O dispositivo de combate a incêndios no distrito de Santarém para a fase mais crítica de fogos florestais conta com 801 operacionais, 145 veículos e três meios aéreos, além das novas tecnologias, disse fonte da protecção civil.
O comandante distrital de operações de socorro (CODIS) de Santarém, David Lobato, refere que o dispositivo operacional (DECIR 2021) para este ano está bem dimensionado, tendo destacado que o “excelente desempenho” alcançado o ano passado assenta em premissas que se vão manter este ano, como sejam “o pré-posicionamento de meios”, a “monitorização permanente”, uma “detecção precoce” e o “despacho imediato e musculado de meios”.
Em 2017, ano dos últimos grandes incêndios no distrito de Santarém, o total de operacionais adstritos à fase mais crítica era de 521, tendo aumentado progressivamente até atingir os 845 em 2020 e reduzir ligeiramente para os 801 este ano 2021.
Segundo o CODIS, o dispositivo “é suficiente para o distrito de Santarém”, tendo destacado a “experiência e o conhecimento do terreno” por parte dos operacionais.
Nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, o comandante operacional destaca a importância de um “ataque inicial rápido e musculado” para os incêndios não atingirem grandes dimensões.
Neste momento, o DECIR está na fase IV (até 30 de Setembro), a mais crítica, sendo que o dispositivo distrital de Santarém está na máxima força, com um total de 801 operacionais das várias equipas de intervenção e combate a incêndios, contando ainda com os meios técnicos e humanos da AFOCELCA – Agrupamento Complementar de Empresas de Protecção Contra Incêndios, Associação de Produtores Florestais, ICNF, sapadores florestais das CIM Médio Tejo e Lezíria, militares do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro, agentes da PSP e militares da GNR/SEPNA), além de apoio ao nível de 27 postos de vigia e 16 câmara do sistema de videovigilância, entre outros.
No âmbito do comando e controlo, o dispositivo conta com um comandante em permanência no Comando Distrital, um oficial de planeamento, dois comandantes de operações em permanência na Lezíria e no Médio Tejo, três equipas de posto de comando operacional e oito equipas de reconhecimento e avaliação da situação.

Para o período crítico, de 1 de Junho a 30 de Setembro, o dispositivo de combate a incêndios rurais prevê, no País, cerca de 12 mil operacionais, o maior número de sempre. É sinal de que espera um Verão difícil? O que se espera para o distrito?
O que esta definido em Plano Operacional Distrital são premissas determinadas para todo o país, nomeadamente, a monitorização permanente, o pré-posicionamento e mobilização preventiva de meios, a detecção precoce e despacho imediato e musculado de meios de ATI (Ataque Inicial). Por outro lado, temos em permanência a Unidade de Direcção, Comando e Controlo, com consequente recuperação contínua da capacidade de ATI em todo o território, assim como o reforço rápido e especializado aos Teatros de Operações, a par de uma avaliação continua.
Com estas premissas, pretende-se, acima de tudo, a segurança da vida humana, assegurar a integridade física dos operacionais, a salvaguarda do ambiente, eficácia no combate, protecção do património e gestão eficiente meios e recursos.
Efectivamente todos os Verões são difíceis, já que as condições meteorológicas assim o ditam, mas temos a plena consciência que tudo faremos para que, nas situações que possam ocorrer, (vamos esperar que não), consigamos, numa fase inicial, debelar todas as situações, já que todos os incêndios nascem pequenos, ou seja: se os conseguirmos controlar na sua fase inicial, os problemas ficarão por aí.

Há meios humanos e materiais suficientes? Quantos efectivos engloba a protecção civil na região?
Nunca podemos afirmar que os meios serão suficientes. O exemplo de 2017 diz-nos, que essa afirmação nunca poderá ser proferida. Num país que chegou a ter 500 ignições diárias, os meios nunca serão suficientes, ou seja, as condições meteorológicas, o número de ignições diárias, a hora a que essas acontecem, os locais onde estas ignições ocorrem, são condicionantes ao sucesso do combate.
Este ano, os meios do distrito são 801 operacionais, provenientes de vários Agentes de Protecção Civil, onde os Bombeiros têm a maior fatia de combatentes com 407 em H24, os Sapadores Florestais, GNR – Unidade Especial de Protecção e Socorro, SEPNA, Instituto Conservação da Natureza, Polícia de Segurança Publica, Associações de Produtores Florestais, Cruz Vermelha, entre outros, apoiados por 145 veículos e três meios aéreos de ataque inicial.

Com o aumento recente de casos, o risco de contágio de covid-19 dos operacionais pode condicionar o combate aos incêndios neste ano? É algo que estão a prever?
Os Bombeiros do Distrito têm a vacinação praticamente concluída, já com a segunda dose. Ainda assim, todas as medidas de segurança emanadas pela Direcção Geral de Saúde estão e vão ser cumpridas, por todos os Agentes de Protecção Civil intervenientes nos Teatros de Operações (que esperamos que não aconteçam). Por outro lado, continuamos a testar os Operacionais dos Corpos de Bombeiros e os Corpos de Bombeiros continuam a ter os seus Planos de Contingência activos.

Qual é a percentagem dos meios humanos na região que já se encontram inoculados contra a covid-19?
Cerca de 98% dos meios humanos já se encontram inoculados, o que é uma percentagem bastante alta e dá uma outra segurança.

A Protecção Civil está envolvida na distribuição de vacinas e na criação de estruturas de apoio. É um papel que vai manter?
Efectivamente, os Serviços de Municipais de Protecção Civil que são da responsabilidade dos Presidentes de Câmara, como máximos responsáveis da Protecção Civil Municipal, têm feito um trabalho extraordinário no que respeita à criação de estruturas de apoio, tanto na vacinação, como na criação de estruturas de apoio de retaguarda, no apoio à pandemia. Algumas delas que servirão também este ano para apoio às operações de combate, sejam como centros de apoio logístico, como no apoio para a evacuação de pessoas, aquando da possível evacuação de aldeias ou aglomerados populacionais, sob coordenação da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. Este papel vai manter-se até percebermos que o problema da pandemia está debelado.

Os desafios que se impõem actualmente ao Sistema de Protecção Civil Distrital e aos agentes de Protecção Civil?
O Sistema de Protecção Civil tem sabido responder aos desafios que tem tido de enfrentar. Veja-se o caso da Pandemia: devido ao vírus COVID19, apesar de todos terem tido a capacidade de se adaptar, julgo que a Protecção Civil teve uma capacidade extraordinária de adaptação, já que não podemos confinar, todas as ocorrências continuaram a existir, algumas com menos frequência, mas os acidentes de viação continuaram, os incêndios, as emergências pré-hospitalares, entre outras. Portanto, todos os problemas continuaram, com o risco acrescido de, em qualquer dessas ocorrências, onde se salvam pessoas e bens, termos a possibilidade de estar a lidar com o vírus sem o sabermos.
Os desafios continuam a ser os que já tínhamos, com o acréscimo de, no futuro, continuarmos a ter novas situações desta índole, mas que tenho a certeza que teremos a capacidade de nos adaptarmos.

A protecção civil tem que ser cada vez mais preventiva e menos reactiva?
Sem dúvida que assim deve ser. Sendo o cidadão correctamente considerado o pilar fundamental de todo o sistema de Protecção Civil, a interiorização de comportamentos preventivos adequados, tem uma importância inquestionável. Há muito que se entende que a consciencialização para uma verdadeira cultura de prevenção e segurança começa com os mais novos. Estes serão tão mais bem-sucedidos quanto maior for a preparação de todos quantos têm por missão impulsionar valores e atitudes de segurança e protecção. Teremos de preparar os mais novos para uma cultura de segurança, visando garantir que a educação e preparação prática, face a riscos e catástrofes, seja uma realidade.
Temos que olhar para a prevenção como algo de distinta importância, continuando a trabalhar e a investir para que a mesma seja cada vez mais eficiente. Falamos em eficiência e não em eficácia, dois conceitos distintos, quase sempre mal interpretados.
Falo em analisar e avaliar correctamente o risco, em equacionar a melhor forma de o eliminar e, na impossibilidade de o fazer, limitar o seu impacto, o que poderá ser feito pela melhoria do dispositivo de resposta.

Considera que, actualmente, a protecção civil da região está preparada para fazer frente a grandes fenómenos?
Essa é a pergunta difícil, já que, como já respondi acima, não poderemos dizer que estamos preparados. Contudo, tenho a certeza que tudo faremos para minimizar os problemas quando esses acontecerem, garantir que iremos treinar, preparar e realizar exercidos, formar os operacionais nas áreas adequadas para que obtenham as competências e habilidades (skills), para que consigamos simular situações de excepção. Claro que a simulação será sempre num ambiente controlado, o que não conseguiremos ter em situações reais.
Reafirmo: nunca estaremos preparados, mas tenho a plena certeza de que com os Corpos de Bombeiros do Distrito, com a elevada competência dos seus Comandantes, com a Jóia da Coroa que tem, que são os recursos humanos, os Bombeiros, assim como todos os Agentes de protecção civil do Distrito, conseguiremos “levar o barco a bom porto”.

Com que expectativa aceitou o desafio de ser o novo Comandante Operacional Distrital?
As expectativas são sempre elevadas: foi e é um novo desafio numa área que sempre foi muito do meu agrado e que sempre me fascinou. Estou na área da protecção e socorro desde os meus 14 anos, quando ingressei num Corpo de Bombeiros. Tornei-me profissional e vou ser sempre Bombeiro.
Este novo desafio coloca a Protecção e Socorro a que estava habituado num patamar mais elevado, já que, agora, ao não ter ligação directa com o socorro. Quando digo directa, digo que estamos no local, mas com uma função de Coordenação de entidades, e só numa fase mais complicada da Operação assumimos a função de Comando. Espero assim conseguir corresponder às expectativas de quem em mim confiou, para estas funções.

Do ponto de vista pessoal, quando acorda diariamente, quais são os maiores receios como CODIS?
Os receios são os de falhar na nossa missão, e quando nós falhamos, morrem pessoas e isso é, e será sempre o maior receio de quem está nesta área.

Qual a operação mais difícil em que já esteve envolvido?
Os incêndios de 2017, como operação. Mas o nosso dia-a-dia, onde damos resposta aos ínfimos problemas, com o planeamento que temos de efectuar, as respostas que temos de dar, e os constantes ajustes aos procedimentos, essa sim é a operação difícil que temos de realizar diariamente.

E qual a que mais teme vir a estar?
Todas as ocorrências em possamos estar envolvidos têm os seus riscos e como tal, não há uma, mas nós vivemos com o risco diariamente. O Comando Distrital de Santarém não resolve nada sozinho, julgo que, ao ter uma equipa extraordinária no distrito com a qual tenho satisfação de trabalhar, Corpos de Bombeiros do Distrito, comandados por um conjunto de excelentes operacionais, e todos os outros Agentes de Protecção Civil de excelência, dá-me algum conforto para enfrentar o dia a dia.

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

“É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?”

Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis…