A Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) foi criada a 24 de Novembro de 2008, tendo sucedido à Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo, fundada a 17 de Setembro 1997. É uma associação interprofissional que representa a produção e o comércio do sector vitivinícola da região e que tem registado aumentos de qualidade e certificação sustentados.

Nos 25 anos da CVR Tejo, o Correio do Ribatejo falou com o seu presidente, Luís de Castro, que nos traça o panorama desta região vitivinícola. Para o futuro, o responsável não tem dúvidas que a região vai crescer e conquistar, cada vez mais, cota de mercado nacional e internacional, fruto do grande trabalho feito pelos produtores que, afirma, “já demonstraram de que fibra são feitos e que sabem trabalhar em equipa”.

Com mais de 80 associados, entre adegas cooperativas, produtores e engarrafadores, empresas vinificadoras e engarrafadores da região, a CVR Tejo é presidida por Luís de Castro, desde 01 de Maio de 2014. José Barroso ocupa o cargo de Presidente do Conselho Geral e João Silvestre o de Director-Geral. Luís Vieira e Diogo Campilho são, respectivamente, Vogais do Comércio e Produção. Integra ainda a CVR Tejo um Gestor de Qualidade, um Departamento de Viticultura, uma Estrutura de Controlo e Certificação, da qual fazem parte uma Câmara de Provadores e um Laboratório de Análises subcontratado e um Departamento de Promoção, destinado a apoiar os produtores, nos mercados nacional e internacional.

A sua competência consiste em controlar o cumprimento das regras e a certificação dos vinhos brancos, rosés, tintos, espumantes, licorosos e vinagres produzidos na região com direito a Denominação de Origem do Tejo (DO do Tejo) e a Indicação Geográfica Tejo (IG Tejo).  Todos os vinhos certificados pela CVR Tejo têm o selo de garantia ‘Tejo’ no rótulo. Tem como missão ajudar os produtores a aumentar a sua presença nos mercados estratégicos, com vinhos empolgantes e estilos diferenciados, oferecendo ao consumidor, continua e consistentemente, qualidade a bom preço.>>

Quais são os grandes desafios para este ano e para o futuro próximo neste sector na região?

A resposta é, infelizmente, óbvia. Vai ser um ano de constantes desafios dado que a crise está “instalada” em toda a parte, afectando tudo e todos. Desde logo, a inflação está descontrolada e o valor da energia (combustíveis, electricidade e gás) encareceram brutalmente os custos de produção.

Nesta conjuntura, há, obviamente, maiores dificuldades nas vendas de vinho, quer no mercado interno quer externo e estas poderão vir a ser feitas a preços pouco interessantes, que não irão compensar os aumentos, nomeadamente da energia.

Por outro lado, o custo do dinheiro está a ficar gradualmente mais caro o que vai dificultar o acesso e o pagamento de empréstimos de apoio ao funcionamento ou investimento dos produtores e sérias dificuldades no aprovisionamento dos chamados ‘secos’ pelos produtores, particularmente nas garrafas, podendo até inviabilizar o fornecimento de encomendas de vinhos ou mesmo obrigando os produtores a armazenar grandes quantidades desses ‘secos’ e a pagá-los em condições muito desfavoráveis. 

O país e o mundo viveram tempos difíceis nesta pandemia. Agora enfrentamos uma Guerra no velho continente e uma consequente crise energética. Os produtores mostraram uma grande resiliência, mas, há limites?

Felizmente, a região cresceu durante os dois anos da pandemia, mas os Produtores de menor dimensão, mais vocacionados a fornecer o canal HORECA (estabelecimentos hoteleiros, de restauração e similares), sofreram bastante. No início do ano, a situação inverteu-se e o crescimento de vendas da região naquele canal aumentou muito. Mas, agora, com o início da guerra, da inflação e da crise, todos, grandes e pequenos, vamos sofrer um impacto negativo em termos do aumento dos custos – que já falámos – e maiores dificuldades na venda dos produtos. 

De que forma é que este disparar de preços pode prejudicar o sector?

O disparar dos custos prejudica todos e pode, no caso da guerra e instabilidade se prolongarem, levar, em situações mais extremas, ao encerramento da actividade dos que estão numa situação de maior fragilidade financeira.

Que medidas defende para apoiar este importante sector?

As medidas só podem vir por parte do Governo e deveriam concentrar-se em ‘controlar’, o mais possível, estes aumentos descontrolados de custos que encarecem sobremaneira os custos de produção dos nossos produtores. 

É claro que é fácil falar, mas não tão fácil concretizar. No entanto, como o nosso sector é muito dinâmico, estou certo que, se o sector, de forma concertada, cooperar de perto com o IVV e o Ministério da Agricultura, conseguiremos rapidamente arranjar uma fórmula e meios para concretizar algumas medidas urgentes. Por outro lado, deverão ser agilizados os processos e as aprovações de verbas destinadas à promoção da venda dos nossos vinhos, e também o reforço das mesmas, a aplicar quer nos países terceiros, quer nos da EU, por forma a incrementar a venda dos nossos vinhos nesse mercados.

Na qualidade dos vinhos, estamos a viver uma das melhores fases. Concorda com esta ideia?

Concordo que a qualidade dos nossos vinhos sempre existiu: só que, talvez, agora ela seja mais nítida para o Consumidor Nacional ou Estrangeiro. É claro que houve melhorias brutais nas nossas adegas e vinhas e nos métodos e processos de vinificação e viticultura. Também é verdade que há uma geração nova de técnicos – quer no campo quer nas adegas – que implementaram, com os conhecimentos adquiridos nas universidades, cá e no estrangeiro, esses novos processos e técnicas e os resultados estão aí, à vista de todos.

Só temos agora de demonstrar ao consumidor que pouco conhece do vinho Português que temos vinhos diferentes dos outros países, mas igualmente bons ou até melhores. Desta forma, poderemos começar a obter preços mais justos e condizentes com a qualidade que os nossos produtores colocam nos seus vinhos. Para além deste aspecto, temos também de continuar a melhorar e a internacionalizar mais a comercialização dos nossos vinhos.

Apesar disso, porque é que existe a ideia de que lá fora os nossos produtos não são de máxima qualidade?

Não é bem assim. O problema é que a concorrência é fortíssima: basta ir a uma Feira como a ‘Prowein’ na Alemanha, para perceber do que falo. 

E o Consumidor estrangeiro não reconhece, à partida, que só pelo facto de ser Português, o vinho é bom e merece por isso ser adquirido e a um preço justo.

Mas nós temos vindo a recuperar algum terreno nos últimos anos em relação a essa matéria?

Claro que temos, e os produtores, no geral, a ViniPortugal e as Regiões têm tido nisso um papel muito importante que não pode parar e, em meu entender, deve ser seriamente apoiado e reforçado, como já atrás referi.

Está na ordem do dia, também, a questão da seca. Isso é uma grande preocupação para fazer crescer a produção deste ano e do futuro muito próximo?

A seca é também um fenómeno à escala global que tem – e vai continuar a ter – na nossa Região impactos extremamente negativos. Veja-se só o que aconteceu recentemente ao Tejo aqui, junto a Santarém, que quase secou, coisa nunca vista. 

Existem planos para regularizar o Tejo e evitar a entrada de águas salgadas Tejo acima, mas de concreto não vejo qualquer atitude do Governo. Sei que existem ideias já passadas ao papel e apresentadas pelo sector privado, mas que não têm tido receptividade por parte das autoridades competentes. Se nada for feito urgentemente até nesta região, que tem, mesmo assim, bastante mais água que outras, vamos ter sérios problemas de falta de água.

O povo diz que até ao lavar dos cestos é vindima e é um pouco cedo para este tipo de previsões, no entanto tudo leva a crer que este ano teremos menor produção, se bem que não penso que chegue aos dois dígitos percentuais.

Qual o panorama que encontrou nos vinhos do Tejo, desde que assumiu este lugar, já lá vão 8 anos?

Antes de assumir as actuais funções, já estava na região, na direcção de uma empresa pertencente a um produtor de referência e, portanto, não ‘aterrei’ aqui sem paraquedas. Tanto que, quando assumi o cargo, apercebi-me que as anteriores direcções tinham feito um excelente trabalho. E refiro-me, em particular, às equipas chefiadas pelos Engenheiros Pedro Castro Rego e José Gaspar. Havia, portanto, que dar sequência ao que já tinha sido feito e aumentar os níveis de certificação, diversificar mercados e aumentar os níveis de exportação dos nossos vinhos bem como dar à região um maior reconhecimento e notoriedade junto do Consumidor Nacional e Estrangeiro. Havia também que melhorar as vendas no mercado interno.

Com a colaboração de todos, conseguimos até ao final do ano passado o seguinte: em 2016, certificámos cerca de 12milhões de litros de vinho e no ano passado ultrapassámos os 30 milhões. Em 2021 exportámos duas vezes e meia mais vinho que em 2015 o que dá um crescimento médio anual de 15,5%.

No que diz respeito ao ano passado, relativamente a 2020, registámos em 2021 um novo crescimento no volume total de vinho certificado de 3,16%, relativamente ao ano anterior. 

E, no que diz respeito às exportações, crescemos 12% em 2021 relativamente a 2020.

Um outro indicador de relevo, que respeita ao mercado interno em 2022 versus 2021: no mercado interno, segundo dados Nielsen, a região Tejo cresceu, de Janeiro a Março deste ano, face ao período homologo de 2021, 22% em volume e no mesmo período, em valor, o mercado de vinho em Portugal cresceu 41,5% e a região do Tejo 55%.

Este ano, tendo em consideração o cenário que todos conhecemos e que já referi início, não são esperados crescimentos.

A esta região, têm também chegado novos investidores. Como interpreta este sinal?

Novos investidores significa que a região está a despertar cada vez mais interesse e que os vinhos que aqui são produzidos têm maior procura interna e externa o que nos deixa a todos bastante satisfeitos. Ainda recentemente, um Grupo Australiano adquiriu as instalações de um produtor de referência junto ao Cartaxo e quer investir também no Enoturismo. Outro Grupo Nacional ligado a outo sector de actividade investiu forte e recentemente na zona de Alpiarça e outros casos existem. 

Recentemente, lançaram o projecto de enoturismo ‘Tejo Wine Route 118’. Em traços gerais em que consiste o projecto e o que pretende alcançar?

A ‘Tejo Wine Route 118’ é, nada mais, nada menos, do que pôr em funcionamento uma rota que já existia na realidade, mas não estava estruturada enquanto tal. Esta rota reúne 14 produtores de referência da região ao longo do seu percurso desde a Companhia das Lezírias, mais junto a Lisboa, até ao Casal da Coelheira, no Tramagal. Tivemos desde logo o apoio do Turismo Alentejo/ Ribatejo e espero que esta rota possa atrair cada vez mais visitantes à região. Entretanto, sei que alguns dos produtores que fazem parte desta rota têm planos para criar locais de dormida para os visitantes, o que seria óptimo porque temos muita escassez desta oferta

O Ribatejo é forte em agricultura, enoturismo, gastronomia. Na sua opinião, tem faltado uma estratégia de promoção do território que englobe todos estes aspectos?

Em termos de promoção turística, a Região dos Vinhos do Tejo está dividida em duas zonas distintas: uma que abrange a zona mais a sul, que depende do turismo do Ribatejo/ Alentejo e a que abrange a zona mais a norte, que depende do Turismo do Centro. É claro que isto cria algumas dificuldades, mas posso garantir que, da parte de ambas estas Autoridades de Turismo e dos seus dirigentes, temos tido uma colaboração muito próxima que esperamos poder dinamizar ainda mais no futuro Neste caso, a CVR TEJO tem um papel interventivo mas a Rota dos Vinhos do Tejo é quem lidera este processo e lida mais de perto com este assunto do Enoturismo e das Rotas dentro da Região.

A CVR Tejo tem apostado muito também na casta Fernão Pires, mais expressiva na região. É para continuar?

Sem dúvida, e ainda recentemente tivemos um evento dirigido a Jornalistas e bloggers do sector durante o qual foi também feita uma prova de vinhos Fernão Pires (seis dos quais em estreia absoluta) e que mereceu grandes elogios. As vendas deste nosso vinho, o mais representativo da Região em brancos, têm vindo a aumentar e isso demonstra bem o aumento do interesse do consumidor por esta casta.

 CVR Tejo tem tido um papel importante na aposta e divulgação desta marca ‘Tejo’, com um grande investimento na promoção dos vinhos. Essa aposta vai continuar a existir? Quais são as acções promocionais de maior relevo previstas no futuro?

Não podemos deixar de investir na Promoção dos nossos Vinhos. ‘Quem não aparece esquece’ e isso também é verdade nos vinhos. No próximo ano, para além das presenças nas feiras de vinho mais conceituadas, como é o caso da Prowein (Alemanha), Vinexpo-Paris (França), London Wine Trade Fair (Reino Unido) e Prowein São Paulo (Brasil) estaremos presentes com acções de diversos tipos nos nossos mercados estratégicos de exportação como a Polónia, Holanda, Reino Unido, Brasil e Canadá e, em Outubro, será apresentado à região o plano promocional do próximo ano. No mercado interno serão levadas a efeito diversas acções de promoção junto do ‘on’ e ‘offtrade’ e dos chamados ‘prescritores de compra’ que será também apresentado à região antes do final do ano

Olhando para lá destas sucessivas crises, será que conseguimos apontar as principais tendências da região nos próximos anos? 

Temos um projecto na calha que a pandemia, primeiro, e agora esta crise no fornecimento de secos, pode vir a atrasar novamente. Se tudo correr bem apresentaremos este projecto antes do final do ano. Para já o ‘segredo é a alma do negócio’ e, portanto, não poderei revelar nada mais pormenores, a não ser que é um projecto que pode levar a região a ter novos crescimentos a nível global. De resto, continuaremos a manter o rumo e a instituir nos próximos anos os 7 objectivos ou pilares definidos pela Região em 2022 para serem atingidos em 2025 e que são: aumentar progressivamente o nível de certificação e o peso do volume de vinho exportado relativamente ao volume total da Região; definir os nossos mercados estratégicos de exportação para o período e focar investimento nos mesmos com vista a melhorar eficácia e maximizar resultados e focar em acções quer no mercado interno quer externo que aumentem o reconhecimento e notoriedade da Região e dos seus vinhos junto dos Prescritores de compra e Consumidores a fim de criar melhores condições para a sua venda. 

Queremos, igualmente, incrementar a utilização de processos digitais nas futuras actividades de marketing, comunicação e vendas a par das acções chamadas tradicionais e colocar os valores da Sustentabilidade, da conservação da natureza e do bem-estar do planeta e do Consumidor como objectivos prioritários da Região. 

Que mensagem quer deixar para os produtores nestes 25 anos da CVR Tejo?

25 anos parece muito tempo, mas não é. 25 anos é o atingir duma idade mais adulta numa pessoa, mas também numa Instituição como é o caso da CVR do Tejo. Aos 25 anos, as ideias são mais fundamentadas e alicerçadas e não são apenas sonhos. Podemos agora, por isso, planear os próximos anos que temos pela frente, assentes numa base muito mais sólida e enfrentar melhor os desafios que aparecerem no nosso caminho e, pelos vistos, devem bastantes, como já falámos atrás.

É fundamental que a Região se mantenha unida como tem estado até agora. Os nossos produtores já demonstraram de que fibra são feitos e que sabem trabalhar em equipa o que tem sido muito benéfico para todos e assim deverá continuar a acontecer. 

Aproveito para convidar todos a estarem presentes na ‘1ªADIAFA DO TEJO’, uma festa ‘campera’ que se vai realizar junto a Valada (no SóRio) no próximo dia 24 deste mês das 16h00 ás 21h00, que está aberta a todos, Pais e Filhos, e durante a qual se vai comemorar os 25 anos da CVR do Tejo. Haverá animação diversa, música ao vivo, provas de vinhos do Tejo e actividades lúdicas e desportivas também para os mais novos.

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