Presidente da Direcção da NERSANT – Domingos Chambel

“O meu legado é livrar o NERSANT de despesas parasitas”

Domingos Chambel, actual presidente da Nersant é um empresário qualificado e um homem honesto. Mais discreto que os antecessores, o conhecido empresário de Abrantes na área da metalomecânica subiu a pulso e, por isso, gosta de desafios. Foi essa característica que o levou a aceitar, em plena pandemia, assumir a direcção de uma associação empresarial que tem feito a diferença na região. Questionado sobre a marca que quer deixar, Chambel é peremptório: “acabar com despesas parasitárias” e reorganizar a associação por dentro são o seu legado.

Vamos recuar uns bons 20 anos. De que forma chegou ao Nersant? Foi pela mão de José Eduardo Carvalho que contava consigo para a presidência do Núcleo de Abrantes? Quem é Domingos Chambel?

O Domingos Chambel é um empresário que já tem estatuto de aposentado: tenho 72 anos e um percurso ligado às empresas e ao mundo empresarial que vem desde 1965. Aos 14 anos, estava a trabalhar já nas Fundições do Rossio, como aprendiz de serralheiro: foi uma grande escola e, entretanto, matriculei-me na antiga escola industrial onde tirei o primeiro curso da escola. Passados cinco anos, fui trabalhar para a metalúrgica Eduardo Ferreira, outra grande empresa, com 2200 trabalhadores. E fui colocado numa divisão que, hoje, é um grande sucesso, onde se faziam as ‘Berliet’. Aí, desempenhei várias funções, como chefe de manutenção, projectista, orçamentista, montador de máquinas, serralheiro… Passei por muitas situações profissionais. Depois, entendi que devia tirar um curso superior. Falei com os meus patrões, na altura, e pedi que me facilitassem a vida para poder tirar um curso em Lisboa. Acederam ao meu pedido e eu fui trabalhar com a administração para a Avenida 5 de Outubro e matriculei-me no Instituto Superior Técnico. Entretanto, vem o 25 de Abril, as coisas complicam-se – porque as Berliet deixaram de sair – e eu vi-me em Lisboa com apoios escassos. E vi-me então forçado a vir para a província: em Lisboa, não tinha dinheiro para comer nem para dormir. Vim para Abrantes. Nessa altura, entendi começar a minha trajectória empresarial que passou por vários sectores como a hotelaria, investi numa discoteca e numa empresa de construção civil e obras públicas que ainda hoje existe. Aí trabalhei muito na construção de estradas. Aliás, a minha empresa esteve na ligação da A1 Lisboa- Porto. Fui um dos empreiteiros. Acabámos, precisamente, a ligação de Lisboa ao Porto que se uniu na Mealhada. E, depois, nunca mais parei.

Como é que aparece como Presidente da Direcção da NERSANT?

Em 1990, notei que todo o norte do Ribatejo não tinha peso institucional ao nível de associações empresariais. Depois, começamos a juntar vários empresários e a pensar construir uma associação empresarial a norte desta região. Construímos a primeira, chamada AICA – Associação Industrial e Comercial de Abrantes. Depois, o nome passou a Associação Empresarial dos Conselhos de Abrantes onde já apanhava Barquinha, Constância, Sardoal, Mação, Abrantes. E começámos a ter uma dinâmica tão forte que nós fazíamos feiras empresariais em Abrantes. Em 1993, fizemos a primeira feira empresarial onde tínhamos 200 expositores. Aí, a associação cresceu tão rapidamente em número de sócios e iniciativas que a nossa credibilidade foi de tal forma que já levávamos Secretários de Estado e Ministros a Abrantes, a fazer parte dos nossos seminários nos sectores todos que a associação estava a desenvolver. Quando começámos a ter essa dinâmica, o Dr. José Alberto Carvalho, apercebeu-se desta situação e teve várias reuniões comigo e entendeu que a NERSANT não tinha ninguém a norte do Ribatejo que conseguisse criar uma dinâmica como aquela associação que criámos. Aquilo que acordámos foi que duas associações não faziam sentido. Juntos teríamos muito mais força. Aquilo que ele fez foi convidar-me para integrar a NERSANT sendo que eu ficaria à frente do núcleo da NERSANT em Abrantes. Fizemos várias feiras empresariais, fora ainda da estrutura da NERSANT, foram um sucesso muito grande, deram um prestígio e protagonismo ao norte do Ribatejo que ele não tinha até àquela altura. E acordámos com o Dr. José Eduardo Carvalho haver uma integração daquela associação na NERSANT e foi isso que fizemos. Passei a chefiar o núcleo empresarial da NERSANT de Abrantes e fazer o mesmo trabalho dentro do núcleo da NERSANT.

Foi aí que o levou a vice-presidente?

Nessa altura, os estatutos da NERSANT previam que os presidentes dos núcleos – existem cinco: um em Abrantes, um em Ourém, outro em Santarém, outro no Cartaxo e, finalmente, Benavente – têm assento na direcção. E eu passei a fazer parte da direcção através do núcleo do NERSANT de Abrantes. Na altura, a Dra. Salomé era vice-presidente do Dr. José Eduardo Carvalho. Quando ele entendeu sair, teve uma conversa comigo e convidou-me para assumir a presidência. Nessa altura, não tinha condições, porque tinha vários investimentos no estrangeiro. Foi só por isso que não aceitei. Esta conversa foi com três pessoas, foi comigo, com o Dr. José Eduardo Carvalho e com o João Artur, da Risa. Esse convite foi feito e só por o motivo que já referi, é que não aceitei. A minha vida era, na altura, mais no estrangeiro do que aqui.

Mas aceitou a 27 de Julho de 2020… O que é que o levou, depois esses anos todos, a aceitar ir para a cadeira de presidente?

Eu tenho muitas dúvidas se haveria empresários que conseguissem ter a coragem de aceitar as responsabilidades desta associação em plena pandemia, com o país parado, com a economia parada, com projectos completamente parados e sem esta associação ter hipótese nenhuma de não ter nas suas mãos a solução. Tomar conta de um barco destes, com uma economia completamente estagnada, com pessoa em casa, até da NERSANT… foi muito complicado. Eu tenho algumas dúvidas se haveria muitos empresários que estariam dispostos a assumir esta posição nestas condições.

Mas a sua eleição foi quase unânime. Só teve 28 votos em branco, não teve votos contra e conseguiu 234 votos a favor. Foi a maior votação de sempre. Apesar da crise e do momento que se atravessava na altura. Conseguiu convencer a grande maioria dos empresários…

Foi uma altura muito difícil para a NERSANT. Foi dos períodos mais difíceis que esta associação passou porque, na altura, criámos um gabinete de crise, para atender as chamadas e solicitações todas dos empresários. Além de não haver legislação naquela altura. A legislação saía quase todas as semanas e as pessoas não sabiam o que deviam fazer, as empresas mandavam as pessoas para casa, estava tudo paralisado e penso que, nessa altura, a NERSANT teve um papel fundamental na articulação entre o governo e a legislação toda que era emanada da tutela para as empresas. Tanto em termos de informação como em termos de apoio. Foi, em resumo, esse o motivo que me levou a aceitar: foi um momento difícil, mas, efectivamente, eu sempre gostei de grandes desafios. A minha vida é caracterizada por grandes desafios e nessa altura aceitei candidatar-me não só pelas condições, mas porque entendia que também devia ser gerada uma nova política de gestão desta casa. 

Passados estes três anos da sua presidência, entende que este trabalho que está a fazer é um projecto de continuidade ou de ruptura com a anterior presidente?

De ruptura não é, mas de continuidade também não. Há alinhamentos que, tanto o Dr. Eduardo Carvalho, como a Dra. Salomé são estruturais e aos quais damos continuidade, que são as linhas que, quando a associação foi formada, pelo Dr. José Marçal, foram traçadas. A esse alinhamento, como disse, tanto o Dr. José Alberto Carvalho como a Dra. Salomé deram continuidade e o Domingos Chambel continuidade deu. Cada um dentro da sua conjuntura. Cada um geriu como entendeu dentro da sua conjuntura. Havia coisas que se poderiam compreender, numa determinada conjuntura, há 30 anos, por exemplo, e que hoje não têm hipótese de se compreenderem. Eu também não estou cá para sempre, mas o próximo que cá vier, para me substituir, vai, com certeza gerir dentro de uma outra conjuntura e fazer as alterações que devem ser feitas.

Com essas palavras, está a dizer que não se vai recandidatar?

Ainda não decidi. As eleições, segundo os estatutos, devem ser feitas no primeiro trimestre do ano. De um momento para o outro, convocamos a direcção e marcamos as eleições. 

Mas se as eleições fossem amanhã, estava mais para aceitar ou não?

É uma situação que eu tenho de pensar muito bem. Respondo-lhe assim: estou no mundo associativo empresarial há 30 anos e tenho um filho com 15. Tenho roubado muito tempo ao meu filho por causa da vida empresarial: tendo em conta a inerência do cargo faço parte da direcção da CIP, da AIP, faço parte da direcção da Tagus Valey e de um conjunto de outras instituições…

De um momento para o outro, pensa abandonar todos esses barcos?

Eu não estou a dizer com isto que não me candidato, mas tenho de ponderar bem a minha vida. O meu filho só tem 15 anos uma vez. Está com uma idade que precisa muito da companhia do pai. E o pai, tendo em consideração a solicitação contínua que esta casa e estes lugares obrigam, tem-no privado de muitos almoços, muitos jantares, muitos sábados e muitos domingos da sua companhia.

Recentemente, mudou de presidente da comissão executiva. Está satisfeito com o trabalho de Dr. Luís Ferreira? E esta pergunta leva-me a uma outra. Porque é que José António Campos saiu?

O engenheiro Campos esteve nesta casa 27 anos e, em 27 anos, faz-se muito trabalho bom, mas faz-se também trabalho mau. Eu entendo que se deve só aproveitar e elevar o trabalho bom. Não acrescenta nada estar aqui a mencioná-lo e a fazer-lhe qualquer referência. O engenheiro Campos trabalhou muito para esta casa e foi sempre uma pessoa que esteve à frente da parte executiva, mas que, no meu mandato, teve algumas falhas. Como por exemplo eu ter-lhe pedido expressamente para que remetesse um e-mail para denunciar o protocolo com o Jornal regional O Mirante, coisa que ele não o fez… Diz-me que não viu o email e, efectivamente, passado um mês e meio, quando estou a ler o processo, peço-lhe a carta que lhe pedi para ele enviar e o email. Ele responde-me que não viu… A outra falha, tendo em consideração a redução de custos que esta casa devia ter, foi o ter-lhe pedido que fizesse um plano de contingência e nem sequer resposta tive… relevei, mas não gostei.

A saída não foi pacífica. Entretanto o engenheiro Campos avançou com um processo com o tribunal de trabalho contra o NERSANT. Há ponto de situação?

Ainda não fui ouvido, mas eu já vi o processo. Esse processo é apoiado em mentiras, falsidades e é por isso que eu não estou muito bem disposto com o engenheiro Campos. Ele não se portou bem. Está a ser oportunista, está a querer enriquecer à conta de uma instituição que não é minha, mas para a qual fui eleito para defender os seus interesses e dos empresários que a compõem.

Foi isso que eu transmiti ao engenheiro Campos na presença dos vice-presidentes. Eu não posso criticar o engenheiro Campos por este querer ir-se embora, mas há aqui um paradoxo: primeiro, despede-se com uma reunião de presidentes e vice-presidente onde não invoca uma única vez aquilo que invoca no processo do tribunal. Diz que é a altura de sair, que não se revê na gestão que esta direcção tem. Não evoca nenhum motivo que ele inventa na acção de Tribunal. São motivos inventados, e tudo aponta, em Tribunal, para um processo de justa causa e é aí que vamos ver. Nessas contrariedades todas, iremos ver como é que é o desfecho desta situação.

Mas não foi apenas o Eng. Campos a sair. Também saíram Patrícia Amorim, João Lucas e outros cerca de 15 elementos dos quadros da Nersant que nos últimos meses saíram. Porquê? Eram quadros que não interessava manter? Bateram com a porta simplesmente?

A Patrícia eu não porque é que ela saiu porque ela nunca falou comigo. A Patrícia não tem sequer uma carta a transmitir à direcção quais os motivos que a levaram a sair. Nunca tivemos discussão nenhuma, nunca tivemos conversa nenhuma, nem contacto, nem reuniões que justificassem a sua saída. Não porque é que ela se foi embora. O que mais tem caracterizado a minha vida foi procurar sempre melhores condições e essas melhores condições de vida obrigam as pessoas a irem à procura de outras condições melhores. 

Falando agora da saúde financeira desta casa. Está ainda ‘fresca’ a última Assembleia Geral Anual da Nersant, realizada na passada semana, dia 6 de Julho, que tinha na sua ordem de trabalhos ‘Deliberar sobre o Relatório de Gestão, Balanço e Contas da Associação do exercício de 2022. Como define a saúde financeira actual da Associação Empresarial a que preside? O que é que dizem os números?

Defino a condição financeira como eu a defini sempre, desde o primeiro dia em que entrei para cá. É uma situação financeira que está ali, no ‘red line’. É uma instituição que não tem fins lucrativos e, não os tendo, não trabalha para ter lucro. Toda a direcção anda a gastar dinheiro à conta do bolso de cada um. Os transportes, o gasóleo, os almoços e jantares. Eu pago os meus e muitos outros jantares que tenho, para interesse desta casa, do meu bolso. Nunca a NERSANT pagou almoços ao Domingos Chambel ou a qualquer director ou transporte que teve. A NERSANT não despende um cêntimo com nenhum director. Nessa lógica, e nesse conjunto de factores, aquilo que posso dizer é que esta associação sempre teve dificuldades financeiras e sempre as soube ultrapassar, com mais ou menos empréstimos ou financiamentos, sempre os soube superar.

O senhor ‘atravessou-se’, como é comum dizer-se, com dois empréstimos. Um de cem mil euros e outro de exactamente 117. 773, 84 €. Qual é a finalidade destes empréstimos?

No dia 13 de Dezembro, fizemos dois eventos. Um foi o conselho geral e outro foi a homenagem ao engenheiro Jorge Rosa. Perto da meia noite, ou já era meia noite, o engenheiro Campos abordou-me e disse-me que, no dia 15, a NERSANT não tinha dinheiro para pagar os subsídios de Natal. Quem ouviu esta conversa foi a minha sectária, Elsa Duarte. E ela, como entendeu que aquilo era um assunto um pouco delicado, retirou-se. Eu não gostei da atitude do Eng.º Campos. Entendi que era como que o puxar do tapete ao presidente: a 24 horas de pagar os subsídios de Natal aos empregados transmitir-me que não havia dinheiro… Se não havia dinheiro, o presidente da comissão executiva, o cargo que ela estava a desempenhar, tinha obrigação, pelo menos com 30 ou 60 dias, apresentar a situação e ter esta conversa para que a direcção, junto da banca, contraísse empréstimos suficientes ou gerasse receitas para fazer face ao pagamento dos subsídios de Natal. Não é em 24 horas que um responsável, como era o engenheiro Campos naquela altura, transmite uma situação destas a um presidente da direcção: isto denuncia duas coisas: falta de organização e querer tirar o tapete ao presidente.

Estes dois empréstimos são para isso?

Perante essa dificuldade, e essa situação altamente difícil para a associação, e constrangedora, fez-se uma reunião de direcção, onde expus o que tinha acontecido. Como a direcção nem ninguém da direcção tinha hipótese de arranjar dinheiro para pagar os subsídios de Natal, eu propus-me, em nome individual, a emprestar o dinheiro para assumir o compromisso dos subsídios de Natal, transmitindo à direcção que ia reunir com todos os trabalhadores, já que o engenheiro Campos teve esse comportamento pouco profissional. E transmiti a todos os trabalhadores que o subsídio de Natal era assegurado e que eles seriam aumentados, tendo em consideração a inflação, em 50 euros cada um. Portanto, esse primeiro empréstimo, de 100 mil euros, foi para fazer face a essa despesa. 

E o segundo empréstimo, que também foi aprovado em reunião de direcção, está relacionado com quê? 

Quando nós tomamos conta desta direcção, havia facturas para pagar ao Jornal O Mirante que vinham desde 2018. Nós entrámos em 2020. As facturas não foram pagas e o protocolo não tinha sido denunciado e aquilo que o Mirante fez foi uma injunção junto ao tribunal para receber esse dinheiro. Perante esta situação, a NERSANT também não tinha dinheiro, na altura, para assumir esse pagamento e o Domingos Chambel, mais uma vez, facilitou esta associação propondo-se a emprestar precisamente o mesmo valor que foi pago a O Mirante: um cheque de 117 mil euros, e que saiu do bolso do presidente da direcção.

Acha normal essa injunção não ter sido contestada?

A injunção foi contestada. Aquilo que o Mirante conta é uma coisa, aquilo que se passa na realidade é outra. O processo foi contestando e eu fui a tribunal. Fui questionado pela doutora juíza se estava disposto a pagar a dívida em várias prestações. Eu disse que sim. O advogado do jornal, na altura, disse que mesmo que o cliente dele não quisesse, não admitia que a dívida fosse paga em prestações. E nessa situação o que é que aconteceu ́: advogado na NERSANT teve que fazer uma cirurgia e fez uma exposição ao tribunal dando conta disso mesmo, mas falhou por um dia o prazo para a apresentação da contestação. E só por esse dia, a juíza não deu a sentença nessa altura. Aproveitou o ‘falhanço’ do advogado. Nós recorremos ainda para a relação. A relação veio dar a razão, porque o advogado devia apresentar a declaração da operação, que veio a apresentar à posteriori um dia antes, e essa situação levou o tribunal a decidir que a NERSANT teria de pagar as facturas contestadas. Já o fez, mas isto não acaba aqui. A NERSANT interpôs, entretanto, um processo contra a Terra Branca, que é a empresa que detém o tal protocolo da tal assessoria que nunca foi dada à NERSANT. E esse processo está a decorrer. Portanto, o processo já tinha entrado antes deste julgamento e não tem nada a ver uma coisa com outra. Nós já tínhamos processado a Terra Branca por facturas com falso conteúdo, ou seja: as facturas que recebíamos na altura eram referentes a 114 assinaturas e nunca soubemos o que é que foi isso. Penso que essa situação – não sei até se está ligada a alguma facilidade fiscal porque facturando 114 assinaturas, se tem algum abono para essa situação fiscal – porque, efectivamente, nós nunca recebemos essas assinaturas, nem nunca nos foi feita assessoria absolutamente nenhuma. Não havendo assessoria e as 114 assinaturas, uma coisa não diz com a outra, porque o protocolo fala em assessoria e as facturas falam em 114 assinaturas. Numa situação daquelas, a NERSANT processou a Terra Branca. O processo está em tribunal por facturas sem conteúdo, e que, na minha perspectiva são falsas. E estamos à espera que isto vá a julgamento, para decidir se temos direito a 118 mil euros ou não, que a Terra Branca recebeu indevidamente. Como já referi, O Mirante, desde 2011, já facturou à NERSANT mais de 300.000€ ao abrigo de um protocolo da participada do Joaquim Emídio, Terra Branca, com a NERSANT para serviços de assessoria de comunicação social, nunca existentes, emitindo facturas de 144 assinaturas e o caso está a ser resolvido nas instâncias judiciais.

A Banca é um instrumento importante para as empresas da região. Falando da vida económica da casa, que medidas é que aprovou a direcção para ajudar estas empresas? A NERSANT candidatou projectos na região no valor de 5,5 ME. Qual é a saúde das empresas e quantas tem associadas neste momento?

Nós temos cerca de três mil associados. E, efectivamente, temos mil e tal com quotas em dia. Nós temos desenvolvido um trabalho muito grande na internacionalização, onde temos várias frentes de abordagem que se prendem com o ‘Business’, que é uma iniciativa que organizamos todos os anos e que organizamos fisicamente e que, no tempo da pandemia organizámos via online. Conseguimos, com essas iniciativas todas, durante esses três anos, fazer largos milhares de reuniões com empresários, com várias dezenas de países envolvidos, e várias dezenas de instituições desses países envolvidos também nessa iniciativa. Só para lhe dar uma ideia: em 2020, em plena pandemia, já tivemos 89 empresas nacionais envolvidas com 157 participantes de 60 países na área da internacionalização. 

Só para ter uma ideia do trabalho que nós já desenvolvemos: temos também uma figura de roadshow, e com ela escolhemos o país alvo e, depois disso, entramos em contacto com o embaixador português nesse país, entramos em contacto com o embaixador desse país em Portugal, com as câmaras de comércio representantes nesse país alvo; fazemos várias reuniões de preparação para o chamado roadshow e convocamos os nossos empresários e pedimos-lhes que escolham os sectores que estejam interessados em discutir com o país alvo e pomos os empresários todos a falar uns com os outros e a combinar contactos que passam directamente a ser feitos com os empresários dos quais nós deixamos de ter uma interferência directa. 

Podemos ter informações pontuais do andamento desse trabalho, mas aquilo que nos importa é que os nossos processos e os nossos produtos sejam divulgadas internacionalmente. Nós já estivemos nos Estados Unidos da América, na Bélgica, na França, no Dubai, em Macau, na Eslováquia, na Croácia, no Paraguai com este tipo de contactos que produzem sempre resultados. Para além de existirem sempre embaixadores interessados em nos visitar, como foi o caso da senhora embaixadora de Taiwan e o embaixador do Paraguai. Realizamos sempre no sentido de projectar e dar a conhecer as nossas capacidades da região, empresas e processos. 

O mercado árabe tem sido um atrativo. Especialmente o Dubai e os Emirados Unidos têm sido marcados porque têm algum interesse para nichos de mercado muito próximos. Esses contactos que a NERSANT estimula, que volume de negócios, na prática, criou?

O volume de negócios é extremamente difícil de calcular. Quando nós pomos os empresários frente a frente, definimos o ‘draft’ da organização, pomo-lo a funcionar. Fazemos os contactos, falamos com as instituições, falamos com os países, embaixadores, representantes dos empresários, falamos com os empresários e pomo-los todos em contacto. A vender os seus produtos e processos. Esses contactos, normalmente, como qualquer semente, uns produzem e outros não. Portanto, sabemos esporadicamente que a empresa A ou B já está a facturar com a empresa Y que veio a esse encontro. Agora, o número preciso é impossível de dizer porque, depois, a liberdade das empresas que estão a negociar é total e esses negócios são depois dinamizados com outras correntes que aparecem no meio do negócio. É extremamente difícil, portanto, comensurar o volume desses negócios.

Mas há números interessantes que a NERSANT passou: as exportações da região de Santarém atingiram este ano valores históricos, ultrapassando os 2,5 mil milhões de euros. Isso é um bom indicador, claro….

Esse indicador eu tenho alguma dificuldade em interpretá-lo. Como sabe, nós temos aqui um grande centro de turismo religioso, em Fátima, e todos os valores movimentados pelo turismo caem em exportação. Em termos técnicos, financeiros, o Orçamento de Estado entende os valores do turismo como exportação. Por isso, é que quando o primeiro-ministro diz que Portugal está a subir muito na exportação e o valor do PIB subiu 4,9%, não podemos fazer uma leitura linear destes números. E tendo nós vários polos de exportação dentro da região, e especialmente Fátima, temos alguma dificuldade em compreender se essas exportações são de matéria acrescentado ou se é ligada ao turismo.

Falou do Governo. O trabalho do governo na ajuda às empresas no pós-pandemia é algo que se veja? Qual é a avaliação que faz?

A associações empresarias têm pouco apoio do governo central e até das comunidades intermunicipais. A grande maioria dos projectos, o que até contribui muito para a situação financeira sempre um pouco debilitada da NERSANT, são projectos que têm 85% de fundo perdido, ou seja, quando temos projectos cá dentro 85% de fundo perdido e nós é que realizamos esse projecto, isto quer dizer que há 15% que a NERSANT tem que ir buscar a algum sítio dos seus fundos para fazer face ao próprio projecto. Aí começa uma grande discussão de fundo sobre a estrutura orgânica que esta associação deve ter e a mudança de paradigma que a NERSANT deve ter também, porque esta associação trabalha entre os 60 e os 80% para o desenvolvimento regional. São projectos de desenvolvimento regional e ligados às empresas. E trabalha 30 ou 40 por cento directamente com as empresas. Quer dizer que essa influência que essa casa tem no desenvolvimento regional não tem um equilíbrio financeiro suficiente, nem local, nem regional, nem nacional para fazer face a esses 15% remanescentes que os projectos têm, em termos de eficiência e apoio. Esta casa faz um esforço muito grande para pôr esses projectos em andamento, para ter resultados de desenvolvimento regional e competitividade para as empresas e tem que ir buscar esses 15% a outras receitas, nomeadamente á venda de serviços e quotas para poder equilibrar esses valor negativo que faltam ao projecto. O governo central e as organizações municipais tinham aqui um papel importantíssimo: o de olharem para associações como a NERSANT e terem subvenções especificas para acrescentar a estes projectos os 15% de défice que a NERSANT tem em cada projecto que apresenta.

Uma das iniciativas tem sido o surgimento de startups na região. É este o caminho?

É o caminho da proximidade, porque as start-ups, como temos o nosso plano estratégico, são um dos pilares estratégicos que definimos. Antes dos start ups, quando falou da internacionalização, 

No início deste mandato decidimos que tínhamos o objectivo de construir seis startups. Faz parte do nosso programa. Não conseguimos seis, mas conseguimos o compromisso de três. E, dessas três, apareceu uma que conseguimos pôr a funcionar num edifício onde já temos oito empresas incubadas, em Alcanena. Conseguimos uma negociação com a Câmara Municipal de Benavente para construir uma startup no nosso núcleo do Sorraia. A obra vai a concurso e o projecto já está feito. Negociámos, também, com o presidente da Câmara do Cartaxo o aparecimento de uma nova startup. Temos lá o núcleo que tem condições, mas depois de visitarmos o edifício chegámos à conclusão que tínhamos de fazer obras e não ficava com a dinâmica que entendíamos que devia ficar e o último contacto que tive com o autarca foi no sentido de ele já estar a delinear outro sítio para começar a construção e adaptação de outro edifício para o aparecimento de uma straup no Cartaxo. O outro tem a ver com Ferreira do Zêzere. Fomos ver um edifício que era uma antiga escola primária que ficava extremamente longe do centro. Já tivemos a falar com o novo presidente sobre esta situação e ele está a ponderar outro local para o aparecimento da start-up: esperamos que a situação venha a produzir frutos, para haver um factor de proximidade não só de incubadoras como de acompanhamento. 

A NERSANT promove uma mostra de turismo do Ribatejo, estamos a atravessar uma alteração na presidência da ERTAR. O presidente da NERSANT concordaria com uma separação do Alentejo com o Ribatejo? O que é que o Ribatejo tem perdido por estar ‘anexado’ ao Alentejo? Ou o que ganha com isso?

Conheço muito da europa e bastante do mundo. Se olharmos para a nossa dimensão, em termos de região, tanto a Lezíria, como o Ribatejo, como o Médio Tejo e até como o Alentejo, tudo junto são pequenas regiões de uma Alemanha, de uma França, ou até de Espanha. Quanto mais for visível a divisão, menos força temos. Quando o operador turístico pensa em vender um determinado produto turístico não vende só um produto turístico. Vende um pacote do turismo e, nesse pacote, se o turismo tiver consagrado e centralizado com políticas definidas para o aproveitamento do dinheiro público, penso que temos mais possibilidades em fazer mais com menos dinheiro. A separação das regiões tem algumas vantagens que se relacionam com a concentração dos objectivos próprios dessas pequenas regiões. Contudo, em termos de dimensão, penso que quanto maior for a dimensão mais produtos temos para oferecer e mais condições para dar e para gerir o dinheiro público.

A NERSANT tem apostado na transição digital, essas feiras digitais são para continuar?

Nós, com a pandemia, aprendemos muita coisa: aprendemos que, hoje, os contactos online e as feiras e conferências digitais são situações que nos poupam milhares de horas e de euros em deslocações. Nós entendemos que haverá feiras que fazem sentido fisicamente, mas também entendemos e devemos aproveitar estes novos instrumentos para dar as conhecer as potencialidades dos nossos produtos e empresa que, facilmente, à distância de um clique sabemos efectivamente os produtos que a empresa está a vender, quais são as facilidades e as promoções que as empresas estão a fazer, em pormenor, e quais é que são as tendência a nível nacional, internacional e regional desses produtos e essas feiras não vão acabar. É um processo altamente dinâmico porque numa feira física apresenta-se um determinado produto, mas neste momento com a velocidade da globalização o produto altera-se de um mês para o outro e nós nesse tempo, não vamos fazer uma feira a mostrar a evolução desse produto. Numa feira online temos a possibilidade de alterar a montra e transmitir aos potenciais interessados o aparecimento de novos produtos e empresas que aparecem no terreno.

A FERSANT não está em perigo?

A FERNSANT é para continuar. Dentro da feira está um sector ligado à formação e empreendedorismo, que é bastante importante. O nosso tema prioritário dentro da NERSANT é a formação porque sabemos que neste momento, a nível europeu, temos um défice de recursos humanos qualificados extremamente difícil de ultrapassar porque não há pessoas para trabalhar. Entendemos que as empresas são muito mais competitivas se tiverem essa qualificação e nesse sentido propusemos à Câmara Municipal de Torres Novas o aparecimento de uma Academia Tecnológica onde nós fizemos duas candidaturas através da Escola Profissional, uma para um centro tecnológico especializado na área de informática e outra na área industrial. E na área industrial engloba seis laboratórios equipados com um milhão setecentos mil euros de equipamento se for aprovado 100% de fundo perdido, onde nesses laboratórios têm três cursos. Curso de soldadura, de manutenção industrial, um curso de electrotecnia. É nessa área de formação que nós estamos apostados, porque quanto mais gente qualificada tivermos na região mais competitivas são as empresas e mais capacidade temos em atrair investimento.

Que marca pretende deixar no NERSANT depois de cumprir o seu mandato?

A marca que esta direcção deixou internamente foi uma nova organização. Esta casa nunca quis hostilizar o director da comissão executiva que tinha centralizado nele todas as possibilidades de gestão desta casa. Chegamos ao cúmulo de ele ter de lançar factura a factura num computador que ele tinha na sua posse. Estava tudo centralizado nesta figura. No século XXI, ter uma casa destas centralizada num computador, dependendo de um director, não faz sentido. E não preciso perceber muito de gestão para perceber que esta não é a forma mais indicada de trabalhar. A direcção entendeu, por isso, criar dentro da rede interna um programa onde conseguimos verificar a vida de todos os projectos. Está tudo dentro desse programa e qualquer pessoa ao aceder tem a informação dos projectos, em termos de execução e em termos de gestão financeira. Em termos de organização interna, é uma das marcas que quero deixar. A outra marca, foi acabar com algumas despesas parasitárias que a casa teve. A situação do O Mirante é escandalosa. Estar a pagar 2.635 euros por mês por serviços não prestados é absurda. A conclusão a que chego é que se estava a pagar para não levar pancada.. A partir do momento que se deixou de pagar, toda a direcção e o presidente em particular começou a levar pancada: portanto, há uma relação lógica. A motivação de todos estes ataques à NERSANT, direcção, seu presidente e vice-presidentes, só tem uma justificação: a decisão da direcção da NERSANT, num acto de legítima e boa gestão, denunciar o contracto mensal existente com a empresa Terra Branca, participada do Joaquim Emídio dono de O Mirante, sendo estes “ataques”, uma atitude persecutória e de represália pelas mordomias agora perdidas. Mas eu não recuo. Esse é um legado que eu quero deixar a esta casa: aliviar despesas parasitárias que existiam e que oneravam muito a associação. Haviam também outros processos, que estavam parados há 20 anos, e que esta direcção deixou de ter despesas mensais com eles. Estão fechados. Penso que esta direcção teve três anos de muito trabalho a equilibrar financeiramente esta associação e contribuir para o desenvolvimento regional através das centenas de projectos desenvolvidos.

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