Encontra-se no prelo, o estudo “O Profeta da Galileia: Da frustração messiânica à espiritualização redentora”, da autoria de Aurélio Lopes que o investigador tem vindo a desenvolver nos últimos anos que incide “no messias judeu, Jesus, que virá a ser, após condenado, morto pelos romanos e, posteriormente, espiritualizado pelos seus seguidores que, vendo nele uma nova versão da mitologia do redentor o transmutarão, gradualmente, numa divindade remissora dos pecados do Homem.
E deste modo, transformarão a cultualidade, daí decorrente, numa das grandes religiões universais”, salienta Aurélio Lopes ao ‘Correio do Ribatejo’.
“Sendo um assunto frequentemente tabu, uma abordagem destas (enquanto estudo metodológico da historiologia de Jesus; seus comportamentos e ideias) é, de alguma forma, inaudito entre nós”, acrescenta o autor.
Incidindo nos aspectos documentais histórico-científicos (e naturalmente tendo em conta os diversos pressupostos teóricos que autores diversos têm veiculado) tal abordagem assenta igualmente em perspectivas antropológicas com que as vertentes políticas e sociológicas se interligam.
Respeita, o estudo, à vida de Jesus e aos inícios do Cristianismo, tanto quanto os dados existentes e sustentáveis (tanto cristãos como não cristãos, tanto canónicos como apócrifos), deixam perceber. Messias judaico, que liderou uma fracassada insurreição contra os romanos, da qual resultou a sua prisão, condenação e morte.
E cuja frustração mereceu mais tarde, dos seus seguidores, uma intensa espiritualização; transformando-o, gradualmente, num Deus Redentor; modelo teosófico na altura frequente no Mundo Mediterrâneo, mas, completamente estranho à tradição religiosa judaica.
Do estudo efectuado avultam algumas considerações e teses mais ou menos insólitas. Hipóteses pouco conhecidas ou desconhecidas de todo: Porquê a existência de Jesus não é referida por nenhum autor, não cristão, seu contemporâneo? Poder-se-á dizer ter sido Paulo de Tarso o fundador do Cristianismo?
Será verdade que Nazaré não existia no tempo de Jesus? Seria Barrabás um criminoso como diz João? E Madalena e Maria de Betânia poderão ter sido a mesma pessoa? E será que Judas foi, na verdade, um judas? Qual a razão que, em fins do século III, levou a introduzir, em dois evangelhos, um tardio complexo natal, estritamente mítico, até aí inexistente?
Hipóteses e teses mais ou menos conclusivas: a não existência de qualquer “matança dos inocentes”, a existência de diversos irmãos de Jesus e de uma situação matrimonial comum aos outros judeus. O facto da família de Jesus nunca o ter apoiado como profeta, deste não ter nascido no ano 1 e do seu nascimento não ter envolvido qualquer “recenseamento” romano nem sequer uma “viagem para Belém”; pelo menos pelas razões consideradas.
“Estes e muitos outros assuntos, analisados segundo os dados possíveis; sejam eles cristãos (canónicos e apócrifos), sejam provenientes de historiadores judeus e latinos, são aqui abordados. Sem inibições analíticas, saliente-se. Mas igualmente sem propósitos prévios de mistificação ou desmitificação das respectivas problemáticas”, informa Aurélio Lopes.
Publicado pela Cosmos, a sua saída estima- se para o mês de Junho e as apresentações públicas (ainda em elaboração) irão apresentar contornos de debate e análise, não só com a audiência como, e especialmente, com especialistas temáticos convidados.