Jorge Peralta foi um dos atletas do União Desportiva de Santarém (UDS) campeão distrital de Juniores na época 1984-85, um ano de ouro para o futebol do clube scalabitano, dos infantis aos seniores.
Quarenta anos após a conquista desse título, os jogadores e técnicos campeões mantêm a tradição anual de celebrar a conquista deste feito, para o clube e para a cidade de Santarém.
No passado sábado, voltaram a reunir-se para comemorar uma efeméride com quatro décadas de existência.
O U. Santarém foi campeão distrital de Juniores na época 1984-85, um título que o clube perseguia há três épocas, depois de duas finais perdidas, mas há terceira foi de vez. Que memórias guarda desse tempo?
Memórias fantásticas! Dessas três finais joguei em duas. A nossa equipa em relação as outras era a mais fraca em qualidade, mas eramos muito unidos e deixávamos tudo em campo.
Um dos factores importantes que nos deu mais andamento foi alguns juniores jogarem pelos seniores nas reservas às quartas-feiras. Por exemplo eu, joguei 25 jogos pelos seniores nas reservas e joguei 20 nos juniores, num total de 45 jogos na época.
O União foi campeão sem qualquer derrota e segundo a critica da época com elevado espírito de sacrifício e determinação. Como foram as duas mãos disputadas com o outro finalista, o U. Tomar?
Foram dois jogos muito apertados e muito equilibrados, mas merecemos ser campeões. Em Santarém vencemos por 2-1, depois em Tomar (0-0) nunca tínhamos jogado em relvado, fizemos um jogo incrível e não demos hipóteses ao União de Tomar, inclusive falhei um penalti a dois minutos do final…
Alguns dos juniores campeões de 1985 continuaram juntos nos seniores que nesse ano também regressaram à 2.ª divisão nacional. Terá sido esta a época d’oiro do União?
Da nossa equipa que foi campeã só subimos dois aos seniores, eu e o Paulo Dias (China). Era muito difícil jogar nos seniores do UDS que militavam na segunda divisão que hoje corresponde à segunda liga. Era um campeonato muito competitivo com grandes jogadores. Acho que foi a época de sonho da UDS porque o clube ganhou todos os títulos distritais: Infantis, Iniciados, Juvenis, Juniores e os Seniores foram campeões nacionais da terceira divisão.
Hoje, grande parte dos jogadores e técnicos campeões continuam a reunir-se anualmente para assinalar o feito. São amizades com quatro décadas que se mantêm bem vivas. É assim que o futebol vale a pena?
Somos um grupo fantástico de amigos! Todos os anos, em Maio, fazemos um almoço para conviver e assinalar a conquista. As histórias são sempre as mesmas, não foi só o título que conquistámos, mas sim uma amizade eterna e este ano completamos 40 anos.
O melhor do futebol são as amizades que fazemos.
Durante uma vida dedicada ao futebol, estou certo que houve muitas histórias que ficaram e que ainda hoje são recordadas com saudade. Quer recordar algumas?
São muitos anos ligado ao futebol como jogador e como treinador. Tantas histórias… muitas alegrias, muitas tristezas, muitas brincadeiras, num balneário sagrado, mas recordo os títulos de campeão pelo UDS como jogador, as subidas de divisão e, mais tarde, como treinador também os títulos e as amizades que tenho feito no futebol que é a minha grande paixão.
O chamado “amor à camisola” perdeu-se, ou ainda é visível no seio do clube? Podemos falar em ‘mística’ quando falamos do União de Santarém?
Os tempos mudaram muito. No futebol de hoje os miúdos não têm paixão. Na minha opinião o amor à camisola perdeu-se e a mística também. Na minha altura, 80 por cento dos jogadores eram da terra e formados no clube. Hoje, o clube passou a ser SAD com objectivos ambiciosos e tem o futebol sénior profissionalizado não tendo no seu plantel nenhum jogador formado no clube. Isto não é uma crítica é fruto da mudança dos tempos. O que desejo é o melhor para o clube e que consigam atingir os seus objectivos.
Que mensagem deixava aos jovens futebolistas da formação do União depois de mais de quatro décadas de ligação ao clube?
A minha mensagem para jovens é muito simples: criar sempre um objectivo de vida, saber sempre onde se quer chegar. Quero ser jogador de futebol, ou tirar um curso? Para fazer uma carreira de jogador temos de trabalhar muito, saber ouvir, aprender, ter grande compromisso, fazer muitos sacrifícios e nunca desistir, ser resiliente. É fundamental respeitar os agentes desportivos, mas nem todos lá chegam. Se não tiverem estes requisitos é sempre melhor que estudem e tirem um curso.