Virgínia Esteves está na ‘short list’ da Microsoft, que a distinguiu como “Innovative Educator Expert”, um certificado de reconhecimento aos professores mais inovadores do mundo na introdução das novas tecnologias no contexto da sala de aula. Entre os critérios definidos para a atribuição do certificado de professor inovador da Microsoft, está a introdução de práticas pedagógicas inovadoras e a utilização da tecnologia para o reforço das competências dos alunos numa era global e digitalizada. Nestes tempos incomuns, o “trabalho colaborativo entre colegas”, tem sido a chave para que “o processo educativo e a vida continue”

Como é que a Escola (ensino público) respondeu à interrupção do ano lectivo?
Com a interrupção do ano lectivo a escola pública, tal como outras instituições, teve de se adaptar à situação que vivemos, tendo sempre em mente o seu objectivo principal, a formação dos alunos.
O problema já se avistava no horizonte e as Direcções dos Agrupamentos já tinham sido alertadas, pelo Ministério da Educação, para a possível necessidade de implementar o ensino à distância.
E é claro, o dia chegou! Chegou à escola e à comunidade em geral, algo que todos temíamos. E face a uma situação, nunca antes vivida, o estar preparado é relativo, ninguém estava realmente preparado.
Contudo, os professores, tal como muitos outros profissionais, estão a adaptar-se e a dar o seu melhor contributo para que os seus alunos continuem o seu processo educativo e para que a vida continue em tempo de crise.

Os docentes estão preparados para esta mudança? Existiu um plano concertado?
Os docentes estão habituados à mudança, felizmente não por motivos como o que agora enfrentamos, mas muitas mudanças já ocorreram na carreira de um professor, mesmo daqueles que ainda não conseguiram integrar a carreira docente propriamente dita.
Há sempre resistência à mudança, não é um processo fácil, mas esta mudança é diferente de todas as outras, mais do que nunca há vontade em contribuir para a causa, acreditamos que “Vamos ficar todos bem”, neste momento o nosso contributo é continuar a ensinar os nossos alunos de uma nova forma. E acreditem que estamos a conseguir.
Desde do inicio que as escolas se organizaram, criando um plano concertado de apoio ao ensino à distância, nomeadamente, formando equipas de apoio a todos os professores que necessitam de suporte para ministrarem esta modalidade de ensino, realizando tutoriais, organizando formações online e ainda o trabalho colaborativo entre colegas, partilhando e aprendendo uns com os outros.
Gostaria de referir que em relação a outros países da Europa os professores portugueses revelam possuir mais competências digitais e um número significativo de docentes já utiliza, na sua prática lectiva, a tecnologia, nas aulas ou no acompanhamento e feedback aos alunos, estando, deste modo, já familiarizados com esta forma de ensinar. Para estes docentes este processo está certamente a ser muito mais fácil, os outros estão a dar o seu melhor para o acompanhar.
Em relação ao Agrupamento de Escolas José Relvas, Alpiarça, onde sou professora do Quadro de Agrupamento, posso dizer que há vários docentes que possuem competências digitais que lhes permitem, sem qualquer problema, operacionalizarem modelos de ensino à distância. O Agrupamento integrou o projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular no ano lectivo 2018/2019 e no presente ano lectivo obteve aprovação do Plano de Inovação, sendo um dos 78 Planos de Inovação aprovados a nível nacional.
Estou certa de que todo este percurso preparou melhor os professores, que manifestaram interesse em seguir os novos desafios, para o cenário actual do ensino à distância. Os agrupamentos que estão actualmente a implementar um Plano de Inovação terão, certamente, reunidas mais condições para enfrentarem a mudança e professores melhor preparados e com mais confiança.

Como é que, em concreto, estão a trabalhar com os alunos, ou os docentes limitam-se a enviar trabalhos remotamente?
Nem todos os docentes estão a trabalhar da mesma forma, nem todos os alunos estão a frequentar o mesmo nível de ensino, há abordagens diferente para diferentes disciplinas, mas tenho a certeza, que todos estão a dar o seu melhor, a ensinar ao mesmo tempo que aprendem, num processo que passou de pequena para grande escala.
Os professores estão a usar diferentes plataformas digitais de aprendizagem o Microsoft Teams, para a realização de sessões síncronas, onde os alunos e professor podem interagir como de uma verdadeira aula se tratasse e que mais tarde podem transformar em sessões assíncronas, revendo o vídeo para consolidar conteúdos e realizar aprendizagens; o Moodle, onde se disponibilizam recursos, marcam presenças e se comunica com os alunos; a plataforma eTwinning, onde se continuam a realizar tarefas no âmbito de projectos com parceiros Europeus e não só, muitas delas integradas no currículo de várias disciplina; o Skype, o Zoom e outras, aplicações, que permitem a conversação e a visualização dos participantes nas sessões, entre outras formas de ministrar esta modalidade de ensino/aprendizagem. O facto de não existir um modelo único, para este tipo de ensino, permite aos alunos o contacto com diferentes formas de aprender, desenvolvendo as suas competências digitais, fundamentais para os desafios do século XXI, tendo como exemplo prático o ensino à distância que neste momento nos é tão útil.

E as infraestruturas tecnológicas existentes estão preparadas para acessos em massa por parte dos utilizadores?
As infraestruturas tecnológicas, até ao momento, mostraram-se à altura, as aulas online estão a decorrer com normalidade, não havendo grande problema em aceder à Internet, nem grandes quebras na emissão. Contudo, nem todos os professores e alunos terão acesso aos melhores recursos, situação que deverá ser acautelada para que este modelo de ensino seja efectivo.
O facto de alguns alunos não terem acesso à Internet ou não possuírem dispositivos moveis faz com que haja diferenças, não lhes permitindo a mesma forma de acesso à aprendizagem. Todos sabemos que dentro e fora da sala de aula também existem diferenças no que se refere à aprendizagem. Compete-nos identificar os casos e fazer algo para que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades, promovendo a educação inclusiva propriamente dita.
Neste sentido, foi feito pelos agrupamentos o levantamento dos alunos sem acesso à Internet e sem equipamentos informáticos, articulando com outras instituições locais de forma a encontrarem soluções para esta realidade. Não sendo uma situação de curta duração, acredito que no início do 3º período estarão reunidas algumas soluções para este problema.

A implementação do ensino à distância em larga escala é possível no País?
Claro que é possível e arrisco em afirmar que neste momento é uma realidade, este modelo de ensino está a ser implementado. Com esta situação é a única forma de continuar a ensinar e de continuar a aprender com supervisão do professor. Como já referi anteriormente o único senão é mesmo o de não chegar a todos os alunos. É esta a parte que temos de solucionar.
No final do pesadelo, podemos analisar como correram as coisas, reflectir, avaliar, concluir e melhorar. Neste momento estamos todos a aprender, na educação e em todas as outras áreas.

O Governo sugeriu que os correios entregassem TPC a alunos sem Internet. É uma opção viável?
É uma opção, mas para mim, não é a mais viável. As aulas online, nada têm a ver com a entrega de TPC em formato papel.
A Internet permite a interacção de alunos e professor e alunos/alunos, a explicação de conteúdos, a aplicação antes da consolidação, a oralidade, a participação, a interajuda entre pares. Os TPCs ou outas tarefas são apenas uma parte no processo do ensino/aprendizagem, os alunos não teriam as mesmas oportunidades para aprenderem.
Há necessidade de identificar os alunos que não possuem recursos e tentar arranjar maneira para que os possam ter de forma a acompanharem, como todos os outros, as aulas online e de terem possibilidade de interagirem com o professor e com os colegas.
A educação inclusiva deve dar a todos os alunos as mesmas oportunidades para aprender.

Que soluções estão equacionadas caso a interrupção escolar se prolongue no tempo?
Penso que muitos alunos e professores sentiram que a sexta-feira 13 de Março, seria o último dia do ano lectivo 2019/2020 e desta forma as direcções dos agrupamentos formaram equipas de apoio ao ensino à distância, criaram tutoriais de utilização de plataformas e formação online para que os docentes estejam cada vez melhor preparados para a situação actual e o futuro que se avizinha. Os professores estão preparados para concluírem o ano lectivo através do ensino à distância.
Penso que a maior preocupação dos professores, tem a ver com os alunos que frequentam o último ano do ensino secundário, o 12º ano, pois ainda não sabemos nada sobre como irão decorrer os exames que permitem o ingresso dos nossos alunos no ensino superior. Contudo, haverá certamente uma solução e já se fala em realização dos exames apenas em Setembro. Vamos aguardar por mais informações. Neste momento há algo mais importante que temos de combater, cada um de nós fica em casa, cuidamos de todos, fazemos a nossa parte para o bem de todos e o melhor que sabemos.

Existe alguma estratégia para apoiar os alunos com NEE?
As medidas de suporte à aprendizagem e inclusão têm como objectivo a adequação às necessidade e potencialidades de cada aluno, promovendo a igualdade de oportunidades no processo educativo, neste sentido, todos os alunos se integram nas estratégias dos agrupamentos e tal como na sala de aula, também nesta modalidade de ensino, possuem as suas actividades especificas para que possam continuar o seu processo de aprendizagem.
Alguns deles, tal como na sala de aula, são acompanhados por docentes especializados em Educação Especial, para além do professor da disciplina, que colaborativamente preparam e acompanham as actividades.

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