O escalabitano Ricardo Segurado é o novo vice-presidente da direcção da Federação Portuguesa de Rugby. Em ano de Campeonato do Mundo, que decorrerá em França e onde Portugal estará presente, o que ocorre apenas pela segunda vez na história, são muitos os desafios que se colocam aos novos órgãos sociais.

Para além dessa participação no Mundial, o Rugby nacional ainda ambiciona estar presente nos jogos olímpicos na variante de sevens, quer em masculinos quer em femininos, indo para tal disputar os respectivos torneios de apuramento.

O responsável não tem dúvidas que a margem de crescimento da modalidade “é enorme” no País, deixando, nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, um aplauso aos Clubes, autênticos “centros de formação, de educação, de ensino e projectos inclusivos.”

Quais são os principais desafios que a modalidade enfrenta em Portugal?

A recuperação após o período da Pandemia continua a ser um grande desafio. De uma maneira geral, os Clubes ainda apresentam números de atletas aquém desse período. Depois, temos um problema da implantação do jogo, muito centrado em Lisboa. Nós temos quase 70% dos atletas em Clubes na Grande Lisboa e isso representa um problema para o desenvolvimento da modalidade em termos nacionais.

Esse caminho ainda tem de ser trilhado. Acresce que temos poucos campos para a prática da modalidade. O diagnóstico já foi feito por diversas vezes. As conclusões são quase sempre as mesmas. Uma política de desenvolvimento e alargamento da modalidade ao país exige um enorme esforço financeiro. Os autarcas aqui podem dar o seu contributo e alguns têm-no feito. Felizmente.

Mas, o país precisa de mais. Nós competimos com países que têm orçamentos 10, 20, 50 vezes maiores que o nosso. Se são confrontos entre David e Golias? Não.

É um desafio entre Portugal e países que olham para o Rugby e o colocam como estando no topo das suas prioridades desportivas.

E não é apenas como acontece na Nova Zelândia, Austrália, Fidji ou África do Sul. Temos casos bem mais perto de nós como acontece nos países da Grã-Bretanha, França, Japão, Itália ou a Geórgia.

Como tem sido a evolução do rugby em Portugal nos últimos anos, tanto a nível de clubes como de selecções?

A evolução da Selecção Nacional, masculina e feminina, está à vista de todos. Os homens disputavam a terceira divisão europeia há 4 anos e hoje foram finalistas do Rugby Europe Championship, estão no 16º lugar do Ranking Mundial e estão apurados para o Campeonato do Mundo.

A Selecção feminina venceu o Trophy, só com vitórias e apurou-se para o Rugby Europe Championship, ocupando neste momento o 24º lugar do Ranking Mundial.

Os Sevens vão disputar o apuramento para os jogos olímpicos, masculinos e femininos, e os masculinos estiveram no Mundial de 2022. Os Sub 18 e 20 têm vencido e conseguido ficar nos primeiros lugares dos campeonatos da Europa. Também os Clubes têm apostado na modalidade de forma crescente. Basta ver que o Belenenses, sendo campeão nacional, conseguiu ser campeão Ibérico. Um feito notável para o Rugby nacional. Temos por isso feito caminho, quer os Clubes quer as Selecções. Mas, há que olhar em frente, para os objectivos agora traçados e para tudo o que ainda temos de melhorar. Em conjunto.

Como é que a Federação Portuguesa de Rugby quer trabalhar para aumentar o número de praticantes e adeptos da modalidade no país?

A divulgação da modalidade é essencial para este desígnio. O apuramento para o Mundial e a presença em França, em Setembro e Outubro próximos, foram e serão uma janela de oportunidade. A modalidade começou a ser mais falada e noticiada e a Comunicação Social tem ajudado. E isso é muito positivo. Temos agora de fazer um trabalho para o crescimento do número de atletas e para isso temos de começar logo nos escalões de iniciação. Sub 6 a Sub 12.

Esse será o caminho para prepararmos o futuro do médio e longo prazo. E depois crescer nos escalões de pré competição, dos Sub 14 aos Sub 18. O Mundial tem de ser visto como uma etapa de crescimento da modalidade no nosso país. Não pode ser um ponto final.

Qual é o papel da Federação Portuguesa de Rugby no desenvolvimento da modalidade a nível internacional?

A FPR está presente nos Fóruns Internacionais. Como agente activo, que provocando a discussão do Rugby e suscitando o debate sobre a sua evolução para permitir um equilíbrio cada vez maior do jogo.

Tentando que sejam adoptadas medidas que permitam reduzir as distâncias entre as Selecções mais poderosas e as de menor capacidade. No fundo, pugnar pela democratização do jogo.

Quais são as principais iniciativas da Federação Portuguesa de Rugby para fomentar a inclusão e diversidade na modalidade?

O desporto é um factor determinante na construção de uma sociedade, com influência directa e positiva na educação, na saúde pública, na formação cívica e com impacto na própria economia, bem como na promoção de valores como a amizade e camaradagem, a tolerância e o respeito, promovendo a inclusão e a participação de todos. O Rugby, pelas suas características muito próprias, tem também um papel importante a desempenhar, como o revelam vários exemplos no panorama nacional por parte de Clubes que são muito mais do que simples Clubes, são centros de formação, de educação, de ensino e projectos inclusivos. E temos felizmente vários Clubes que desempenham este papel e que a Federação tenta ajudar. E aqui o aplauso vai inteiramente para os Clubes, já que são a mola galvanizadora da inclusão. À FPR compete ajudar, divulgando a modalidade e disponibilizando meios e técnicos. Mas, ainda temos muito trabalho pela frente.

Quer na divulgação, nas escolas, nas universidades e politécnicos, mas também através de uma campanha nacional de divulgação e convite à prática do rugby, com visita a cidades de Portugal continental, para realização de actividades didácticas e de iniciação à modalidade com alunos dos estabelecimentos de ensino.

Qual é o papel do rugby na promoção dos valores de fair play e respeito?

O Rugby, como desporto, é um símbolo do fair play e do respeito. Que outra modalidade existe onde os adeptos ouvem as comunicações entre os árbitros e a decisão que tomam? Para além disso, no Rugby há uma clara noção do papel dos jogadores e de entre eles, a responsabilidade do Capitão de Equipa e a sua relação com os árbitros.

Há um respeito entre os intervenientes. É também por isso que muitas vezes, nos vários países, nos jogos entre equipas ou selecções, é perfeitamente normal os jogadores confraternizarem no final. Beberem uma cerveja, conversarem, juntos, muitas vezes no balneário ou no corredor.

Este ainda é um dos lados românticos deste jogo, felizmente preservado e valorizado em termos Mundiais. E esta atitude perante o jogo e o adversário leva a que tenha ficado tão popular a expressão de que “o râguebi é um jogo de bárbaros praticado por cavalheiros”. E hoje felizmente também por senhoras.

Como é que a Federação Portuguesa de Rugby está a trabalhar com as escolas e universidades para promover a modalidade junto dos jovens?

Tal como referi anteriormente, a divulgação da modalidade é fulcral. Ir às escolas, envolver os Clubes e a comunidade escolar, e apostar claramente na divulgação do jogo. Dos seus valores. Ajudar ao desenvolvimento do Tag Rugby nas escolas é outro poderoso contributo. E claro, as equipas universitárias que existem e continuam a ser criadas, com antigos e actuais jogadores, são muito importantes para que hajam não apenas novos jogadores, mas também despertar o interesse para que possam surgir novos treinadores, árbitros e dirigentes.

Quais são as principais ambições da Federação Portuguesa de Rugby para a participação no Mundial de 2023?

De forma clara, e depois da marcante experiência de 2007, a primeira da nossa História, os Lobos de 2023 têm uma pressão e exigência maior. E digo isto de forma clara, eu não estou a dizer que estes Lobos são melhores. Os tempos são naturalmente diferentes. Hoje a nossa Selecção já não é composta só por jogadores amadores.

E apesar de sermos o país com o número médio de jogadores amadores mais elevado que estará a disputar o Mundial, temos hoje atletas profissionais a jogar Rugby num dos maiores países do Rugby Mundial, precisamente a França, e esses atletas, portugueses e luso franceses, aportam à Selecção uma clara capacidade, competitividade e ritmo de jogo, que não seria possível de igualar se fossem amadores. A diferença é muito grande. Entre quem no dia a seguir ao jogo vai para o seu trabalho, como médico, engenheiro, analista, gestor, advogado, etc, face aqueles que podem ficar a descansar e fazer recuperação porque são profissionais. E por isso, honrando o legado dos Lobos de 2007 e tentando impressionar ainda mais o Mundo do Rugby, temos de ter como objectivo para 2023 uma vitória num dos jogos do Mundial.

Qual é a sua opinião sobre o nível de competitividade do rugby em Portugal?

De algum equilíbrio, principalmente na Divisão de Honra e no CN 1. Na Divisão de Honra, e a duas jornadas do fim da primeira fase, temos 4 equipas na frente do campeonato com uma diferença de apenas 2 pontos. No CN 1 também se entrou na última jornada com 3 equipas a disputar as vagas para a final. E estas situações evidenciam algum equilíbrio. Já para não falar nos resultados separados por dois e três pontos, o que também tendo vindo a ocorrer com muita frequência.

Claro está que ainda existem diferenças e sempre existirão entre equipas a disputar a mesma competição, mas acontece em todas as modalidades. Importará contribuir para que o “fosso” entre os do grupo da frente e os restantes se vá reduzindo.

Quanto mais equipas existirem a disputar a vitória numa competição, maior será o seu sucesso.

Qual é a importância da participação de Portugal em torneios internacionais de rugby, como o Campeonato da Europa?

Este ano, há pouco mais de 1 mês, Portugal jogou a final do Europeu, em Espanha, contra a Selecção da Geórgia. Não conseguimos vencer, mas esse era o objectivo da nossa Selecção. Mesmo com as adversidades, entre lesionados e atletas que não podiam jogar, o estado de espírito e a vontade de todos estava virada para a conquista. E é assim que temos de olhar para a participação das nossas Selecções nas competições e jogos internacionais.

Dos Sub 18 à Selecção principal, quer nos masculinos quer femininos. Temos de ter a ambição pela vitória. Jogando o nosso jogo e tudo fazer em campo para alcançar o melhor resultado. Nem sempre o iremos conseguir, mas entrar em campo com espírito de vitória é um passo em frente para

estarmos mais longe da derrota. As Selecções Nacionais de Sevens ainda vão disputar o apuramento de repescagem para os jogos olímpicos, quer os masculinos quer os femininos, e ambas as equipas têm que ir para os seus torneios com esse espírito de conquista.

Quais são as perspectivas para o futuro do rugby em Portugal?

No curto prazo, e em termos de atletas, alcançar os 10.000 praticantes. Mas, temos de procurar crescer, de forma sustentada, não apenas em atletas, mas também em clubes, treinadores, dirigentes, árbitros, médicos, fisioterapeutas, nos diversos agentes do jogo. Este crescimento irá contribuir, de forma inequívoca, para uma melhoria da qualidade do jogo e também do valor do nosso Rugby. A margem de crescimento da modalidade é enorme, pelo que espero que possamos todos contribuir para tal.

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