Já lá vai quase um ano, um ano de guerra na Ucrânia, desde que duas famílias de refugiados se mudaram para Ourém, onde encontraram um porto seguro. Mas não veem a hora de regressar ao seu país.
“Espero que a guerra acabe para regressarmos”, afirmou à agência Lusa Alina Moskaliuk, agora com 27 anos, mãe de uma menina, de um ano e 11 meses.
Em 03 março de 2022, Alina e a filha chegaram a Ourém, no mesmo carro em que estavam também a irmã Viktoria Forostianyi (mais o marido, Andrei, e os dois filhos menores de ambos), após uma viagem iniciada em 25 de fevereiro, na cidade ucraniana de Shargorod, que prosseguiu pela Moldova, Roménia, Hungria, Eslováquia, Áustria, Itália, França e Espanha, até chegarem a Portugal.
Na cidade de Ourém, distrito de Santarém, esperava-os Karina, irmã de Alina e Viktoria, e o marido, Artem Ratushnyy, na casa de quem ficaram transitoriamente.
Um ano volvido, Viktoria, de 30 anos, está a “tentar acostumar-se”. Ainda não tirou o azul e amarelo (as cores da bandeira ucraniana das unhas), que exibiu com um largo sorriso, que deu lugar às lágrimas assim que “regressou” à terra Natal e recordou o avô, de 82 anos, que lá ficou.
“Gosto muito de Portugal, estou a pensar no nosso possível futuro aqui, mas, quando a guerra acabar, a primeira coisa que vamos fazer é ir para casa”, garantiu, justificando: “As pessoas tinham uma vida lá”.
O marido de Viktoria, Andrei, motorista de 30 anos a trabalhar para uma empresa dos Países Baixos, completou: “Se todos os países fizerem o que dizem… Precisamos de mais ações e menos conversa”.
As duas famílias vivem num apartamento T3, onde estão cinco adultos (entretanto chegaram o marido de Alina e a mãe de Andrei) e três crianças, mas esperam que, entretanto, uma das famílias se instale noutra habitação.
Militar, o marido de Alina conseguiu uma licença para cuidar dos pais que têm problemas de saúde e está temporariamente em Portugal.
“A cidade é bonita, não é grande, mas tem tudo”, adiantou Alina, assumindo que a maior dificuldade é a língua portuguesa, que tem sido um obstáculo para encontrar trabalho, apesar de uma aplicação para telemóvel e de uma amiga ajudarem na aprendizagem.
“Há ensino de Português à noite, mas com crianças é difícil”, referiu, assumindo ter medo pela família e amigos que ficaram na Ucrânia.
Dos portugueses, Viktoria afirmou serem simpáticos, mas não esquece que uma vizinha já lhe disse para regressar.
As duas famílias recebem apoios para a renda de casa e foram agora informados de que os da Segurança Social “vão ser reduzidos”. Da Câmara de Ourém, assinalam a ajuda recebida e o aviso de que se precisarem de alguma coisa as portas estão abertas.
Viktoria, como há cerca de um ano dizia à Lusa, continua a acreditar que a guerra vai escrever-se com uma vitória para o seu país, deixando um derradeiro apelo: “Não esqueçam a Ucrânia, ajudem a Ucrânia. Não é uma guerra na Ucrânia, é uma guerra no mundo”.
A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados das Nações Unidas (ONU), que classificam esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A ONU apresentou como confirmados, desde o início da guerra, 7.155 civis mortos e 11.662 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.