A paróquia de Alcanede, freguesia do concelho de Santarém, realiza no próximo domingo uma missa ‘drive in’, forma que encontrou para não privar do culto os mais vulneráveis e permitir que os fieis se saúdem sem correrem riscos.
“As eucaristias abertas à comunidade regressam no próximo fim-de-semana. No entanto, com as várias recomendações anunciadas pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) dentro do contexto da pandemia provocada pelo novo coronavírus (COVID-19), a Paróquia de Alcanede decidiu que a Missa de Pentecostes, já no próximo domingo, 31 de Maio, será realizada através do sistema ‘drive in'”, afirma uma nota da paróquia divulgada através do Portal de Alcanede.
António Vicente Gaspar, padre da paróquia, disse à Lusa que, para cumprir as regras, só poderia acolher na igreja da vila 17 pessoas, o que obrigaria a escolher entre fieis, o que não queria.
Reunido com os colaboradores mais próximos, o pároco decidiu fazer “uma missa campal”, sendo que, dadas as limitações provocadas pela pandemia, a presença no Largo da Feira só será possível dentro do automóvel, para o que contará com a ajuda de elementos dos Bombeiros Voluntários de Alcanede, que organizarão o estacionamento.
“Assim, as pessoas vulneráveis, que seriam as que se veriam mais privadas, podem assistir à Eucaristia acompanhadas só pela família habitual, sendo o carro como uma máscara grande, que garante que não há contactos”, com a vantagem de que “as pessoas finalmente se podem saudar, nem que seja com uma buzinadela”, disse.
A missa irá decorrer ao final da tarde de domingo, no Largo da Feira, inspirada no conceito de ‘drive in’, originário dos Estados Unidos da América e que, com a obrigação de confinamento e distanciamento social imposto pela pandemia, tem vindo a ser adoptado em vários eventos, por permitir a participação das pessoas sem que estas saiam das viaturas.
Desde o início do mês que a paróquia tem vindo a transmitir diariamente, através da sua página de Facebook, o Terço, dinamizado por paroquianos que se organizam.
“Tem tido uma adesão incrível, que ultrapassa o que era a participação habitual [na igreja]. Este é um caminho novo, muito interessante, pela rede de comunhão, de solidariedade, que tem gerado”, disse.
A ideia de procurar formas de chegar junto dos fieis começou por altura da Páscoa, em pleno período de confinamento, quando António Vicente decidiu colocar a imagem de Nossa Senhora em cima de uma carrinha e, com um carro dos bombeiros à frente, percorreu toda a freguesia.
“Nesse dia percorri quase 200 quilómetros e andei 12 horas no carro a correr cada rua e cada beco. As pessoas vinham às portas, às varandas. Percebi como as pessoas estavam carentes”, disse, contando como se emocionou quando chegou com a carrinha ao largo do lar da Misericórdia e viu os idosos colados aos vidros, a mandar beijos, a acenar com lenços brancos, alguns a chorar.
Percebendo como as pessoas “estavam carentes” e incentivado pelos militares da GNR, pelo efeito que a iniciativa teve junto de pessoas que estavam “com muito medo” e ansiosas, a paróquia avançou para um modelo de”transição”, porque as pessoas perceberam que vivem “um tempo diferente”.
“São pequenos mimos que ajudam a manter viva a fé e a levar ânimo”, afirmou.
Entre as iniciativas que a paróquia está a desenvolver contam-se ainda pequenas entrevistas, histórias de vida, a residentes da freguesia que são publicadas na página do Facebook, havendo ainda vários projectos do grupo de jovens criado recentemente com o objectivo de responder aos desafios lançados pelo papa Francisco na encíclica Laudato Si.
António Vicente realçou como tem recebido apoio técnico gratuito para poder fazer as emissões ‘online’ e para instalar o equipamento de som que irá permitir realizar a missa ‘drive in’ no domingo, mesmo quando são pessoas que estão a atravessar algumas dificuldades pela redução de rendimentos.