Estudante do Conservatório de Música de Santarém, Maria Francisca Domingos é uma jovem organista decidida a dar visibilidade ao instrumento que escolheu para a vida. No próximo dia 5 de Abril, às 16h30, actua na Igreja da Misericórdia de Santarém, num concerto organizado em conjunto com Matilde Canto, jovem cantora. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, Maria Francisca sublinha a importância de valorizar o património musical da cidade e revela a paixão que a liga ao órgão — instrumento que considera “imponente, complexo e profundamente inspirador”.
Como surgiu a ideia de organizar este concerto na Igreja da Misericórdia e qual é a sua motivação principal ao promovê-lo?
A ideia de organizar este concerto na Igreja da Misericórdia surgiu, em primeiro lugar, do desafio de tocar ao vivo e de nos expormos ao público. Para qualquer músico, a experiência de actuar diante de uma audiência é essencial para o crescimento artístico, e este evento representa uma oportunidade única de demonstrarmos o nosso trabalho e paixão pela música. Além disso, a divulgação deste concerto é fundamental, não apenas para darmos a conhecer o nosso talento, mas também para destacar a presença de pequenos artistas em Santarém. Muitas vezes, músicos emergentes encontram dificuldades em obter visibilidade, e iniciativas como esta ajudam a mostrar que há talento local que merece ser reconhecido. Queremos inspirar outras pessoas, demonstrar que é possível seguir um caminho artístico na nossa cidade e criar momentos únicos de partilha musical com a comunidade.
O órgão é um instrumento com grande tradição em Santarém, mas sente que continua pouco valorizado na cidade. Que papel pode este concerto ter na sua valorização?
O órgão é um instrumento com uma forte tradição em Santarém, mas, infelizmente, nem sempre recebe a atenção e valorização que merece. No entanto, essa realidade não se aplica apenas ao órgão, mas também à arte em geral, que, por vezes, parece subestimada na cidade.
Com este concerto, queremos mostrar que Santarém tem um património musical rico e que a arte pode e deve ser vivida durante todo o ano, e não apenas em momentos específicos. É importante lembrar que a cidade conta com sete órgãos históricos, verdadeiras jóias do nosso património, que muitas vezes passam despercebidos. Apenas no mês de Novembro, durante o Festival de Órgãos de Santarém (FOS), o instrumento ganha destaque, mas a sua presença e valor não se limitam a esse evento.
Queremos que este concerto sirva como um alerta para a importância de manter viva a tradição do órgão e de integrar mais frequentemente este instrumento em eventos culturais. Além disso, esperamos despertar o interesse da comunidade e incentivar uma maior apreciação pela música e pelo património artístico da cidade. Afinal, a arte tem um papel essencial na identidade cultural de um lugar, e iniciativas como esta ajudam a reforçar a sua presença e relevância na vida das pessoas.
Tem um percurso já notável como estudante e intérprete de órgão. Como começou a sua ligação a este instrumento tão singular?
Desde muito nova, sempre tive uma grande ligação com a música. Andava constantemente a cantarolar e a dançar, como se a música já fizesse parte do meu dia a dia sem que eu me desse conta. Quando ingressei no 5º ano, surgiu a oportunidade de entrar no regime articulado de música no Conservatório de Santarém, e foi aí que tudo começou a ganhar um novo rumo.
No início, a minha curiosidade levava-me a explorar diferentes instrumentos, e a percussão chamava particularmente a minha atenção. No entanto, tudo mudou quando ouvi um órgão tocar pela primeira vez. Foi um momento quase mágico: aqueles sons tão distintos, tão grandiosos e envolventes, prenderam-me de imediato. Fiquei fascinada ao ver como as mãos e os pés trabalhavam em conjunto para criar uma sonoridade tão imponente e única. Foi nesse instante que percebi que aquele era o instrumento que queria aprender e que faria parte da minha vida.
Com o passar dos anos, essa primeira impressão transformou-se numa verdadeira paixão. Cada novo desafio, cada peça estudada e cada concerto reforçavam o meu encanto pelo órgão. A sua complexidade, a sua história e a sua capacidade de preencher um espaço com som continuam a motivar-me todos os dias. Hoje, sinto que a minha ligação ao órgão vai muito além do simples ato de tocar; é uma forma de expressão, uma parte essencial da minha identidade musical e pessoal.