Junho é o mês dos Santos Populares. Mas, paralelamente e pelo contraponto à alegria que a época dos Santos transporta consigo, é também o mês de início da época de incêndios. Aqui ao lado, em Zamora, mais de 25 mil hectares de área ardida. Mais do dobro da área ardida registada em espaços rurais no nosso país e até ao momento.

O aumento das temperaturas, aliado à redução da humidade, por vezes acompanhados de rajadas de vento, são o “cocktail” explosivo que cria as condições propícias para os incêndios florestais. Se juntarmos a tudo isto os níveis de incendiarismo registado no nosso país, ficamos já com uma pequena ideia do que isto representa.

Quer para os incêndios de pequena dimensão e quer para os de grande dimensão. A juntar a estes fatores temos um outro determinante – a área florestal nacional. Temos uma floresta e espaços florestais largamente maioritários de propriedade privada. De acordo com os últimos dados, temos uma superfície florestal onde apenas 9% da propriedade florestal (3% do Estado e 6% em áreas comunitárias) é publica. Uma percentagem muito reduzida face à média dos países europeus.

Infelizmente, quer no caso da propriedade privada quer na propriedade publica, existe o problema central da sua gestão.

No que a floresta se refere, o nosso problema principal não é, provavelmente, o de termos pouca área florestal, é mesmo ao nível da sua gestão.

E isto ocorre em ambas as tiptologias de propriedade.

A fragmentação da propriedade, a sua pequena dimensão e escala, principalmente no norte e centro do país, são mais um poderoso aliado para esta incapacidade e quase que impossibilita de forma natural a boa gestão. A nossa História, como país, também contribuiu para a fragmentação, face à lógica de distribuição de terras pela realeza, pela nobreza e o clero, cabendo ao povo o pagamento pela área que utilizava para seu cultivo. Do regresso das propriedades rurais da nobreza e das ordens, no final do Sec. XIX, para o Estado, que depois as vendia em hasta pública, foi um poderoso contributo para esta fragmentação da propriedade.

O custo da gestão florestal é muito elevado.

O rendimento é de médio e longo prazo, pelo que as espécies de crescimento rápido, como acontece com o eucalipto, acabam por ser o investimento prioritário em muitas áreas nacionais, por vezes em excesso.

A ausência de mosaicos florestais, da criação de faixas de interrupção de combustível e de robustecer uma rede primária, foram objetivos que estiveram muito afastados das políticas públicas até ao malogrado ano de 2017, último ano de grandes incêndios. Não só pela dimensão das áreas florestais ardidas, mas pela enorme gravidade face às mortes ocorridas em dois grandes incêndios, em junho e outubro desse ano.

Até 2017 e no essencial, o país pouco ou nada se ia preocupando com a questão da floresta e a mesma só era notícia quando os incêndios ocorriam. E no Dia Internacional das Florestas (21 de março).

De 2017 para cá muito foi feito, mas ainda assim e perante o grau hercúleo do trabalho necessário realizar, é quase como se nada tivesse sido feito.

Desde a prevenção, ao conhecimento da nossa propriedade florestal, através do Cadastro Florestal, ao pagamento dos serviços eco sistémicos, estamos de facto num país onde durante décadas pouco se foi investindo, na lógica da prevenção e da gestão florestal, e que por isso ainda tem muito para recuperar.

Tendo em conta o importante papel ambiental, económico e social da floresta e a sua relevância para tantos dos nossos territórios.

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