Casas como o Faia, Casa de Linhares, Clube de Fado. Senhor Vinho entre outras fomos extremamente bem recebidos com a oportunidade de cruzarmos com grandes fadistas e músicos. Neste roteiro do fado incluímos duas breves passagens pelo Panteão Nacional onde se encontram duas grandes referências do Fado e do Desporto: Amália e Eusébio daí esta simbólica homenagem.
Além da “Corrida pelo Fado” que outras iniciativas tem promovido ou pretende desenvolver para valorizar e divulgar o Fado?
Como amador sempre que solicitado participo em encontros solidários, sejam com o objectivo de angariação de fundos para Colectividades ou Grupos como Escuteiros por exemplo ou em locais de entretenimento como Lares da 3 Idade e Centros Escolares onde recentemente realizámos um apontamento de fado a propósito da semana da Cultura tudo isto com a disponibilidade de elementos da Academia do Fado e da Guitarra Portuguesa da qual sou associado. Dentro deste espírito amador e solidário mantenho este propósito e gostava que através da Academia voltássemos a realizar eventos no Alcoitão laços que se perderam com a pandemia.
Que dificuldades encontra actualmente na organização de eventos ligados ao Fado, sobretudo no que toca à captação de públicos mais jovens?
Relativamente à captação de público mais jovem creio que as Escolas de Fado com a ajuda das Juntas de Freguesia e Grupos Associativos têm vindo a crescer com o aparecimento de muitos jovens, contudo esta evolução que se verifica poderia a meu ver ser melhorada com o contributo das Rádios que captam uma audiência jovem e poderiam ter um papel importante com a divulgação do Fado.
O Fado é património imaterial da humanidade. Na sua opinião, o que falta ainda fazer para que seja mais vivido e reconhecido, em Portugal e além-fronteiras?
Penso que o Fado está no bom caminho, muito renovado com novos talentos e nova roupagem no que respeita à poesia. Tornou-se moda a avaliar pela vastíssima oferta de noites de Fado um pouco por todo o lado mesmo longe dos grandes centros. As rádios como já referi podem ter um papel importante na sua divulgação assim como as televisões, bem como manter a divulgação junto das comunidades emigrantes e continuar o caminho de internacionalização junto do público em geral.
Um título para o livro da sua vida?
Recordações do passado.
Viagem?
Por Portugal um regresso à minha região Beira Interior.
Música?
Preferencialmente portuguesa com destaque para o Fado.
Quais os seus hobbies preferidos?
Manter a prática desportiva e no plano cultural continuar a vibrar ao ouvir as cordas das guitarras.
O que mais aprecia nas pessoas?
Simpatia e Educação.
O que mais detesta nelas?
Arrogância e prepotência.