O outono chegou e traz uma nova época de vacinação contra a gripe. É sempre assim. A gripe é sazonal; a vacina também. Em contraste com outras vacinas, cuja eficácia dura muitos anos, a vacina contra a gripe tem uma eficácia muito efémera. A explicação é simples: a vacina de cada ano é específica apenas para a variante de Influenza (o vírus da gripe) desse ano.
A imunização baseia-se no reconhecimento de partes do vírus expostas, disponíveis para ligação de anticorpos. Ora, o Influenza altera essas zonas expostas de ano para ano, o que quer dizer que a vacina de um ano não serve no ano seguinte. Uma vacina universal, eficaz contra todas as variantes do vírus, exige que se consiga identificar e expor partes do influenza que se mantêm de ano para ano, o que não é fácil. Passados mais de cem anos sobre o início da grande pandemia conhecida como Gripe Espanhola, o objetivo ainda não foi alcançado. Conhecer e combater o Influenza tem sido um processo longo e contínuo.
Os esforços para desenvolver uma vacina universal continuam. Muitas preparações candidatas a futuras vacinas foram já avaliadas ou estão em processo de avaliação. Recentemente, uma vacina experimental atingiu com sucesso as últimas fases de testes clínicos obrigatórios, sendo a preparação mais avançada em desenvolvimento. Em Agosto de 2018 começou um teste que envolve 10.000 pessoas e durará até 2020. Para trás ficam estudos envolvendo cerca de 700 participantes. Se a vacina se revelar segura e eficaz, poderá começar uma nova era de vacinação única e duradoura contra a gripe. Se assim não acontecer, há que continuar tentando. São longos e pacientes os caminhos da investigação científica e inovação tecnológica. “Tudo acabará em bem; se não está bem é porque ainda não acabou”*.
*citação popular no Brasil, baseada numa afirmação do escritor Fernando Sabino.
Miguel Castanho – Investigador em Bioquímica.