Victor Colaço, 76 anos, é licenciado e mestre em Gestão de Recursos Humanos. Na sua dissertação de mestrado estudou a motivação e satisfação dos colaboradores de uma empresa que é uma autêntica instituição em Santarém: A Taberna do Quinzena.
Ao estudo académico acrescentou as histórias de um dos estabelecimentos mais antigos de Santarém que ouviu da boca de quem as viveu e que ele próprio viveu na primeira pessoa e escreveu o livro “A Taberna do Quinzena – Estudo sobre a motivação e satisfação dos colaboradores”, que foi apresentado no Espaço do Restaurante Quinzena no Santarém Hotel no sábado, 12 de Novembro.
Ao Correio do Ribatejo contou como foi o desafio de elaborar esta obra e falou da ligação que mantém, desde criança à Taberna do Quinzena e como tem visto a sua evolução ao longo dos anos.
O que o levou a escrever este livro?
Quando fiz o mestrado a economia estava em queda livre. A UNICER tinha fechado, a maioria das empresas tinha os trabalhadores insatisfeitos e não aceitaram que fizesse o estudo. Para o estudo ser validado tinha que fazer no mínimo 35 inquéritos.
Os inquéritos têm dados estatísticos para se perceber se os trabalhadores estão motivados e satisfeitos. Esta segunda parte é sobre isso. É uma parte de investigação que está validada no âmbito do meu mestrado.
Tem toda a biografia dos autores que usei para fundamentar o meu trabalho.
A primeira parte é uma caracterização da empresa, e de histórias, baseadas em factos verídicos. Servi-me de algumas entrevistas do Correio do Ribatejo, feitas ao Fernando Quinzena. Este livro é dedicado ao pai dele.
Qual é a sua ligação ao Quinzena?
A minha ligação ao Quinzena vem desde miúdo. O meu pai gostava muito de pescar no Tejo e levava-me, estava sempre à espera que eu saísse da escola para ir com ele. Passava sempre pelo Quinzena para levar um garrafão dos pequenos para levar para o Tejo para o petisco. Eu ficava à porta, do lado de dentro à espera que ele acabasse de beber. Metiam-se muitas vezes comigo, a perguntar se não bebia um copo. Às vezes provava, mas não passava disso, que o meu pai dizia logo que eu não podia beber vinho. E havia uma boa relação entre o meu pai e o dono da casa. Comecei por acompanhar o meu pai, e depois quando fui crescendo, comecei a frequentar com os colegas do trabalho, quando despegávamos, à sexta-feira. Era uma casa cheia, tudo a contar histórias e a beber uns copos.
Falava-se de tudo e de nada.
Com quantas pessoas falou para desenvolver este trabalho?
Não foi com muitas. Falei com meia dúzia de pessoas. Com a pesquisa que reuni, foi o suficiente, só para me contarem algumas histórias.
Como é que tem visto a evolução do Quinzena ao longo dos tempos?
O Quinzena tem evoluído muito. Eu retrato no livro como era antigamente e como é agora. O antigo Quinzena não tinha hipótese de sobreviver nos tempos de hoje. Estar a vender só copos de vinho não é sustentável. Naquele tempo dava mas hoje não dá. Ou fechava a casa, ou evoluía para um restaurante, que foi que fez e muito bem. Transformou o espaço num restaurante mas conseguiu manter a essência do que era o Quinzena antigamente.
Fez alguns melhoramentos mas manteve a traça da casa. Hoje tem oito restaurantes e cerca de 70 funcionários. Mas ainda mantém os clientes habituais que lá vão beber um copo ao fim da tarde.
Numa linha mais geral, que respostas é que obteve nos inquéritos que fez aos funcionários?
Sempre boas respostas, sempre prontos a colaborar comigo. Apoiei-me muito no Fernandinho, que é um dos empregados mais icónicos e que em muito tem contribuído para fazer a casa. Não é só o patrão que faz a casa. Se entrar no Quinzena o Fernandinho vai-me logo buscar um copinho de vinho.
Tem mais algum projecto literário que vá ver a luz do dia?
Tenho muitos projectos. Na cabeça tenho muita coisa escrita e para escrever.
Mas não tenho propriamente nada que vá ser feito a curto prazo. Mas a médio, longo prazo, sim. Um pouco na linha deste.